Mesmo sem chuva, vala corre cheia de água, mas preta e com mau cheiro. Trata-se de águas despejadas pela ETAR da Lagoinha que, apesar de aparentemente saírem limpas da estação, são depois contaminadas pelas lamas apodrecidas que se encontram no leito da ribeira. Simarsul garante que ETAR está a funcionar bem
Com a seca e o calor que se têm feito sentir, com temperaturas elevadas e mais de 80% do país em seca severa, a Vala da Salgueirinha apresenta um caudal de águas pretas e de intenso mau cheiro, verificou o DIÁRIO DA REGIÃO no local, hoje (16) mesmo, após queixa de moradores na zona da Estrada Nacional 252.
Nesse troço, que passa por baixo da estrada, a vala apresenta um forte caudal, apesar da falta de chuva. A água que está a circular é a que é lançada na vala pela Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) da Lagoinha – que fica nas traseiras do Parque industrial do Vale do Alecrim – propriedade da Simarsul, que é também responsável pela gestão da unidade.
A situação é visível no local. Não apenas o aspecto da água e a sua proveniência da ETAR – porque a conduta de despejo está a correr e a vala se encontra totalmente seca a montante desse ponto – mas também que o problema da cor e do cheiro provavelmente se devem mais ao estado a que a vala já chegou, com lamas negras e apodrecidas, do que à qualidade da água que está a ser despejada, que se apresenta transparente à saída da estação.
No entanto, é notório também que o troço mais escuro da vala, de lamas apodrecidas, coincide com as centenas de metros mais próximos da ETAR o que pode indiciar problemas na qualidade das águas despejadas, ainda que antigos e não actuais.
O aparecimento de lamas, denunciado por moradores no último inverno, aquando das cheias que fazem transbordar a vala para os terrenos circundantes, é outro indício de que poderá haver falhas de funcionamento da ETAR entre as causas para o estado da ribeira naquela zona.
Naquele troço da vala, entre o Vale do Alecrim e os armazéns industriais na estrada de terra batida que dá acesso ao hipermercado Continente, o leito apresenta-se particularmente assoreado, com a lama a chegar quase à altura da berma, nalgumas partes, e, em conjugação com as ervas, a quase tapar a ribeira, numa outra parte.
Nas zonas de propriedade pública é visível a acção de limpeza realizada pela Câmara Municipal de Palmela. Ouvido pelo DIÁRIO DA REGIÃO, o presidente da autarquia, Álvaro Amaro, confirmou que a Câmara “fez alguma limpeza, no âmbito do plano anual de limpezas” de valas e cursos de água, mas acrescentou que a vala atravessa terrenos privados.
O autarca disse desconhecer qualquer outro problema ou ocorrência recente na Ribeira da Salgueirinha, para além do quadro antigo e já conhecido que está, recordou, em vias de resolução definitiva.
A Simarsul garante que a estação está a funcionar sem qualquer problema. “A ETAR da Lagoínha funciona correctamente e cumpre o estabelecido na licença de descarga de águas residuais, encontrando-se a infra-estrutura em funcionamento pleno e sem registos de quaisquer anomalias.”, disse fonte da empresa ao DIÁRIO DA REGIÃO.
O Município de Palmela, que assumiu a obra de regularização da ribeira por acordo com o Ministério do Ambiente (a quem cabia a obrigação), aprovou, no dia 23 de Agosto, o concurso público e prepara-se para fazer o lançamento do concurso logo após a próxima reunião pública da Câmara Municipal, marcada para dia 25, já após a tomada de posse do executivo eleito nas autárquicas.
Nessa reunião municipal deverá ser aprovada a alteração orçamental de que o lançamento do concurso público para a empreitada ainda carecia.
A obra, orçada em 2,4 milhões de euros, será co-financiada em 85% pelo fundo ambiental, ficando os restantes 15% (1,9 milhões de euros) a cargo do município de Palmela. Trata-se de um investimento reclamado há vários anos pelos pinhalnovenses e discutido ao longo dos vários mandatos dos executivos de Palmela.
O objectivo da intervenção é recuperar e regularizar a Ribeira da Salgueirinha, no troço do Pinhal Novo, com uma extensão de cinco quilómetros, compreendida entre a zona de confluência da Ribeira do Alecrim (a montante) e a Lagoa da Brejoeira (a jusante), de modo a atenuar o problema das inundações na vila de Pinhal Novo e, consequentemente da restante bacia hidrográfica, designadamente as freguesias de Quinta do Anjo e Palmela.
Além disso, pretende-se ainda repor as condições naturais de drenagem pluvial, introduzir secções de vazão dimensionadas para comportar o caudal. Deste modo, no final das obras, todo o troço entre a Vala do Alecrim e a Vala da Venda do Alcaide passará a comportar o caudal centenário, fazendo com que os terrenos junto à linha de água deixem de sofrer o efeito das cheias.
A regularização da Ribeira da Salgueirinha vai permitir a melhoria da qualidade de vida das populações, bem como o desenvolvimento económico e social e a requalificação da paisagem ambiental, rural e urbana, com a criação de um corredor verde. Na sessão de comemoração do 89º aniversário da Junta de Freguesia de Pinhal Novo, Álvaro Amaro, presidente da Câmara de Palmela, afirmou que “depois de definidas as zonas ameaçadas pelas cheias, os pinhalnovenses podem sonhar com um espaço natural e um corredor, ao longo da Lagoa da Brejoeira”.