Viatura utilizada “é única e exclusivamente para fazer deslocar a equipa de suporte avançado de vida”
O transporte de um ferido ligeiro para o Hospital de São Bernardo, em Setúbal, levou à abertura de um inquérito por parte do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM). A polémica surgiu na sequência da colisão entre um carro e um motociclo na tarde de terça-feira.
A vítima do acidente na Avenida Mestre Lima de Freitas, pelas 17h51, foi transportada para a unidade hospitalar por uma Viatura Médica de Emergência e Reanimação (VMER),
que não serve para o transporte de doentes urgentes.
“Aquela viatura é única e exclusivamente para fazer deslocar a equipa de suporte avançado de vida, que neste caso é composto por médico e enfermeiro e mais ninguém. Até mesmo por uma questão legal. Daquilo que nos foi dado a conhecer, nem sequer em termos de seguro, cobriria este ocupante [vítima]”, explicou à agência Lusa Paulo Paço, presidente do conselho directivo da Associação Nacional dos Técnicos de Emergência Médica (ANTEM).
Para o local foram mobilizadas uma ambulância dos Bombeiros de Castanheira do Ribatejo e uma VMER. A informação foi dada a O SETUBALENSE por Sérgio Pereira, chefe de equipa do Comando Distrital de Operações de Socorro (CDOS) de Setúbal.
Fonte do INEM disse a O SETUBALENSE também que foram apenas accionados dois meios, uma ambulância e uma VMER. “O INEM informa que, na sequência de um acidente de viação ocorrido ontem na cidade de Setúbal, o CODU accionou uma ambulância e uma VMER. Após avaliação por parte da equipa médica da VMER, o CODU foi informado de que se tratava de um ferido ligeiro”, refere o instituto em resposta enviada à nossa redacção.
A mesma nota diz que foi decisão da VMER transportar o ferido para o Hospital de São Bernardo e que, sobre essa razão, vai ser aberto um inquérito. “A VMER do Hospital de São Bernardo decidiu efectuar o transporte do ferido para a unidade de Setúbal antes da chegada da ambulância ao local. O INEM vai abrir um processo de inquérito para apurar em detalhe o ocorrido”.
Faltam ambulâncias do INEM na região
José Luís Bucho, coordenador do Serviço Municipal de Protecção Civil e Bombeiros (SMPCB) de Setúbal, adianta que a situação “nada tem a ver com bombeiros nem com Protecção Civil”.
Diz, no entanto, que a situação não o surpreende tendo em conta que há anos que os bombeiros reivindicam um maior número de ambulâncias. “Já vimos há anos a alertar que o número de ambulâncias que o INEM tem na região de Setúbal e, nomeadamente, para dar resposta ao concelho, são insuficientes, mas isto o INEM sabe.
Não só a questão das ambulâncias, mas também o número de horas que os hospitais, não só de Setúbal, como todos os outros, retêm as macas das ambulâncias do INEM”.
A ANTEM tinha apontado ainda, de acordo com as informações que recolheu, que foi accionada para o local da emergência uma ambulância de Castanheira do Ribatejo, Vila Franca de Xira, considerando “preocupante desde logo” devido aos “cerca de 50 minutos em marcha de urgência” entre as localidades.
Paulo Paço frisou que esta situação levanta questões: “Não existiam ambulâncias disponíveis em Setúbal? E, para além disto, se este transporte [pela VMER] é legal?”.
O responsável da ANTEM tinha também sublinhado à Lusa que este tipo de situações acontecem diariamente em Setúbal e por toda a margem sul do Tejo, acrescentando que “em tempo útil” a associação alertou que, com a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) em Lisboa, as fragilidades “se iriam agravar”.
Fonte dos Bombeiros Sapadores de Setúbal confirmou que no local do acidente estiveram cinco bombeiros acompanhados por um Veículo de Socorro e Assistência Especial 01 (VSAE 01) – viatura de desencarceramento. A Companhia de Bombeiros Sapadores de Setúbal conta com duas ambulâncias que não são accionadas nestes casos porque não estão ao serviço do INEM. Com Lusa