É terça feira de carnaval e mesmo podendo beneficiar do feriado, o corpo, que o hábito diário faz cair da cama, obriga o pequeno almoço a ser tomado cedo. De um hábito, nasce outro e nestes dias e maioria dos fins de semana, como complemento, gulodice e prazer social, tendo mesmo outros pelo caminho, percorro pela manhã e em jeito de passeio os quinhentos metros que o distam de minha casa, e ao café-esplanada, que a qualidade do produto e principalmente o serviço, o meu gosto elegeu, vou comer um bolo mais aquele café extra, que só nestes dias tomo.
Vivendo o espírito do dia em sua festa pagã e decorado o estabelecimento a propósito, é de franco sorriso e disposição alegre, que sou surpreendido do outro lado do balção, a rigor mascaradas, por três “joaninhas”. As mesmas três, foram “renas” no Natal e são profissionalmente donas de uma simpatia, atenção, respeito e trato pessoal, que dedicado a cada cliente, não distingue nenhum. Pelo menos, assim o vejo, assim o sinto. Outros, por outros profissionais do ramo e noutros estabelecimentos congéneres, sentirão o mesmo. Por iguais ou diferentes motivos. Mas certamente em comum teremos o gostar, de como clientes e sabendo-nos iguais, especiais nos sentirmos, no trato e atendimento.
Se na altura fiquei preocupado, para dizer o mínimo, naquele momento, não fosse precisamente a presença das três “joaninhas”, distribuindo espírito carnavalesco e distraindo a minha mente, e assustado teria ficado. Ao lembrar aquele recente apontamento de reportagem, que tendo como título: “o futuro do trabalho”, as colocava a elas e seus colegas em geral, como uma das profissões a ser substituída num futuro próximo. Pela mais recente filha da tecnologia: a robótica e sua inteligência artificial. E mesmo não querendo, vi no tal futuro tão tecnologicamente avançado, frio e de voz metalizada e sobre suas rodinhas deslizando, sobre mim avançar o tal “boneco” eletrónico, que a reportagem apresentara. E que destituído de qualquer empatia e de conhecimento, e reconhecimento programado, igual a papagaio sofisticado e mecânico, depois de um, “bom dia”, que não pode sentir, me pergunta, se tiver carga, o que vou querer.
Caminho perigoso este, de nos substituirmos pela máquina! Assustador futuro em que nada alem de números, interesses e valores financeiros nos ligam ao semelhante com quem nos cruzamos. Continuidade de um presente mergulhado e dependente do telemóvel, que ilusoriamente cheio de um mundo que o ouve, é alheio ao semelhante que sendo seu vizinho há anos, não reconhece sentado ao seu lado e com quem nunca falou, porque nada tem para lhe dizer. E nem, a recente pandemia e suas privações, parece na procura do fácil e rentável, nada nos ter ensinado. E levar nem que seja nos mais mesquinhos, para poupar na gorjeta, preferir falar para o “boneco” e esquecer, que o calor humano, como tanta outra coisa na vida, só a falta o faz sentir. E depois, temos o sorriso…, ou um mundo mais feio sem ele.