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“Não temos tempo a perder”

“Não temos tempo a perder”

“Não temos tempo a perder”

9 Novembro 2022, Quarta-feira
Deputada do Partido Socialista Círculo Eleitoral de Setúbal

“Estamos numa auto-estrada rumo ao inferno com o pé no acelerador”, disse António Guterres na cimeira de implementação da COP 27, que está a decorrer no Egipto. A actividade humana está na origem das alterações climáticas, mas isso também significa que a solução reside em todas e todos nós.

Se é certo que os compromissos expressos no Acordo de Paris já terão ficado para trás, não nos podemos resignar e deitar a toalha ao chão. Desistir perante a adversidade não vai resolver os nossos problemas, ainda que já não consigamos ir a tempo de reverter alguns dos efeitos das alterações climáticas e com os quais teremos somente de saber lidar. Há que encarar, contudo, a adversidade e o desafio da urgência climática com renovada ambição e determinação, nomeadamente na descarbonização da economia, na eficiência energética e na promoção da economia circular. No contexto de uma crise inflacionária agravada pela crise energética e pela guerra na Ucrânia, a aposta na transição energética é também a melhor resposta para combater estruturalmente esta crise e reduzir a nossa dependência energética.

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No entanto, o combate às alterações climáticas não pode estar circunscrito aos países desenvolvidos. Primeiro, porque a resposta a uma crise ecológica global tem de ter necessariamente uma resposta transnacional. E porque sabemos também que os países em desenvolvimento serão os mais afetados pelos efeitos da crise climática, sem infraestruturas e serviços públicos capacitados para apoiarem as pessoas afetadas, e sem condições para se adaptarem e mitigarem estes efeitos. Prevê-se que os fenómenos climáticos extremos possam vir a criar milhões de refugiados climáticos com consequências geopolíticas imprevisíveis. Os países desenvolvidos têm, por isso mesmo, o dever moral de apoiar os países em desenvolvimento no processo de transição energética, mas também de adaptação e mitigação dos efeitos das alterações climáticas.

O Secretário-Geral das Nações Unidas alerta-nos também que “o nosso planeta está a aproximar-se de pontos de viragem que vão tornar o caos climático irreversível”. Neste sentido, não podemos passar ao lado deste flagelo, temos de nos envolver nesta luta para salvarmos o planeta para as gerações atuais e futuras. Não só através da mudança de mentalidades e de hábitos, mas acima de tudo de uma alteração profunda das regras globais de produção e dos padrões de consumo. Sem sustentabilidade, não teremos um planeta habitável a deixar às gerações futuras.

Portugal tem dado passos importantes para combater as alterações climáticas, com uma estratégia ambiciosa que se materializou, nos últimos anos, no encerramento das duas centrais a carvão ainda existentes em Sines e no Pêgo (responsáveis até 2018 por sensivelmente um quinto de todas emissões de gases com efeito de estufa), e em termos conseguido que três quintos de toda a eletricidade consumida em Portugal provenham de fontes renováveis. Isto para além da maior reforma estrutural das últimas décadas no setor dos transportes públicos, que permitiu uma redução tarifária sem precedentes e um investimento significativo no reforço da oferta de serviço – na ferrovia, na aquisição de material circulante e de novas embarcações, na renovação das frotas de autocarros, entre outros. Há que prosseguir este caminho e aproveitar todas as oportunidades que o PRR possa potenciar na aceleração da descarbonização da economia, em particular da indústria.

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Finalmente, a resposta ao problema climático tem de estar ancorada na democracia, nas pessoas e nas instituições. Não podemos perder a fé no processo democrático, por muito frustrante que por vezes possa ser, porque é através dele que devemos fazer avançar as reformas necessárias ao combate à crise climática. Certamente, não será pela destruição do património histórico e cultural ou pela tentativa de desacreditar a democracia e as instituições. O protesto ocupa um lugar importante no despertar das mentalidades e em pressionar os decisores políticos, mas não pode ser inconsequente e afastar-se da participação cívica e democrática.

Churchill dizia que “é a coragem para continuar que conta”. Tenhamos, por isso mesmo, a coragem de continuar este caminho. Pela justiça climática para com as gerações atuais e futuras e para com todos os Povos.

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