Como utente diário da Transtejo da ligação Montijo/Lisboa identifico as últimas semanas como caóticas quanto ao serviço fluvial que a empresa pública deveria prestar. Gostava mesmo de dizer que a degradação do serviço tinha atingido o seu limite. Mas a experiência tem-me ensinado que podemos sempre esperar pior da Transtejo… As comunidades de Montijo, Seixal, Barreiro, Almada e Lisboa, de forma alternada ou em sincronia, todas sentem na pele as constantes falhas no transporte fluvial no rio Tejo. As mesmas surgem sem pré-aviso da Transtejo e/ou Soflusa e sem qualquer solução alternativa eficaz para os utentes.
Nunca será demais relembrar a importância dos transportes públicos na mobilidade da população, nomeadamente na garantia dos movimentos pendulares. Os transportes públicos são fundamentais para a sustentação da atividade económica. As falhas no serviço de transporte retiram capital de trabalho às empresas e desmotiva os trabalhadores. Mas também atingem os estudantes e os reformados. Os primeiros pela necessidade de se deslocarem para estudar, quer para as suas escolas e faculdades, quer para locais que necessitem de visitar. Os segundos pelas deslocações muitas vezes associadas à saúde e mesmo por lazer ou familiares.
Numa época em que o uso do transporte coletivo em detrimento do transporte individual mais que uma opção é uma urgência, para podermos diminuir os Gases de Efeito de Estufa e travar o aquecimento global, a Transtejo e Soflusa continuam a prestar um péssimo serviço. Desta forma dificilmente convencerão quem tiver uma opção ao transporte fluvial. E convém evidenciar que a ligação fluvial no estuário do Tejo é a quarta mais movimentada a nível mundial, com quase 75 mil passageiros diários. Tendo em conta a saturação das vias rodoviárias e ferroviária entre as duas margens, depressa chegamos à conclusão que o transporte fluvial é o único atualmente com capacidade de crescimento. O futuro passará obrigatoriamente por aqui.
Do que se vai sabendo, a Administração da Transtejo identifica sempre a falta de verbas como o principal obstáculo a que o plano de manutenção dos navios decorra de forma eficiente. Para além disso, também estarão dependentes de financiamento para a necessária renovação da frota. Assim, tem toda pertinência a iniciativa conjunta das Comissões de Utentes do Cais do Seixalinho (Montijo), dos Transportes do Seixal e dos Serviços Públicos do Barreiro, para a realização de uma marcha organizada até a Ministério das Finanças. Porque, no fundo, é aí que se decide sobre as necessidades de financiamento, pese embora a Transtejo e Soflusa estarem debaixo da alçada do Ministério do Ambiente.
Considero que os utentes não devem assistir impávidos e serenos à degradação do transporte fluvial. As passadas semanas não se podem repetir. Mas se nada fizermos, se não pressionarmos os decisores e executantes, a rutura total do serviço fluvial poderá ser uma realidade. Pessoalmente não pretendo chegar a uma situação em que as lacunas sejam a normalidade. Onde os utentes terão de inquirir, no dia anterior ou próprio dia, se terão ligação fluvial que garanta a sua mobilidade. Renuncio este novo normal que já se vai passando um pouco nas redes sociais, onde utentes perguntam se há barco amanhã ou como estão os barcos hoje. Como se consultassem uma qualquer previsão meteorológica, para se precaverem em terra antes de se fazerem ao mar.
Por isso (e por muito mais que haveria a dizer) estarei presente na marcha “Navegar É Preciso!”. Faça chuva ou faça sol. Porque navegar não só é preciso, como é essencial.