Com cinquenta anos de voto

Com cinquenta anos de voto

Com cinquenta anos de voto

19 Março 2024, Terça-feira
António Guerreiro

A revolução faz cinquenta anos, eu, mais dez. E toda a minha vida adulta decorreu após a grande mudança de regime e como tal, as memorias que guardo sobre a ditadura, são mais herdadas do que vividas. É portando nelas e no conhecimento empírico daqueles que a viveram e a sentiram na pele, que sobre a sua opressão, desigualdade social e obscurantismo judicial, eu, fundamento a minha opinião. Se antes dela, a revolução, quem fosse contra o regime só poderia ser comunista e, portanto, “comer criancinhas” e só despir o fato de macaco ao domingo. Traz-me essa memoria herdade e já misturada com a pouco clara de adolescente, um breve tempo após a mesma, em que no reverso, era fascista a expulsar ou a prender, todo aquele que a sua grande empresa, exploração agrícola ou apenas mera loja de bairro, não quisesse transformar em cooperativa, ou, dos empregados fazer sócios.

E se os havia! Cá nascidos e economicamente engordados, com o esforço e trabalho mal pago do nosso povo. Grandes latifundiários, empresários capitalistas do regime, banqueiros sem escrúpulos ou limites, financiadores de uma guerra e exploração de outros povos a que chamavam colonias. Realidades ditatoriais, de um regime abanado a 16 de Março, para cair a 25 de Abril de 1974, sob as botas de meia dúzia de militares e em nome de um povo, que: “unido jamais seria vencido”. Pois chegara a Democracia! E tendo o voto na mão; ela nunca se perderia!

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Meio seculo depois, unido, o povo não tendo sido vencido, vê o voto manipulado, olha o mundo á sua volta e sente-se enganado. Confiando e esquecendo, que há lobos entre o rebanho. O poder ganhou cores, fações e ideais, o país abriu-se á globalização e o parte e reparte, fez alguns ganhar a maior parte. E se o estado novo, velho vencido, tinha os seus e os enriquecia. Não a servindo, a Democracia, mas servindo-se dela, revelam-se agora frente ás mansões e ao volante do seu Ferrari, ou na porta dos tribunais alegando inocência, quando a coisa fede, os novos capitalistas, com outro nome e cartão de militante, de este ou aquele partido, que elevam a um poder permeável que querem “chular”.

É estupido, fruto de enorme ignorância incompreensível, desprezo pela experiência vivida e num tempo de total informação, querer negar o muito que ela nos trouxe. Em justiça social, direitos civis e laborais, e saúde, demorada, mas de portas abertas, igualdade e liberdade de poder, fazer e falar. Quase tão estupido como aceitar, enquanto nos prometem migalhas que reunimos no fim do mês, que ganhar cem vezes mais é igualdade democrática. Que cobrar muito pelo deles e pouco pelo nosso, é por os bancos a ajudar o povo e só porque os importámos e o produto pode ser outro, mas no mesmo sítio, a exploração feita e a miséria paga pelos novos latifundiários, é agora democrática.

Que o voto por si só, não é garantia, basta olhar o mundo para o perceber. Importante a responsabilidade do mesmo, que nos desperte das falsas intenções e bonitas promessas, que tal como antes, com fado, Fátima e futebol, nos embalam hoje alguns políticos de oportunidade. Nesta idade madura, de uma Democracia que se quer consciente, é nossa a liberdade de escolha, é nossa a responsabilidade da mesma e é tempo de aprendermos, eleição atrás de eleição, a onde, o que escondem e como evitar, os buracos que as mesmas nos estendem. E alguns, afiguram-se bem grandes!

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