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O nosso Serviço Nacional de Saúde

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O nosso Serviço Nacional de Saúde

, Médico
8 Novembro 2023, Quarta-feira
Mário Moura - Médico|

Há meses ou mesmo anos – desde, pelo menos, a pandemia de covid – que não há telejornal que não fale dos defeitos, das carências, das greves do pessoal, da falta de modernização, etc., etc. do nosso SNS – a maior conquista depois da liberdade, do 25 de Abril que nos tirou da opressão ditatorial.
Como sou médico há 70 anos, vivi a longa evolução dos cuidados médicos no nosso País até ao nascimento do SNS, e nele tive alguma modesta participação.
Após a Revolução houve grande afluência de alunos às faculdades e assistiu-se ao aparecimento de grande número de médicos que se foram acumulando em Lisboa. É evidente que, internacionalmente, depois da famosa reunião de Alma, ficou consagrada a utilidade de haver Cuidados Primários (primeiros e não incipientes) antes dos Cuidados Hospitalares a que chamaríamos Cuidados Secundários.
Mesmo antes do 25 de Abril já o problema germinava entre nós por iniciativa de Miller Guerra que promoveu reuniões plenárias para a discussão de tal possibilidade (nelas estive sempre presente).
Entretanto, que fazer aos muitos médicos que após o 25 se Abril se iam acumulando nas faculdades? Ao fim duns cinco anos alguém teve a ideia de organizar o “serviço médico à periferia” espalhando esses clínicos pelo interior do País sem apoios de colegas mais experientes. Foi uma oportunidade para os jovens médicos se aperceberem da pobreza das nossas populações, do seu estado sanitário e do total abandono sob o ponto de vista assistencial na doença.
Foi uma excelente ideia para criar apetência para um possível SNS. Vieram de Inglaterra dois outros médicos veteranos do então já célebre SNS Britânico, conhecer a realidade portuguesa e deixar conselhos. E o ministro dos Assuntos Sociais, António Arnaut, cria o nosso SNS.
Um grupo desses jovens médicos cria uma associação (APMCG), para a qual me chamaram para a direcção ( já tinha muita experiência e barba branca), e começa uma luta para dar formação especifica a esses médicos de formatura recente, para convencer as faculdades a criar a disciplina de Clinica Geral. E a convencer o poder a adoptar estas estruturas novas.
Rapidamente, a clínica geral passou a medicina familiar, muito mais ampla e com muito maiores perspectivas de servir melhor as populações – e nasceram os Centros de Saúde e depois as Unidades de Saúde Familiar.
E chegamos a um ponto crítico: As USF foram-se aprimorando na sua eficácia e organização. E chegamos à actualidade, à crise do SNS e aos esforços de dar um médico de família a cada português. O problema está na berra, os noticiários falam da falta de médicos, de urgências e serviços fechados, lançando um certo pânico nas populações, especialmente nas chamadas urgências.
Reuniões e mais reuniões, greves, declarações de limitação das horas de urgência, etc.
Aqui chegados, queria dizer que se fala demais em honorários, que se fala demais com sindicatos, que se lançam ideias e até se diz que há dinheiro. E não ouço ninguém, pôr o dedo na ferida. Os médicos de família têm de ter formação específica, têm de ter tempo para ouvir o doente, têm de viver em equipa com enfermeiros/as (e, se possível, com psicólogos, fisioterapeutas, etc).
Dizem certas estatísticas que de 800 queixas só uma necessita de hospitalização! Aqui está o “busílis” – não ouço ninguém a falar convenientemente na formação dos médicos de família e também em carreiras que levam à formação contínua e ao esforço de progredir. Os problemas são graves, toda a gente discute, fala-se demais em vencimentos e muito pouco em formação – e aí, no nosso entender, está “o segredo” para a acalmia das “gentes da saúde”.
E, em pano de fundo, temos o problema das grandes empresas privadas de saúde e das empresas de mão-de-obra médica, que, para mim, é necessário colocar” à cabeça”. Para uma resposta real para o marasmo da saúde, mais do que sindicatos necessita-se de contributos das Ordens e das associações profissionais!

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