Ricardo Crista nega plágio, mas admite “várias influências”. Marco Cianfanelli, autor da peça de Mandela, considera situação “lamentável”
O memorial a Zeca Afonso, inaugurado a 6 de Janeiro, continua envolto em polémica, desta feita com a obra feita por Ricardo Crista a ser comparada com o memorial de homenagem a Nelson Mandela, inaugurado em 2012, da autoria do artista sul-africano Marco Cianfanelli. O artista português garante que a sua obra não envolveu qualquer plágio, mas sim “várias influências”. Já Marco Cianfanelli considera que esta situação é “lamentável” e pondera avançar pela via legal.
Ricardo Crista, escultor responsável pelo memorial, na zona ribeirinha de Setúbal, desmente as acusações de plágio, que circulam nas redes sociais. “Gostaria de esclarecer que a minha inspiração para esta obra foi totalmente pessoal e não envolveu qualquer plágio, mas sim várias influências.”, afirma o artista.
Para Ricardo Crista a discussão em torno da originalidade na arte é um tema “complexo e fascinante”.
No entender do artista português encontram-se “inúmeros exemplos de semelhanças, apropriações e obras muitos similares principalmente a partir da época modernista”, dando exemplos de teóricos, artistas e pensadores contemporâneos que “fundamentam muito bem isso”.
“Eu dediquei-me para criar algo único e autêntico. E assim fiz”, assegura o artista, lamentando “determinadas mensagens pejorativas e sem conhecimento prévio, falta de contexto dedicam algum tempo no espaço cibernético com diálogos pouco construtivos”.
Ricardo Crista garante estar aberto a discutir ideias e levantar questões de forma “respeitosa”, pois acredita que “a definição de arte ainda não existe nem possivelmente irá existir.
“Se observarem, com olhos de ver as diferenças, desde conceptuais, técnicas e plásticas, notarão certamente bastantes. É uma questão de conhecimento, abertura e nitidez”, conclui.
Quanto ao memorial de homenagem a Nelson Mandela, este foi inaugurado em 2012, da autoria do artista sul-africano Marco Cianfanelli, em Howick, que assinalou na altura o 50.º aniversário da detenção de Nelson Mandela pela polícia do apartheid, em 1962.
O artista da peça na Africa do Sul considera que esta situação é “lamentável por uma série de razões”. Em declarações ao jornal Público, o artista diz perceber que se trata de uma “questão complexa”, referindo que o campo artístico é dado a “equívocos deste género” e explica que não é a primeira vez que algo deste género acontece, mas “nunca desta forma”.
Neste momento, Cianfanelli confirma que não afasta a via legal e que procura aconselhar-se com um advogado antes de avançar com qualquer decisão. Quanto à obra de Ricardo Crista, o artista sul-africano prefere não fazer avaliações, mas admite que a abordagem é “em tudo semelhante”.