Pensar Setúbal: O Auditório do Largo José Afonso

Pensar Setúbal: O Auditório do Largo José Afonso

Pensar Setúbal: O Auditório do Largo José Afonso

, Professor
19 Fevereiro 2024, Segunda-feira
Professor

Não é primeira vez, nem será seguramente a última, que, nas minhas crónicas semanais, teço apreciações relativamente à inoportunidade da construção do auditório do largo José Afonso, que custou cerca 4,5 milhões de euros.
Quanto a mim, representa um exemplo típico de vulgaridade urbana.
Um dos supostos argumentos invocados é que tinha sido projectado por Manuel Salgado, um dos mais prestigiados arquitectos portugueses.
Indiscutível, portanto.
Quando deixamos de parte o bom senso, as noções básicas de acústica, de disposição correcta de bancadas, de conforto, e vamos atrás de pretensos visionários, arautos de uma suposta modernidade e que nos impingem estas construções, estamos conversados.
Os anfiteatros romanos, construídos há mais de 2000 anos, constituem magníficos exemplos de como devem ser edificadas estruturas desta natureza
Pelo contrário, o Auditório do Largo José Afonso não passa de um mamarracho horrível, medonho, mastodôntico, agressivo, mal concebido, desproporcionado, sem acústica, desconfortável, ventoso, caríssimo, ocupa um espaço enorme e é basicamente inútil; como estrutura recreativa deixa tudo a desejar.
Há alguns anos, a Orquestra de Verão interpretaria várias músicas clássicas, sob a direcção do maestro António Victorino d’Almeida, no auditório. Digo interpretaria, porque não chegaram a interpretar nada, em virtude do vento que se fez sentir nessa noite, partituras a voar por todo o lado e que inviabilizou o concerto.
Apesar dos esforços meritórios do maestro António Victorino d’ Almeida em proporcionar-nos uns improvisos ao piano, o que é certo é que a Orquestra não passou por Setúbal.
Este auditório não deve ser analisado meramente como estrutura recreativa, mas enquadrado em algo mais complexo.
Dito de outra forma: o objectivo principal da sua construção não foi proporcionar aos setubalenses um palco para se efectuarem espectáculos.
Foi outro totalmente diferente; o de tentar inviabilizar qualquer regresso da Feira de Santiago.
Aquando da infeliz intervenção do Polis na Av. Luísa Todi, o objectivo era claro: Acabar com a Feira de Santiago nesse local.
Para a sua concretização foram delineadas várias intervenções, tais como a construção do auditório, a demolição da Rotunda dos Golfinhos, a construção da ciclovia, das três quadrúngulas (que teimam em persistir contra todas as evidências rodoviárias), os bares na zona central, o estacionamento da zona poente (onde estavam as louças).
Na Av. Luísa Todi, ainda se tentou que a circulação rodoviária em ambos os sentidos fosse efectuada somente pelo troço Sul (o do Mercado), eliminando-se o troço Norte (o da estátua de Luísa Todi), não tendo sido esse objectivo felizmente concretizado.
Tentou-se também que a Av. José Mourinho também tivesse um só sentido, estreitou-se a via, retiraram-se as divisórias em pedra calcária (ainda estão presentes junto à lota) e de facto funcionou assim durante algum tempo com semáforos e tudo.
Parece que essa decisão de um só sentido contrariava outra decidida anteriormente, e então: toca a retirar semáforos e a voltar às duas faixas. Felizmente.
Regressemos ao auditório. Em conversa com uma pessoa ligada à Câmara Municipal de Setúbal, parece se pretende reconverter o auditório, aproveitando a estrutura existente e torná-la num espaço diferente e completamente fechado.
A ser verdade, constitui uma excelente ideia e um significativo salto em frente numa cidade onde existe escassez de espaços culturais de maiores dimensões.
A Associação Setúbal Voz a que pertenço é presença regular do Festival de Canto Lírico de Guimarães.
Sabendo-se que Setúbal teve o seu Festival de Canto Lírico, cuja primeira edição decorreu entre 9 e 20 de Janeiro de 2024, graças à feliz parceria entre a Câmara Municipal de Setúbal e a Associação Setúbal Voz, a existência de espaços condignos e adequados (por exemplo, o Fórum Luísa Todi tem fosso para colocar uma orquestra, mas está inoperacional por motivos técnicos), começa a ser um imperativo.
No meio destas observações e críticas, fica aqui uma palavra de muito apreço à Câmara Municipal de Setúbal, por aparentemente procurar corrigir o malfadado auditório e sobretudo pela magnífica decisão de promover um festival de canto lírico em Setúbal.

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