Quando o tempo era certinho, quando as estações do ano eram bem demarcadas, pouco havia a falar dele. Era assunto para quem não tinha mesmo outro. Ou seja, falava-se do tempo para não se ficar calado. Agora não é assim. Embora muita gente continue a não lhe ligar importância, só se preocupando mesmo quando chove, ou quando os preços dos alimentos, sobretudo dos produtos hortícolas, disparam.
Mas, com as alterações climáticas, para quem é minimamente consciente e responsável, tornou-se um problema bastante sério. A par dessa loucura que é a guerra e que o agrava, o mais sério e preocupante da atualidade e do futuro.
Já repararam que depois das fortes chuvadas de fins de dezembro e janeiro, que até provocaram inundações, nunca mais choveu coisa que se visse? Pelo menos aqui na Margem Sul e, creio, mais ou menos, em todo o Alentejo e Algarve. Têm caído apenas, como se diz na minha terra, uns borrifos. Portanto, em pleno inverno, quase dois meses sem chover a sério e a seca continua agora já primavera adentro com temperaturas a rondar os 30 graus e a previsão de chuva, é zero.
Tenho um pequeno quintal, semeei três quilos de batatas, estão muito bonitas porque as tenho regado. Se não, nem sequer tinham nascido. Sou filho e neto de agricultores alentejanos, nunca o meu pai e os meus avôs regaram batatas e raramente não tiveram bons batatais.
A grande maioria das barragens a sul do Tejo, estão abaixo de 50% do seu nível máximo. Portanto, se abril não for de águas mil e se em maio não vierem as antigas tradicionais trovoadas como nos últimos anos não têm vindo, imaginem a gravidade da situação.
Finalmente, o Governo anunciou agora no Dia Mundial da Água, que vai ser construída uma central de dessalinização na costa algarvia. Porque não, também já outras na costa alentejana?
Face à cada vez menor pluviosidade, sobretudo no sul do País, é imperioso que se tomem medidas. Que se reduzam progressivamente as plantações intensivas e superintensivas e nem mais um único hectare delas. Além de consumirem imensa água, esgotam e alteram os solos as doses industriais de pesticidas e fertilizantes que lhe são aplicadas para produzirem ao máximo. Destroem ecossistemas e respetivas flora e fauna autóctones.
E o problema é muito mais geral; todo o Mediterrâneo. Na Tunísia, já há fortes restrições ao consumo de água. Em África, como no Quénia, dito por quem de lá veio há dias e ouvi na Antena1, populações e a sua tão rica fauna, estão a ser fustigados com a seca.
Mas os senhores da guerra, estão-se borrifando para a tão necessária proteção ambiental. Depois de destruírem o Iraque (fez agora vinte anos que foi invadido com base numa mentira causando centenas de milhar de vítimas; mortos, feridos, torturados e desalojados), a Líbia, a Síria, o Afeganistão e de retalharem a Jugoslávia, viraram-se para a Europa, e em vez de finalmente procurarem a paz, são armas e mais armas. Os interesses económicos e estratégicos, falam mais alto que a vida dos povos e do planeta.