Ao longo dos sucessivos anos, nós, os professores de Portugal temos vindo a manifestar um evidente desconforto pela evolução da profissão. Recentemente os protestos voltaram e continuam na rua, tal como sucedeu no passado Sábado em Lisboa.
Milhares de professores na manif. onde a sua força e determinação estiveram bem presentes.
Vamos ver se os sindicatos não se irão vender por um prato de lentilhas, tal como sucedeu em 2008 com Maria de Lurdes Rodrigues.
Os principais motivos da nossa contestação dizem respeito à modalidade dos concursos, à recuperação do tempo de serviço congelado, a uma maior justiça e equidade na progressão na carreira, na avaliação do desempenho docente, ajudas de custo para os professores deslocados, uma actualização de vencimentos, maior vinculação e estabilidade e a redução do excesso de burocracia em vigor.
Basicamente um maior respeito pela figura do professor.
Comecemos por coisas simples, mas elucidativas: a mudança do nome do Ministério da Educação.
Ministério da Educação Nacional (Estado Novo), Ministério da Educação e Cultura, Ministério da Educação e Investigação Científica, Ministério da Educação e Ciência, Ministério da Educação e das Universidades, Ministério da Educação.
Em quase 50 anos ocorreram 12 alterações. Se não nos entendemos com algo tão simples como o nome do ministério, como chegaremos a acordo com as políticas educativas?
Seguem-se os ministros; desde Eduardo Correia a João Costa, tivemos 33 ministros da educação, o que perfaz uma média de um ministro por cada ano e meio, aproximadamente.
Todos convictos que as “suas” políticas educativas iriam fazer a diferença e, dessa forma, introduzindo constantemente alterações, muitas vezes sem aferir com rigor os seus efeitos práticos.
E daí que somos sucessivamente confrontados com os paradigmas educativos: a área-escola, o ensino tecnológico, o ensino profissional, os objectivos, a área de projecto, as competências, os conteúdos, os objectivos mínimos, a Cidadania e Desenvolvimento, a interdisciplinaridade, a transdisciplinaridade, o perfil, a articulação, as metas, as aprendizagens essenciais, a inclusão, a flexibilidade curricular, a supervisão pedagógica, a avaliação por domínios, as rubricas.
Numa sociedade civilizada, o professor deve ser sempre encarado como uma referência de autoridade e um veículo primordial na transmissão de atitudes, valores e conhecimentos.
Contudo, as sucessivas políticas educativas têm subalternizado estas dimensões, dando especial relevância a outras, tais como a burocracia. Vivemos actualmente atolados de grelhas.
Na prática, um monte de documentos de utilidade muito duvidosa. E o tempo que se perde neste labirinto burocrático!
O tempo para pensar a aula, as aprendizagens reais, o entusiasmo de alunos e professores, tudo isso foi relegado para segundo plano.
Os sucessivos governos têm vindo a desvalorizar a dimensão social e profissional dos professores, sem perceberem que sem profissionais acarinhados, pagos condignamente e respeitados, não há país.
Mais do que professores, funcionários, alunos e famílias, é todo um sistema escolar que está em causa, contribuindo para afastar muita gente da profissão, com efeitos perversos na falta de professores que se verifica actualmente.
A agressão a um qualquer professor é um acontecimento banal.
Quanto aos professores contratados, estamos a falar de profissionais com 10,15, 20 ou mais anos de serviço, com a casa às costas, longe das famílias, sem qualquer ajuda de custo, nem vínculos que lhes confiram estabilidade e dignidade.
Quando somos confrontados com as injecções massivas de dinheiro na banca, a impunidade e os perdões de dívidas monstruosas a alguns dos nossos gestores, empresários e banqueiros, com as obscenas indemnizações e com a corrupção endémica que assola o nosso país, dificilmente nos convencem que não há dinheiro.
Termino, citando gostosamente Sebastião da Gama “Cada vez me apetece menos classificar os rapazes, dar-lhes notas, pelo que eles “sabiam”. Eu não quero (ou dispenso) que eles metam coisas na cabeça; não é para isso que eu dou aulas. O saber – diz o povo – não ocupa lugar; pois muito bem: que eles saibam, mas que o saber não ocupe lugar, porque o que vale, o que importa (e para isso pode o saber contribuir e só contribuir) é que eles se desenvolvam, que eles cresçam, que eles saibam “resolver”, que eles possam “perceber”.