Mário Soares, figura incontornável da conquista da Democracia, criou, em conjunto com outros militantes da mesma causa, o Partido Socialista (PS).
Assim, no dia 19 de Abril de 1973, cerca de um ano antes da Revolução de 25 de Abril de 1974 (que conduziu à extinção da Associação Socialista Portuguesa), o PS nascia também como uma premonição de Liberdade.
Entendia o carismático fundador a necessidade de um partido de ideário do socialismo democrático, admitindo que a ruptura contra a ditadura se aproximava e que essa mudança surgiria de uma revolta militar, motivada pela impossibilidade da guerra colonial se manter por muitos mais anos, tese esta contrária à do PCP, que entendia que a revolução se operaria por levantamento popular.
Recorde-se que o PS se funda, como referi, num mundo de influência hegemónica, dividida entre os EUA e a ex-URSS.
Também por este facto não admira que em plena ‘guerra fria’, a evolução política em Portugal, no pós-Revolução, se tenha caracterizado por um combate que se apelidou de Processo Revolucionário em Curso (PREC), com o PS a assumir a liderança de defesa da liberdade e da democracia, procurando conduzir essa liderança com os demais partidos que defendiam a democracia liberal, em oposição aos que, como o PCP, sustentavam a defesa de teses radicais de controlo centralizado do Estado.
A veleidade de as implementar em Portugal levou Soares a contrapor que jamais Portugal seria a Cuba da Europa.
A intenção de impor uma única Central Sindical, a CGTP-IN, com rejeição de qualquer outra, constituiu dessas intenções cabal exemplo. Foi o PS, mais tarde no poder, que deu por revogadas as Leis que concediam à CGTP-IN o exclusivo de representação dos trabalhadores, bem como a autorização da constituição de novas centrais sindicais.
Tendo o PS assumido a liderança de luta do povo português, é necessário lembrar que a grande manifestação da Fonte Luminosa, em 19 de Junho de 1975, com impressionante apoio das massas populares, fez inverter o PREC, conduzindo à demissão do Governo de Vasco Gonçalves, tendo-se em definitivo consagrado um novo ciclo em 25 de Novembro desse mesmo ano.
Nessa data, as forças que sustentaram um modelo do tipo soviético são de facto derrotadas, porém o PS, e com ele as forças moderadas do Movimento de Militares autodenominado o grupo dos nove, opõem-se à extinção legal do PCP, fazendo aprovar a Constituição da República Portuguesa que consagra o total pluripartidarismo. Paradoxalmente, a oposição à instalação de um regime totalitário de esquerda, passou exactamente por proteger os direitos de quem pretendia uma nova forma de ditadura.
Esta nota de breves cinco parágrafos não é dispensável. Invoca , no âmbito das comemorações, um passado de glória. Testemunha a grandeza do Partido Socialista na construção da Democracia e nas conquistas de Abril.
Os chamamentos dos dias de hoje não são de somenos. Enfrentamos tempos diferentes, difíceis, que não dispensam combates firmes contra os populismos.
O desafio é construir novas glórias! Continuar o caminho.