São 06:30h, toca o despertador. Maria acorda com a sensação de que dormiu apenas uma ou duas horas. A reunião do conselho pedagógico prolongara-se, passou a correr pelo supermercado para comprar o jantar. Chegara a casa, o filho agarrara-se-lhe ao pescoço: «mãe, vieste tão tarde!». Levanta-se de imediato. Tem de se arranjar, acordar o filho, vesti-lo, deixá-lo à porta da escola, estar na sala de aula às 08:15h. Chega, ainda faltam 10m para o toque de entrada. A colega de Matemática alerta: «a Leonor, da tua direção de turma, anda com um comportamento muito estranho: sempre distraída e pronta para distrair os outros.» A conversa prolonga-se por alguns minutos. Toca a campainha… Já na sala de aula, alguns alunos rodeiam-na: «Stôra, a minha mãe não pode vir à escola na hora de atendimento, pode recebê-la outro dia?»; «Stôra, não pude fazer o t.p.c. porque estive com febre»; «Stôra, ontem , um aluno do 9.º ano bateu-me»; «Stôra…» – Após mandar recado ao Encarregado de Educação de Leonor, Maria inicia a aula. Pouco depois, o Pedro risca o manual da colega do lado, o que provoca uma interrupção. Calmamente, com nervos de aço, a professora continua a circular pela sala de aula, dando indicações, orientando, apoiando, motivando, este aluno, aquele grupo. Os cinquenta minutos passam a correr. Informa os alunos que os trabalhos de grupo continuarão a ser desenvolvidos na próxima aula. O porta voz de um dos grupos dita o sumário que a docente escreve no quadro, após algumas correções sugeridas por outros grupos. Toca a campainha, Maria dirige-se à sala de professores. Ouve outra colega: «não te esqueças do relatório para a Comissão de Proteção de Menores!» A funcionária da receção informa que um encarregado de educação precisa de falar com ela urgentemente; o coordenador recorda que não se pode esquecer de analisar o documento «Aprendizagens Essenciais» para ser discutido na próxima reunião de departamento, a qual se realizará no dia seguinte. E as faltas dos alunos? Não pode permitir que algum deles ultrapasse o limite imposto por lei, sem que avise o respetivo encarregado de educação. Enquanto se dirige à receção, organiza mentalmente o trabalho de casa: analisar o documento como lhe recordou o seu coordenador; elaborar o teste que marcou para a próxima semana. Come apressadamente a sandes que levou de casa, acompanhada de um café tirado da máquina instalada na sala de professores. Ouve-se o toque de entrada, regressa à sala de aula. E assim sucessivamente, até às 16:15h, com intervalo de 45 minutos para almoço.
Sai da escola, cerca das 17:30 h, após ter terminado o registo de faltas da semana e ter avisado os encarregados de educação. Passa a correr pelo hipermercado, chega a casa, faz o jantar, enquanto o marido ajuda o filho a fazer os trabalhos de casa, o que só acontece à quarta-feira e ao fim de semana, pois está colocado a cerca de 150km de distância de casa. Os dois deitam o filho. Maria procura na pasta o documento entregue pelo coordenador na última reunião. Lê-o. Sublinha as ideias principais, à margem regista as suas dúvidas, as suas opiniões. Comenta com o marido: «mais uma reforma que será abandonada assim que mudar o ministro da educação.» Lembra-se de ouvir um colega comentar na sala de professores que à noite teria lugar um debate sobre o ensino num canal de televisão. Já passa da meia noite. Liga o aparelho, o programa está prestes a terminar, mas ainda ouve: «os professores deviam cumprir um horário de 40 horas como outros funcionários públicos.» Desabafa com o marido: «quem me dera!» Desliga a televisão. Regressa ao computador, é preciso elaborar o teste.