É com saudades que recordo os tempos da minha juventude, passados na célebre e memorável Doca do Naval, que foi considerada por muitos como “a piscina de Setúbal”.
Bons tempos, em que na minha, e nossa, mocidade passávamos as tardes na Doca do Naval, que era a nossa piscina, pois na cidade não existia uma piscina. Só muito mais tarde, com o GRUPIS – Grupo da Piscina de Setúbal, de que fui o coordenador e grande lutador e impulsionar para que, em Setúbal, se construísse uma piscina pública.
Hoje a cidade possui duas piscinas: a das Palmeiras e a das Manteigadas. Ainda bem que elas foram construídas para benefício da população e da cidade.
No Verão, principalmente às tardes, era ver a doca quase repleta de nadadores. Ainda me lembro do final do dia do encerramento dos estabelecimentos, com empregados e a população a caminho do banho na doca. Na muralha havia sempre pessoas a assistir às brincadeiras na água, nomeadamente “as amonas”, o pólo aquático, os saltos nas escadas e na muralha. Enfim, um autêntico espectáculo que acontecia todos os dias no Verão.
Mais tarde foi colocada, pelo Naval, uma pequena torre de saltos, onde hoje está o guindaste. Depois, uma torre de terceiro andar na entrada da doca. Aí era apresentada a exibição dos diversos estilos de saltos, como “anjos”, “parafusos”, “meia-lua” e “prego”, entre outros.
No Rio Sado, estavam quase sempre as canoeiras. A “Sagres” e a “Lagos”, que vigiavam a costa. De vez em quando, em grupo, íamos nadar até às canoeiras e, quando chegávamos, os marinheiros ofereciam lanches e convivíamos. Depois regressávamos à água e nadávamos até à doca. Que alegria e satisfação que sentíamos, quase como “heróis”.
Outras vezes o trajecto era ir a nadar até à Praia de Albarquel, com o regresso a ser até à Doca do Naval. Recordo ainda os célebres festivais de natação da doca, organizados pelo Clube Naval Setubalense, com o Clube de Algés Dafundo, Sesimbra, Nacional, Pedrouços, Alhandra e populares. Recordar esses tempos é viver.
No final das provas eram uma alegria as brincadeiras: as corridas das velhas, caça ao pato, pau encenado, a colher com o ovo na boca, pólo aquático e a exibição do “Pacheco Alfaiate” com os pés e mãos atados até 59 metros de profundidade. A terminar havia um lanche de confraternização.
E, na travessia da Tróia, Susana Gomes, que a única nadadora navalista setubalense, ficou classificada em primeiro lugar. Mais tarde ainda tentou a travessia do Canal da Mancha. O pai dela, Pedro Gomes, foi alguns anos presidente do Clube Naval Setubalense.
Assim transmito as minhas vivências e conhecimentos antigos no âmbito da prática desportiva da natação aos jovens e relembro a “juventude acumulada” na célebre e memorável Doca do Naval, “a piscina de Setúbal”. Recordar este passado é viver!
Viva Setúbal!