Demografia: um distrito a duas velocidades

Demografia: um distrito a duas velocidades

Demografia: um distrito a duas velocidades

18 Julho 2023, Terça-feira

O Relatório do Estado do Ordenamento do Território (REOT) traça um interessante e atual retrato de Portugal e dos portugueses. O documento, que foi recentemente divulgado e se encontra em consulta pública – permitindo aos interessados darem o seu contributo – levanta questões muito relevantes sobre potencialidades e debilidades territoriais e volta a apresentar a quebra populacional e o envelhecimento como peças-chave para o futuro do País. A este respeito, apesar dos principais problemas se encontrarem no interior, temos, no nosso distrito, alguns dados positivos e outros bastante preocupantes.

Efetivamente, apesar dos esforços do Governo, com uma aposta na coesão territorial, em políticas tendentes a atenuar as assimetrias e a incentivar a fixação em zonas longe dos grandes centros, as discrepâncias entre interior e litoral mantêm-se, bem como a desertificação e o envelhecimento.

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A resposta poderá estar em políticas locais e regionais, a começar pelas estratégias locais de habitação – de âmbito concelhio – que complementem as medidas da administração central, com uma visão mais próxima e direcionada própria de quem, como as autarquias, possui um conhecimento profundo e quotidiano dos seus territórios.

As autarquias estão, pois, numa posição privilegiada para definir e levar a cabo estratégias que, efetivamente, mudem o rumo das suas gentes e dos seus territórios.

Até porque alguns concelhos já provaram que é possível inverter ou, pelo menos, atenuar o inverno demográfico, com incentivos à natalidade, à fixação de famílias jovens, à integração de imigrantes e ao regresso de emigrantes.

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Em paralelo, o relatório identifica 126 municípios onde o ritmo de quebra é especialmente preocupante e, destes, uma lista de 24 onde já se anteciparam valores apenas previstos no final desta década, com perdas demográficas na ordem dos 15 por cento.

São predominantemente em regiões do interior, longe dos grandes centros e com debilidades territoriais, mas entre estes encontra-se o concelho de Alcácer do Sal, o único do distrito e também do Litoral, que enfrenta esta situação de extrema vulnerabilidade demográfica.

O concelho de Alcácer do Sal atingiu, já em 2021, uma quebra populacional que se perspetivava apenas alcançar em 2030. Atualmente, a população local é de apenas 11.112 pessoas, o que quer dizer que, em apenas duas gerações (desde 1960), os “alcacerenses” ficaram reduzidos a metade. São cada vez menos e mais velhos.

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Em oposição, como um todo, Distrito de Setúbal, ganhou 23.500 habitantes, com os melhores números a serem obtidos pelos concelhos de Palmela, Alcochete e Montijo.

O Barreiro e o Litoral Alentejano perderam população, mas é no concelho de Alcácer que encontramos os dados mais preocupantes: em cada 100 pessoas, apenas 11 são jovens e o índice de envelhecimento é de 280 por cento.

Trata-se de um concelho vasto, com realidades diversificadas, uma forte identidade histórica e cultural, para além de uma localização geográfica estratégica, a meio caminho entre o litoral e o interior. A isto se soma a conjuntura favorável que colocou Portugal e a Costa Alentejana na moda.

Não obstante, sofre de problemas gravíssimos, idênticos aos dos mais recônditos e desfavorecidos territórios.

Esta contradição deveria merecer, localmente, não só uma reflexão, como um plano para perceber e contrariar esta tendência que põe em risco o futuro do concelho e das suas gentes.

Pelo contrário, parece ignorar-se os números, omitindo-os até do site oficial do município, onde ainda figuram informações dos sensos de 2011. Só que o problema não desaparece por ser ignorado, antes, tende a agravar-se

Se o envelhecimento do País me preocupa, inquieta-me particularmente, o facto de termos um distrito a duas velocidades e, muito especialmente, este definhamento demográfico de Alcácer do Sal, que é o meu concelho de origem.

É que, com esta realidade, o futuro não é, certamente, risonho, porque sem gente, não há vida.

 

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