José Marques Silva (Padeirinho) cumpre mais uma Primavera dentro de dois meses. Defendeu as cores de Carcavelinhos, Barreirense, Atlético, CUF, Luso e chegou a estar dois anos castigado. Tudo por causa do… “Pai Natal” do Benfica
MÁRIO RUI SOBRAL
É o mais antigo jogador federado de futebol do País. Jogava como extremo-esquerdo e é da região. Está prestes a “marcar mais um golo”, quando daqui por dois meses comemorar mais uma Primavera.
José Marques Silva – “mais conhecido por Padeirinho e santoantoniense”, como faz questão de vincar – vai completar 100 anos de vida e ainda tem bem presente na memória vários momentos que experimentou dentro das quatro linhas, que conta de uma forma ternurenta e tão descontraída que consegue arrancar sorrisos a qualquer um que se aperceba da conversa.
O DIÁRIO DA REGIÃO foi encontrar José Marques Silva, o Padeirinho, numa clínica no Barreiro, onde esperava por vez para realizar exames médicos. O discurso surgiu naturalmente, até porque o antigo futebolista de 99 anos e 10 meses de idade irradia boa-disposição, é contagiante na construção da sua narrativa e tão afável no trato quanto preocupado com a imagem, dando-se ao luxo de tirar a boina que o acompanha só para posar para a fotografia.
Quando começa a lembrar os seus tempos no futebol, então, é uma delícia. Num ápice, toda a gente em seu redor apercebe-se da riqueza das estórias que José Marques Silva, o Padeirinho (convém reforçar, tal como o próprio sempre o faz), tem para revelar.
O tempo escasseia, porém num instante o antigo extremo-esquerdo consegue dois rasgos, driblando os minutos para dar a conhecer aos leitores do DIÁRIO DA REGIÃO outros tantos episódios que lembra com um sorriso maroto.
Defendeu as cores do Carcavelinhos, passou oito anos no Atlético, alinhou pela CUF e encerrou a carreira no Luso. Mas, sem esquecer que trocou os olhos a muitos bons defesas-direitos quando representou também o Barreirense, onde apanhou dois anos de castigo disciplinar.
“Joguei três anos no Barreirense e apanhei dois de castigo. Estava farto de levar porrada de um calmeirão do Marítimo e fui queixar-me ao árbitro. Ele não quis saber e chamou-me maricas”, lembra José Marques Silva, recordando o insólito que se seguiu. “Eu era novo e o Moreira, que era conhecido como o ‘Pai Natal’ e que foi para o Benfica, disse-me assim: ‘Epá, o árbitro chamou-te maricas, dá-lhe um murro na cara’. E eu dei e apanhei dois anos de castigo”, recorda o Padeirinho.
José Marques Silva lembra ainda que terminou a carreira ao serviço do Luso do Barreiro, proveniente da CUF. “Foi no Luso que acabei. Tinha vindo da CUF para o Luso. Quando jogámos contra a CUF, ganhámos 4-0 [ao Luso] e fui eu que marquei os quatro golos”, finalizou, com a mestria própria de quem sempre gostou de jogar ao ataque.