Instalação e pintura de Antonieta Martinho apresenta animais e ambientes marinhos
Até 19 de Março, o espaço expositivo da Indústria Conserveira “Da lota à lata” do Museu do Trabalho Michel Giacometti acolhe a exposição “Symbiosis”, de Antonieta Martinho. “O impacto mundial para a crescente poluição no meio aquático captou e influenciou a minha actual criação como artista plástica contemporânea”, revela a artista a O SETUBALENSE.
O seu percurso artístico, conta, “começou há cerca de 15 anos, ao ingressar na licenciatura em pintura na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa”, sendo que o “trabalho tem vindo a mostrar duas vertentes que se entrecruzam: a pintura e o objecto”.
“Produzimos vários tipos de lixo, mas a grande catástrofe dos mares é o plástico que tem uma vida útil curtíssima e demora centenas de anos para se degradar. Nesta exposição pretendo transmitir a minha abordagem desta problemática, a beleza que encontro nos mares e nas criaturas que lá vivem é para mim o foco do que temos de preservar e salvar”, adianta.
Para Antonieta Martinho, que continua a participar no Atelier Experimental da Sociedade Nacional de Belas Artes, “é premente reforçar a consciencialização e sensibilização para estas questões”.
Tal permitirá que se progrida “para a despoluição de lixos plásticos, todos os anos lançados aos oceanos, tendo passado de mais de dois milhões de toneladas em 1950 para mais de 400 milhões em 2015”.
O intuito desta exposição é, assim, “reflectir e questionar esta problemática através do conceito da simbiose, que relaciona a interacção e associação entre seres vivos na qual ambos saem beneficiados”.
Neste sentido, a artista apresenta um cenário, com cerca de 2 700 peças, “que leva às profundezas dos oceanos”. Além de peixes e medusas, Antonieta Martinho decidiu para esta exposição criar colónias de corais, que representam a “associação íntima entre corais e algas, uma vez que os corais não têm capacidade natural de realizar a fotossíntese, dependem das algas para a sua subsistência, e estas, por sua vez, dependem dos corais e como tal produzem nutrientes em excesso para os alimentar”.
De acordo com Ana Lima-Netto, curadora da exposição, “o trabalho de Antonieta Martinho de inspiração na natureza marinha apresenta- -se cuidadoso e sedutor, fazendo jus ao ditado ‘o lixo de um homem é o tesouro de outro’, a partir do corte, termofusão e pintura”.
A exposição ‘Symbiosis’ aborda, assim, “o tema dos ecossistemas e cadeias de interdependência entre organismos como uma necessidade de consciencialização humana e um dos nossos maiores desafios neste século”.
Através “do equilíbrio das formas e das cores e da criatividade”, a prática da artista propõe “mudanças de paradigma e trajectória na forma como podemos reciclar e reutilizar os plásticos”.
“[Esta exposição é] mais um contributo para nos recordar que a vida dos oceanos e a nossa própria sobrevivência se encontram interligadas e ameaçadas pelos nossos hábitos de consumo”.
“Constatei a simbiose das peças com o espaço expositivo”
A maioria das obras foi realizada com a utilização de garrafões e garrafas PET (polietileno tereftalato) recolhidos do lixo e estabelecem também, de acordo com a artista, uma relação de simbiose com o sítio onde se encontram expostos.
“Trabalhar num espaço como o do Museu do Trabalho é sempre um grande desafio, mas muito gratificante. Gosto de relacionar os novos elementos do projecto com os existentes, mantendo a importância e o carácter de cada um”, partilha.
“Por Setúbal ser um município com uma extensa frente aquática, tomei a iniciativa de propor uma instalação abordando a temática do mar. Na pessoa de José Luís Catalão, foi-me sugerido expor no Museu do Trabalho e numa visita ao espaço constatei a simbiose das minhas peças com o espaço expositivo”, descreve.
“A partir daí e até ao resultado final, foi um processo de criação contínua, na integração da obra ao ambiente museológico”, refere, acrescentando que já havia exposto anteriormente na Biblioteca Municipal de Setúbal.
Paralelamente, na sala de exposições temporárias do museu, Antonieta Martinho expõe um conjunto de 18 pinturas, intitulado “Sea forest”, abordando o tema da diversidade e da imensidão do mar.
A realização de workshops, primeiramente com os utentes da Associação Portuguesa de Pais e Amigos do Cidadão Deficiente Mental (APPACDM) e no próximo dia 23 com os utentes do Centro de Dia do Centro Comunitário de São Sebastião, integram igualmente a programação da mostra.