Que farsa grotesca, o referendo para a anexação das regiões usurpadas à Ucrânia. Que discursos mais grotescos, na comemoração patética do esbulho, violador grosseiro do direito internacional. Que grotescos, Lavrov, Peskov e toda a nata dos fiéis cortesãos de Putin, alinhados com ele na sanha expansionista, na paródia comemorativa e no mais que se verá. Tantos grotescos sonhadores de impérios e empenhados odientos ao Ocidente, a festejarem o roubo ensanguentado de parte substancial do chão ucraniano, com as graças da sacrossanta Igreja Ortodoxa russa e a bênção do santo patriarca de Moscovo. Que grotescos!
Não, não se trata de implicar, ser inimigo ou querer mal à Rússia e ao povo russo. Nada disso. Do que se trata é de dar razão a quem a tem e de condenar quem atentou e atenta contra a paz na Europa e a segurança no mundo, ao invadir, fazer a guerra e ocupar. Trata-se de defender o tino e a civilização no relacionamento entre os povos, que não pode regredir à era das invasões.
Um regime degenerado e anacrónico; desconfiado da própria sombra; especializado em maquinações grotescas e acusações delirantes; conspirador que se faz vítima de conspirações; provocador que acusa de ser provocado; agressor que se queixa de agressões; que lida mal com a verdade, a justiça e a honra; que aldraba e reprime ferozmente o seu próprio povo; que discrimina as minorias étnicas da Rússia e as utiliza como carne para canhão; que é intolerante para com outras minorias; que atraiçoa um país irmão e o rouba com descaro; que permite (ou ordena?) à soldadesca o roubo, a tortura, a violação, o rapto, a matança de civis e o arraso de povoações como não víamos desde Hitler, um tal regime não pode ser considerado, merece a oposição mais enérgica e o mais profundo desprezo dos amantes da humanidade e da paz e da liberdade e da decência. Como não?
O que o exército de Putin já fez à Ucrânia não tem justificação nem perdão. É agressão expansionista, gratuita, monstruosa a um país soberano e a um povo que quer ser livre de suseranos. E as conquistas propaladas pela propaganda do Kremlin não são vitórias, nem glórias. São, antes, cobardia e opróbrio que mancharão para sempre a Rússia.
A guerra de Putin pelo seu império e contra os moinhos de vento da sua imaginação doentia tem tudo para lhe correr mal. Está a correr-lhe mal e poderá vir a correr-lhe ainda pior. Tanto mais, que não se vislumbra, entre a camarilha que o serve com fidelidade canina e ganância de enriquecimento ilícito (quando o imperador dá o exemplo…), um Sancho capaz de lhe apaziguar os delírios e refrear as provocações e os ímpetos. A História, que nunca foi de perdoar, não deixará de julgá-los. Como merecem.