Utentes esperam longas horas para serem atendidos. A não atribuição de médicos de família é apontada como um problema
As filas de espera tendem a ser longas e estendem-se por várias horas para os utentes do Centro de Saúde de São Sebastião, localizado no Vale do Cobro, em Setúbal.
A falta de recursos humanos, mas também a não atribuição de médicos de família aos doentes, são apontadas como duas das principais causas do constrangimento vivido neste estabelecimento de saúde diariamente.
A O SETUBALENSE, que esteve na manhã de quinta-feira no local, vários utentes, que estavam a aguardar vez para retirarem uma senha, assim como para serem atendidos no período da tarde, depois das 14 horas, no Atendimento Complementar (AC), e para marcarem uma consulta, confirmaram que a situação é “insustentável”, com desistências a serem recorrentes pela morosidade em qualquer um dos processos.
Já Augusto Fernandes, coordenador da Unidade de Saúde Familiar (USF) du Bocage, com sede no mesmo edifício, informou O SETUBALENSE que estão a trabalhar neste local “cinco médicos, seis enfermeiros e quatro assistentes médicos/secretários clínicos”.
Estes “trabalham em equipa, com cuidados desde o nascimento até à morte dos utentes”. Cada médico tem, aproximadamente, “1 750 utentes” atribuídos e a “grande dificuldade é a entrada de novos e jovens médicos” nesta unidade familiar, disse.
O coordenador da USF du Bocage salientou a necessidade da contratação, pela administração central, de mais médicos.
“Este vai ser mais um problema para a região de Setúbal e não depende só das unidades e do Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) da Arrábida, mas também do Governo, com a abertura de mais vagas e incentivo para poderem vir para Setúbal”, explicou.
Em seguida, Augusto Fernandes sublinhou a diferença de conseguirem atender, com proximidade, na USF du Bocage, os utentes. No Centro de Saúde de São Sebastião estão inscritas cerca de “50 mil pessoas, com 40% sem médico de família”, esclareceu.
Enquanto isso, Rosa Maria, da Comissão de Utentes dos Serviços Públicos do Concelho de Setúbal, identificou a O SETUBALENSE que o cenário é semelhante nos restantes centros de saúde do concelho, ainda que este seja pior para quem não tem médico de família.
“É de espantar. Muitos dos utentes passam dias seguidos à porta do centro de saúde para conseguirem consulta. A situação está cada vez pior e, relativamente aos médicos, agrava de dia para dia”, remata.
Utentes ‘desesperam’ para serem atendidos
Dos utentes que se encontravam na fila de espera, a aguardar na rua até ser hora de retirar a senha, às 14 horas, estava Cristalina Marques Loureiro, que acompanhou o seu marido, Francisco Salvador, de 87 anos, residentes em Pontes, às 09 horas até ao centro de saúde situado no Vale do Cobro.
Ali permaneceu até depois das 14 horas, uma vez que não conseguiu vaga no atendimento da manhã. Ao marido, com dificuldades, foi pedido que aguardasse também fora das instalações, sendo que, posteriormente, foi chamado para esperar no interior.
Também Gilson Moreira Bastos, Marlene Ferreira e Tânia Correia esperavam pela sua vez na esperança de serem atendidos, todos por razões diferentes, mas com um propósito comum: serem vistos pelo médico de serviço.
No caso de Gilson e Marlene, estes estiveram inicialmente no hospital, mas foram encaminhados para o centro de saúde. Os três utentes chegaram por volta das 11 horas. Nasceolinda Paulino é uma excepção à regra, uma vez que tem médico de família e, assim sendo, “não tem razões de queixa” da médica ou do atendimento.
Observa, ainda assim, por morar ali perto, as “longas filas diárias de espera, todos os dias”. O Centro de Saúde de São Sebastião é um dos centros de saúde inseridos no ACES Arrábida, agrupamento que serve não apenas os utentes do concelho de Setúbal, mas também os de Palmela e de Sesimbra.