Pela geografia do lugar onde nasci e cresci sou cristão, é natural que assim seja. Desculpem-me se não é politicamente correto afirmá-lo desta forma. Quando comecei a ouvir falar das Jornadas da Juventude, mais uma “galinha de ovos de ouro para o país, confesso que me vieram à memória coisas “fantásticas” que aconteceram, tipo Web Summit, Euro 2004, etc. , e que, supostamente trouxeram riqueza e qualidade de vida aos portugueses comuns, entre muitas outras virtudes. Depois vieram os hediondos crimes sexuais com menores na Igreja (como foi possível alguém pensar que por cá a igreja é diferente?) e as dúvidas sobre o projeto, a sua execução e, sobretudo, os custos. Todos acudiram, com o Presidente da Républica à cabeça – do tipo “pau para todo o problema” –, e a coisa esbateu-se com a ajuda dos absurdos que por cá acontecem diariamente. Para que tudo seja perfeito, o dono disto tudo, representante do Governo, é o sinistro arquiteto do chapéu que nos deixa totalmente (in)tranquilos. Na verdade, toda a habitual família que vive sumptuosamente à mesa do Estado está de alguma forma envolvida nas Jornadas.
Voltando às Jornadas e à Igreja, há um inequívoco contexto de grandiosidade a que o país não está habituado, talvez preparado. Esta realidade não será sentida só na semana das Jornadas, mas muito antes e também depois. Como sempre acontece, as contas finais não vão ser claras e, mais uma vez, não vamos saber qual o efeito real na economia do país. Muito relevante é o número de pessoas envolvidas, designadamente pela via do voluntariado em que a Igreja tem enorme experiência. Acontece que, apesar da experiência da Igreja na capacidade de mobilizar voluntários, por razões óbvias a coisa não está a correr como o desejável e necessário. Nesta dificuldade, a Igreja tem uma enorme oportunidade de expressar a sua vocação e “compensar” o país dos crimes que cometeu. A Igreja, é, muito provavelmente, a organização mais abastada do nosso país, a maior e mais poderosa das repúblicas dentro da República. Face à dificuldade em encontrar mão de obra voluntária, porque não promover riqueza em tempos tão difíceis e fazer contratos de trabalho, com tudo o que de positivo isso tem? Se em Portugal não há mão de obra disponível, o que não falta por esse Mundo é um número infindável de pessoas com esperança em vida condigna. Assim, talvez a Igreja recuperasse o seu estatuto de respeito que nos deve.