Que a participação de novos e diversos sectores laborais e camadas populares na luta contra a política de direita, traduzindo uma sentida percepção quanto à identificação dos reais responsáveis da actual situação económica do País, tenha motor radicado na luta da classe operária e dos trabalhadores, é tese do PCP. De há anos ocupando crescente e variadamente as praças, avenidas e ruas numa gigantesca convergência unificada na defesa do direito ao trabalho com direitos, contra a precariedade e pela valorização salarial, e também na defesa dos serviços públicos e contra a desresponsabilização do Estado nas suas importantes funções sociais, como a saúde, a educação, a habitação, a segurança social, eis o que no seu todo ou por tranches poderia enquadrar-se entre aspas como transcrição, a verdade seja dita, das Teses-Projecto de Resolução Política do XIX Congresso do PCP, logo as Teses de Novembro de 2012.
E porque a classe dominante treme, havendo sempre quem aponte e concretize «a construção da alternativa» (Capítulo III), é nestes últimos tempos, e não só à escala nacional, perceptível e comprovado como os detentores do poder económico procuram transformar certas formas de agitação e mobilização em «autênticas válvulas de escape da justa indignação e encontrar neles um pretexto para tentar diminuir a dimensão e importância estratégica da luta organizada» (página 70).
Neste decénio em causa, uma manhã, no Parque do Bonfim, em Setúbal, então (porque já contámos) um velho militante expandia a sua alegria:
– «Até os meus dois filhos e as minhas noras, com os miúdos, foram! Pela primeira vez!!! Mas acho que fui mauzinho para eles. Jantámos todos na minha casa, e deu-me para lhes ler o Brecht: “Primeiro levaram os comunistas, mas não me importei porque não era comigo. Em seguida levaram alguns operários, mas a mim não me afectou porque não sou operário. Depois prenderam os sindicalistas, mas eu não me incomodei porque não sou sindicalista. Logo a seguir chegou a vez de alguns padres, mas como nunca fui religioso, também não liguei. Agora levaram-me a mim e quando percebi, já era tarde”».