O problema começa a ganhar contornos de escravatura. Na semana de celebração do Dia do Trabalhador é imperativo falar do assunto e questionar por que razão todos “assobiam para o lado”?
São as entregas de comida, são os transportes de pessoas, tudo feito com base numa legislação que é clara nos requisitos para obtenção da licença de condução, mas que levanta dúvidas na sua aplicabilidade.
Sem contratos de trabalho, sem seguros de acidente de trabalho, com a anuência de todos, é permitido que após um teste de língua portuguesa, feito de forma questionável e após uma formação de meia dúzia de horas nas escolas de condução, os requisitos ficam respeitados e a porta de entrada no mercado está garantida.
Garantida fica também a estadia em Portugal, de mão de obra barata e precária que faz com que os portugueses que estão nesse sector fiquem penalizados com todo o processo.
São muitos os relatos de uso individuo de licenças, ou seja, um individuo obtém a licença e permite que outros a usem ao longo do dia, seria aliás humanamente impossível que as viaturas circulem 24 horas por dia, alegadamente com o mesmo condutor, 7 dias por semana.
Quem investiu no negócio TVDE sabe agora que as regras afinal não são iguais para todos, que a qualidade do serviço baixou e que hoje as pessoas já não olham para este processo com a confiança que olhavam quando as plataformas chegaram a Portugal.
Hoje é usual entrar num carro requisitado através de plataforma digital e ser recebido por um motorista que não fala português, requisito legal obrigatório, as viaturas já não chegam limpas nem com as condições que eram uma imagem de marca.
Todos assobiam para o lado, ninguém quer assumir o problema, a consequência obvia deste trabalho se estar a tornar um auxílio à entrada de trabalhadores ilegais e de ao mesmo tempo estar a destruir o “ganha-pão” de todos os que em determinada altura da sua vida investiram e viram neste negócio uma forma de subsistência.
São muitas as viaturas que pertencem a empresas que rentabilizam o dia com o aluguer a quem tem a licença, permitindo assim a exploração total de quem anda a conduzir e ganha uns míseros euros por cada viagem, tendo de dividir com os proprietários dos carros e em muitos casos dividem ainda com o proprietário da licença.
A ausência de controlo e legislação que salvaguarde quem trabalha legalmente e salvaguarde também a segurança dos utilizadores e a qualidade do serviço, tem determinado um caminho que parece sem retorno nesta degradação total a nível social.
Quando olhamos para os “entregadores de comida”, a escravatura ainda está mais implícita, gente que trabalha por cêntimos e sobre a qual todos fechamos os olhos, porque dá imenso jeito receber a pizza ou o hambúrguer à porta de casa, o comodismo substituiu a responsabilidade social de denunciar estas situações.
Numa semana que se celebram as conquistas dos trabalhadores, continuamos escravos dos cravos, tudo permitindo mesmo à porta de nossa casa. Enquanto isso, os portugueses que trabalham no sector são empurrados para fora do negócio porque não conseguem viver com os cêntimos que este trabalho lhes dá a ganhar!