Figura da alta burguesia com “acção notável” no apoio social é homenageado pelo neto, num exemplar que dá conta da sua vida e obra
Francisco de Paula Borba, médico e “figura incontornável” no município na primeira metade do século XIX, foi homenageado pelo neto, Francisco Moniz Borba, num livro que dá conta do seu contributo à cidade sadina.
Descrito como “um projecto de vida de há muitos anos”, Francisco Moniz Borba cumpre agora, com o lançamento do exemplar ocorrido no Salão Nobre dos Passos do Concelho, “o objectivo de partilhar com a sociedade civil os documentos guardados há muito em casa, para que não morram no pó das gavetas e estantes”.
Apesar de ter nascido sete anos após a morte do avô, Francisco Borba descreve-o com “um homem da alta burguesia que tinha uma relação fantástica com o operariado”. “O meu avô foi um homem com uma acção notável no campo da assistência, do apoio social e da medicina, principalmente nos anos 20. Esta obra refere precisamente a sua acção como médico na cidade, onde adquiriu grande popularidade por ser uma pessoa extremamente bondosa”, afirma.
“Francisco de Paula Borba – vida e obra” está organizado nos principais capítulos em que a sua vida se enquadrou, representando uma “republicação de forma organizada” de tudo aquilo que já foi escrito sobre si.
Consultas gratuitas deixaram marca na cidade
Paula Borba iniciou a sua actividade no município a 1 de Agosto de 1898. Tendo nascido em Angra do Heroísmo 25 anos antes, foi na Farmácia Abreu, na rua Antão Girão, que realizou a sua primeira consulta médica.
No primeiro ano em que exerceu funções, o médico efectuou 3542 visitas a domicílios, tendo sido a grande maioria gratuitas. “À época, Setúbal vivia uma situação carenciada. Ao perceber isso, o meu avô começou a desenvolver uma obra que intervinha numa série de instituições”, conta Francisco Borba.
Nove meses após a sua chegada a Setúbal, Paula Borba “ofereceu-se para prestar serviço no Hospital da Misericórdia de Setúbal de forma gratuita”, tornando-se responsável por uma enfermaria, tendo sido, mais tarde, nomeado director da mesma.
Eleito Provedor da Santa Casa da Misericórdia em 1917, levou a cabo “uma grande revolução no hospital”. “Na altura, havia muita dificuldade no abastecimento de alimentos e até alguma especulação em relação ao preço dos cereais. O meu avô decide então criar uma padaria dentro do próprio hospital, de forma a garantir o seu abastecimento, bem como o das identidades que dali dependiam e das instituições de beneficência da cidade”, afirma o neto.
“O SETUBALENSE teve um papel importante no percurso do meu avô”
Como jornal mais antigo de Portugal Continental, Francisco Borba descreve O SETUBALENSE como um elemento que se distingue “dando voz ao povo” em defesa do avô.
“Estando em plena guerra, o meu avô é mobilizado para Ourique. Assim que se soube, a Misericórdia criou um movimento para que despacho de mobilização seja anulado. É O SETUBALENSE quem faz o apelo à população para que o meu avô não saia da cidade. Este apelo acaba por dar origem a uma reunião de onde sai uma comissão eleita directa para Lisboa exigindo que o despacho seja revogado. E foi”, refere Francisco Borba.
Nos seus últimos dias de vida, já internado no Hospital Escolar de Santa Maria com o que se deduz que tivesse sido um cancro no pâncreas, O SETUBALENSE “passou a emitir diariamente um boletim médico, que afixava num placard dando conta da evolução da doença”.
“O seu enviado especial, José Agostinho Paulo, dava conta detalhadamente das pessoas que se deslocavam ao hospital para se informarem do estado do enfermo, e no dia 21 de Junho esteve pela primeira vez junto do Dr. Borba, que lhe agradeceu o interesse do jornal no acompanhamento da sua doença”, pode-se ler-se numa das páginas do exemplar.