As declarações da Dra. Ana Jorge, provedora da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML), informando as diversas federações desportivas da sua intenção de rever o plano de patrocínios aos eventos desportivos, levantando a possibilidade de vir a efetuar cortes, colocou muitos dirigentes em alerta. Felizmente, e após uma reunião com o secretário Estado do Desporto, Dr. João Paulo Correia, foi decidido manter os patrocínios da SCML ao setor do Desporto.
O financiamento do desporto é um problema, desde quase sempre. O Estado cumpre a sua função, sendo que para os agentes desportivos é sempre pouco e para os contribuintes, em geral ,é sempre muito. Importa, pois, esclarecer e dividir o desporto profissional, enquanto atividade de entretenimento de massas, e geradora de receitas, e o desporto amador que não gera receita, mas que presta um serviço de interesse público.
Ao longo dos anos, os grandes clubes de futebol encontraram forma de se financiar, primeiro através de mecenas, depois por via dos bingos e da exploração de bombas de gasolina. A publicidade nas camisolas surgiu em 1984. Ainda assim, nada disto era suficiente e, ao longo dos anos, o recurso a empréstimos bancários foi algo considerado inevitável. Surgiram, entretanto, as sociedades anónimas desportivas, sendo hoje as principais fontes de receitas, através das mais-valias obtidas por via da venda de ativos, dos direitos televisivos, das receitas da UEFA, da bilhética, da publicidade estática, dos patrocinadores e do merchandising.
No futebol distrital, porém, poucas são as receitas e muitas as despesas. Na semana do jogo em casa surgem as despesas de organização do jogo; na semana do jogo fora é a vez das despesas de deslocação e alimentação. Tudo isto depois de uma pandemia que retirou quase por completo as receitas aos clubes e de um aumento do custo de vida devido, em larga medida, ao conflito na Ucrânia. Naturalmente, o estado financeiro atual de muitos clubes não poderia ser bom.
Perante este cenário, foi com naturalidade que algumas equipas do nosso distrito, e não só, decidiram terminar as suas equipas seniores, seguindo o exemplo de algumas das equipas nacionais de futebol de praia.
Na gestão desportiva, o princípio de que as receitas têm de ser superiores às despesas tem de estar sempre presente. Quando tal não é acontece, ou se fecha ou surge o endividamento. Não havendo soluções milagrosas, parece-me, contudo, que o impacto financeiro do futebol distrital não deve ser desvalorizado. Em Setúbal, temos sensivelmente doze mil praticantes, número ao qual acrescem treinadores, árbitros, dirigentes, fisioterapeutas e familiares.
Neste contexto, será inevitável o apoio do setor privado, através de várias medidas como por exemplo a criação de namings para as competições, organização de um torneio de “futebol 7” para empresas, ou a criação de uma revista digital, com publicidade para os patrocinadores dos clubes. Estas foram algumas das medidas apresentadas aquando da minha candidatura à presidência da Associação de Futebol de Setúbal (AFS), no projeto coletivo “101 Vontades, Um Projeto”. Medidas estas com a visão de convidar o tecido empresarial a juntar-se ao movimento associativo desportivo.
É urgente libertar os clubes da dependência quase exclusiva do financiamento público através das autarquias que não dispõem de recursos infinitos.
No sentido de menorizar esta dificuldade de financiamento, muitos clubes optaram pela cobrança de mensalidades nos escalões de formação, ajudando assim à sua sustentabilidade. Hoje, com a mudança de paradigma do treinador ex-praticante para o treinador portador de licença profissional, e com o processo de certificação das entidades formadoras, elevou-se a qualidade dos serviços prestados, aumentando igualmente as despesas de quem presta esse serviço.
Em simultâneo, continuam a existir clubes que, por estarem localizados em determinados contextos sociais, não lhes é possível cobrar mensalidades. Sobrevivem graças ao esforço de dirigentes voluntários que dedicam a sua vida à inclusão social de muitos jovens através do desporto, não deixando para trás aqueles a quem as circunstâncias da vida não lhes permitem ter poder financeiro para pagar uma mensalidade para fazerem aquilo que mais amam e que é, muito simplesmente ,jogar futebol ou futsal.
Por isso, aqui deixo a minha homenagem a todos estes dirigentes, lembrando que o futebol, o futsal e o futebol de praia, terão sempre de ser para todos!
Com amizade, votos de uma boa época desportiva para todos.