Primeiro fim-de-semana, mesmo alargado, não teve carros, mas também não teve pessoas nas praias devido ao tempo frio. Grupo “Praia na Praça” diz que corte do trânsito entre a Figueirinha e o Creiro e cobrança de estacionamento limitam o acesso às praias e Câmara Municipal responde que a medida é necessária para garantir segurança e respeito pelo ambiente. Protecção Civil concorda e Clube da Arrábida mostra-se vigilante
O grupo “Praia na Praça” criado na rede social Facebook está a promover uma manifestação popular contra as medidas do plano de mobilidade “Arrábida sem Carros”, para o próximo dia 10, das 10h30 às 11h30, em frente ao edifício dos Paços do Concelho, defendendo a “suspensão” das decisões já anunciadas e a “auscultação da população antes da implementação de quaisquer novas opções” por parte da Câmara Municipal, que no início deste ano assumiu um Acordo de Gestão para a Conservação e Operação de Troço da EN379-1, de acesso viário às praias, com a Infraestruturas de Portugal.
Em causa estão a proibição total do trânsito em automóvel particular nos dois sentidos entre o túnel da Figueirinha e o Creiro, das 07h00 às 20h00 – válida entre 31 de Maio e 16 de Setembro – e a tarifação, pela primeira vez, do estacionamento automóvel na praia Figueirinha. Medidas que, na opinião do grupo, vão “prejudicar o acesso dos setubalenses e azeitonenses às praias da Arrábida”, uma vez que se vêem privados de poder aceder às praias no automóvel particular, tendo de utilizar os percursos de autocarros criados este ano para assegurar o transporte dos banhistas, com todas as implicações que daí advêm para famílias, crianças e idosos, por exemplo.
“Não concordamos com as medidas escolhidas e pedimos para sermos ouvidos num processo que interfere amplamente com aquelas que são não só as nossas liberdades cidadãs mas também os nossos hábitos culturais e a nossa identidade local”, afirmam. Para dar voz ao “desconforto dos setubalenses” sobre esta matéria preparam-se então para marcar presença em frente aos Paços do Concelho, na Praça do Bocage, e incentivam quem se junte ao protesto a levar chinelos e toalha de praia como num “normal domingo de praia”.
O grupo está a reunir os contributos e sugestões dos seus membros no Facebook através do tópico #alternativaarrabida e pondera avançar, posteriormente, com uma apresentação formal de propostas de alteração das medidas junto do município. “Da parte da Câmara Municipal esperamos uma atitude de atenção e compreensão do nosso descontentamento que possa conduzir a um processo mais aberto, mais participado e, na nossa perspectiva, mais justo de tomada de medidas para resolver os problemas identificados”, afirmam.
Corte total do trânsito entre Figueirinha e Creiro
A decisão de cortar o trânsito no troço entre o túnel da Figueirinha e o Creiro foi tomada pela Câmara depois de constatar que “o perfil da EN 379-1, face à procura exponencial das praias de Setúbal verificada na época balnear 2017, não garante a segurança de circulação nos extensos períodos em que as bermas dos dois lados são ocupadas por estacionamento anárquico e ilegal. Além de impedir a circulação de transportes públicos quando existem carros dos dois lados, já que este estacionamento desregrado não permite o cruzamento de viaturas pesadas de transportes de passageiros que circulem em sentidos opostos, esta situação gera enorme insegurança, pois não garante, igualmente, a passagem de viaturas de emergência”.
O grupo de protesto concorda que “é de extrema importância” ordenar o tráfego e proteger a serra, mas discorda da proibição total do trânsito e sugere como solução “manter o estacionamento ao longo da estrada, apenas de um lado. Com a circulação num só sentido, entre as 9 e as 19 horas, por exemplo. Sendo o duplo sentido retomado fora deste horário”, lê-se numa publicação assinada por Paulo Pisco, um dos organizadores do grupo/protesto “Praia na Praça”, no Facebook.
