Duas, três, muitas…

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Duas, três, muitas…

, Deputada da IL
2 Fevereiro 2024, Sexta-feira

Um importante fator de alavancagem económica do distrito de Setúbal, seria o crescimento ou a vinda de novas grandes indústrias. Num momento pós-pandemia e de instabilidade nas cadeias logísticas mundiais, a reindustrialização da Europa, mais do que económica, é uma questão estratégica perante uma China cada vez mais competitiva.
Sendo o foco deste artigo a questão económica, recordo que aqui já referi a importância da grande indústria para o nosso distrito. Uma importância sustentada em números: no valor das suas exportações e do respetivo peso no PIB português, e uma importância histórica: considerando o impacto da industrialização da Península de Setúbal em meados do século passado, que gerou milhares de empregos e que permitiu a milhares de crianças, filhas desses trabalhadores, terem acesso a oportunidades que os pais não tiveram. Eu era criança, mas ainda me lembro do impacto da vinda da Autoeuropa. É impossível para alguém da minha geração, que tenha crescido no Seixal, no Barreiro ou em Palmela, não ter algum familiar ou pai/mãe de um amigo que tivesse ido trabalhar para a Autoeuropa e, com isso, melhorado significativamente a sua vida. Noutra escala, o mesmo se verificou com as famílias daqueles que, em Setúbal, foram trabalhar para a Navigator, ou antes, para a Setenave e, em Almada, para a Lisnave ou para a ENI, para dar alguns exemplos.
As grandes indústrias exportadoras criaram valor acrescentado, aportaram tecnologia, geraram oportunidades de carreira para uma nova mão de obra especializada e deram origem a toda uma cadeia de fornecedores (desde componentes a serviços diversos) que, por sua vez, replicaram o mesmo efeito em escalas menores. Os rendimentos de todas as pessoas empregadas na indústria, direta ou indiretamente, geraram novos espaços comerciais e de serviços, o que, por sua vez, originou novos empregos. Foi um autêntico ciclo de criação de riqueza e de emprego, que atirou para o baú das memórias a fome dos anos 80, mas que, infelizmente, não se repetiu mais.
Em reunião recente com a AISET – Associação da Indústria da Península de Setúbal, o crescimento da indústria no contexto da economia da Península de Setúbal, aproveitando-se, assim, as mais-valias proporcionadas pela sua localização e infraestruturas, foi apontado como uma necessidade para o desenvolvimento da região. O surgimento de novas grandes indústrias, aliadas à incorporação de tecnologia e ambientalmente sustentáveis, iria dinamizar a agenda exportadora da nossa economia e refazer todo o ciclo de geração de riqueza e de oportunidades que já referi e que, entretanto, se perdeu. Agora, para conseguirmos ter mais das grandes indústrias exportadoras, como a Autoeuropa ou a Navigator, é urgente a simplificação da burocracia. Não se pode estar anos à espera de um qualquer licenciamento, assim como não se pode ter uma justiça que demore anos a tomar uma decisão. É, igualmente, necessário dar aos jovens os incentivos necessários à frequência de formação especializada que lhes permitirá trabalhar nestas empresas. E ainda, entre outras medidas, ter melhores ligações ferroviárias ao porto de Setúbal para um escoamento mais célere da produção.
Se o Estado tem algum papel a fazer, é criar as condições para tornar a indústria atrativa e, em particular, para tornar a nossa região atrativa. Não o contrário.

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