Após a demissão do primeiro-ministro António Costa, escrevi, neste espaço, “O artigo que não era para ser…”, hoje, em continuação, escrevo: “… mas vamos a isso!”.
Nesse artigo, referi a minha opção para a resolução da atual crise política: eleições antecipadas. O Presidente da República foi da mesma opinião, porém, em vez de acelerar essa resolução e deixar os portugueses escolher, o mais depressa possível, um novo Governo, entendeu dissolver a Assembleia da República só após a conclusão da discussão do Orçamento do Estado e da sua aprovação. Marcou as eleições para 10 de março e, assim, serão 4 meses com o país em suspenso, sem Parlamento, e com um Governo de gestão em degradação a cada dia que passa. Tenho dúvidas na necessidade de se aprovar um Orçamento do Estado que será alterado quando um novo Governo tomar posse, mas, nem isso, nem a possibilidade de dar tempo ao Partido Socialista para se recompor e preparar para as eleições, justifica esta espera.
Bem sei que uns meses não farão diferença, tendo em consideração o que foram os últimos 8 anos, mas quanto mais cedo os portugueses forem votar, melhor. Cada dia que este Governo se mantém a governar, seja ou não em gestão, é um dia a mais. Convém que nos lembremos das cativações que estrangularam a Saúde, a Educação ou os Transportes, mas, igualmente, dos milhares de milhões de euros dos nossos impostos que foram usados para salvar a TAP ou a EFACEC. Mais importante, que nos lembremos da centena de mortos nos incêndios de 2017, num completo falhanço do Estado Português em cumprir a sua função mais básica – a proteção de pessoas e bens -, ou dos vários excessos e, mesmo, atropelos ao estado de direito, que aconteceram durante a pandemia e que, por exemplo, impediram diagnósticos antecipados de outras doenças, que dificultaram a aprendizagem de milhares de crianças e que impactaram, diretamente e de forma permanente, a saúde mental de milhares de pessoas. Lembremo-nos das dezenas de governantes envolvidos em negócios pouco transparentes ou mal explicados – alguns constituídos arguidos -, e dos vários “casos e casinhos” recorrentes. Lembremo-nos das trapalhadas do aeroporto e do caso Alexandra Reis proporcionados por Pedro Nuno Santos e da sessão de insultos e pancadaria no ministério de João Galamba, num episódio que culminou com uma intervenção do SIS a lembrar os tempos da PIDE – tudo relatado numa Comissão Parlamentar de Inquérito em que, com estrondo, todos ouvimos o barulho da dignidade do regime a bater no fundo. Por tudo isto e muito mais, o governo de António Costa deveria ter caído, mas afinal foram-lhe dados mais 4 meses de propaganda. E são estas as regras deste jogo viciado: o Partido Socialista tem de se manter no poder, mas, quando afastado, voltar rapidamente.
Pois sem medos vos digo: vamos a isso! Vamos dar voz ao eleitorado e perceber se a maioria quer mais do mesmo, com eventuais cedências a partidos extremistas, que não conseguem condenar Putin ou o Hamas e que pouco mais têm para oferecer do que uma economia ao nível da cubana ou da venezuelana, ou se, antes, preferem uma opção assente na liberdade e na reforma do Estado. É um jogo de risco, pois é o futuro dos nossos filhos e netos que estamos a arriscar, mas é um jogo que merece ser jogado com o máximo de vontade e empenho.
O nosso país, os nossos filhos, os nossos netos valem a pena. Vamos a isso!