A autarquia, porém, entende que “por muito que se proíba o estacionamento e que a circulação se faça apenas num sentido (como aconteceu até ao ano passado), há sempre quem inverta o sentido da marcha, criando enormes dificuldades”. E admite que “não existem as necessárias capacidades para fiscalizar, eficazmente, o estacionamento ilegal, as inversões de marcha e impedir que a estrada seja bloqueada”. No entanto, compromete-se a promover a “fiscalização do estacionamento ilegal pelas entidades competentes” e “a disciplina da circulação de viaturas fora das zonas identificadas” no Parque do Outão, Figueirinha e Creiro. Tudo com o objetivo de “assegurar a circulação de pessoas nas vias de acesso a estas praias em total segurança e com respeito pelo ambiente”.
A posição da Protecção Civil sustenta a medida tomada pela autarquia em prol da segurança dos automobilistas. Elísio Oliveira, Comandante Distrital de Protecção Civil de Setúbal, considera a medida “proactiva” e diz que “irá permitir que em qualquer caso de necessidade os meios de socorro possam passar”. “Se um incêndio chegar junto aos carros, independentemente de as pessoas saberem que é junto da água que está a sua segurança, elas vão tentar salvar o seu património”. “Era necessário fazer qualquer coisa para garantir a segurança de todas as pessoas que estão naquelas praias”, reforça.
O grupo “Praia na Praça” concorda com “a necessidade de se tomarem medidas que evitem o caos verificado nos últimos dois anos” e as situações de perigo que daí possam decorrer, mas vai mais longe e pede a presença “permanente” das forças de segurança para “vigiar” e “aconselhar todos os utentes das praias”. A presença de mais elementos da GNR naquela estrada tem sido, de resto, uma das principais reivindicações. Em Junho do ano passado a GNR multou 104 condutores, rebocou cinco carros e bloqueou outros seis na zona próxima das praias de Galapos e Galapinhos, depois de numa acção anterior (no feriado de dia 15) terem sido autuadas 40 viaturas.
Na praia da Figueirinha, este sábado, 02, foi bem visível a presença da GNR, especialmente nas cancelas que impedem a passagem do trânsito a partir do túnel (excepto a veículos autorizados, de duas rodas, autoridades, veículos de emergência e transportes públicos e escolares). Por não ter havido “permanência da GNR no local” e a sua presença ter sido “insuficiente” houve condições para acontecerem os abusos de estacionamento e infracções de trânsito que se conhecem, recorda por sua vez o presidente do Clube da Arrábida, notando que “quem vai para a Arrábida dificilmente abdica do carro”.
Pedro Vieira – que representa moradores, utentes, comerciantes e proprietários da zona do Portinho da Arrábida – prevê que o corte do trânsito vá “sobrecarregar” o estacionamento nas laterais da zona a partir da qual também é proibido circular de carro até ao Portinho da Arrábida. Como ponto positivo refere os serviços de minibus que fazem a ligação do topo dos acessos onde se deixam os carros às praias do Portinho e do Creiro. A posição do clube é, por isso, cautelosa sobre a forma como tudo irá funcionar: “vamos ver se há flexibilidade para a meio da época poder ajustar o plano consoante a pressão que houver na Arrábida”, diz.
Estacionamento pago na Figueirinha
Debaixo de fogo está também a tarifação do parque de estacionamento da praia da Figueirinha, que até hoje sempre foi gratuito e que a autarquia decidiu cobrar devido à “elevada pressão automóvel” que ali se verifica. O “Praia na Praça” também é contra esta cobrança, encarando-a como uma medida com propósitos lucrativos, e questionou a Câmara sobre “a relação do estacionamento pago com a segurança das praias”. “O valor das receitas resultante do estacionamento tarifado será canalizado para subsidiar mais, melhor, mais seguro e mais barato transporte público de acesso às praias, para as obras de melhoria destas zonas balneares e para melhores condições de segurança para todos os que as frequentam”, lê-se na resposta dada no documento a que o DIÁRIO DA REGIÃO teve acesso.
O Projecto de Regulamento Específico de Zonas de Estacionamento Controlado na Praia da Figueirinha, que prevê duas zonas de lugares de duração limitada, previa a existência de lugares privativos por 500 euros, mas essa proposta foi entretanto retirada. O regulamento foi aprovado na reunião pública de 17 de Maio, mas está em consulta pública para recolha de contributos e sugestões e será submetido a reunião de Câmara e à votação da Assembleia Municipal antes de entrar em vigor.
O estacionamento só começará a ser pago, com efeito, a partir de Julho e pode atingir os valores máximos de cinco euros por dia aos fins de semana e feriados na época baixa e até nove euros nos mesmos dias na época alta. A cobrança faz-se entre as 08h00 e as 19h00, sendo que fora desse horário as cancelas continuam fechadas e continua a ser necessário retirar ticket, mas sem pagamento. Motociclos, ciclomotores e velocípedes terão lugares próprios e gratuitos, tal como os cidadãos com mobilidade reduzida.
Autocarros e parques de estacionamento
Quem quiser estender a toalha em qualquer uma das praias entre o Portinho da Arrábida e a Figueirinha (acessíveis por troços com trânsito proibido) terá de apanhar o autocarro gratuito que faz a ligação entre todas as praias a cada 20 minutos. Para levar e estacionar o carro perto só há duas opções: um estacionamento de 200 lugares no Creiro (pago a três euros) e outro de 250 na Figueirinha. Quem não quiser pagar estacionamento tem à disposição três percursos de autocarro a partir de Setúbal, todos a 4,10 euros (1,77 para bilhetes pré-comprados), e outro a partir de Brejos de Azeitão para o Creiro, a 4,70 euros.
“Os mais humildes não conseguem comportar gastos de 4,10€ ou 4,70€ por cada membro do seu agregado familiar”, alerta o grupo contestatário destas medidas. A Câmara Municipal responde que uma solução é deixar as pessoas na Figueirinha, estacionar o carro no parque da Secil, no Outão, apanhar o vaivém até à Figueirinha (custa um euro) e aí apanhar o outro vaivém gratuito entre praias. Consulte a caixa para ver os percursos e periodicidade de todos os autocarros.
“O transporte público, seja de autocarro (ou mesmo de barco) tem de aumentar” em frequência e em número, diz um dos organizadores do protesto “Praia na Praça”, para que os autocarros sejam “mais atractivos e acessíveis a todos” também a nível de preço, com a criação de passes individuais, familiares e semanais, por exemplo. A autarquia esclarece que as tarifas praticadas são “determinadas pelo operador de transportes públicos de acordo com o Despacho do Instituto de Mobilidade e Transportes”, e não por decisão municipal ou pela TST.
As praias da Serra da Arrábida são procuradas anualmente por 350 mil pessoas, diz a Câmara Municipal de Setúbal.
Autocarros TST: percursos, frequência e preço
Existem sete percursos de autocarro para transportar os veraneantes nas praias da Arrábida, com passagens por cinco parques de estacionamento com um total de 1690 lugares distribuídos pelo C.C. Alegro (600; gratuito); Várzea (200; gratuito); Secil (300; gratuito); Figueirinha (250; pago) e Creiro (200; pago).
- 722. Parque de estacionamento da Secil e Praia da Figueirinha (a cada 20 min.; 1 euro)
- 723. Estação rodoviária (Av. 5 de Outubro) e Praia da Figueirinha (a cada 30 min.; 4,10 euros)
- 723A. Estação ferroviária (Praça do Brasil) e Praia da Figueirinha (a cada 60 min.; 4,10 euros)
- 725. Centro Comercial Alegro Setúbal e Praia da Figueirinha (a cada hora; 4,10 euros)
- 726. Casa da Baía (Av. Luísa Todi) e Praia de Albarquel (a cada hora.; 1,40 euros)
- 727. Brejos de Azeitão (Brejoeira) e Creiro (a cada duas horas; 4,70 euros)
- Vaivém. Praia da Figueirinha e Creiro (a cada 20 minutos; gratuito)