Estava escrito nas estrelas que viria a enveredar pela política. Os sinais foram dados em casa e reconhecidos na catequese. Carlos Albino fez o resto
Aos 29 anos – completa 30 no dia 9 de Setembro –, Bárbara Dias conquistou a presidência da Junta da União das Freguesias de Baixa da Banheira e Vale da Amoreira, na Moita, e cerca de quatro meses depois, em Janeiro último, foi eleita deputada à Assembleia da República. Foi na catequese que lhe reconheceram qualidades para ingressar no mundo da política. Mas a queda para a coisa foi detectada muito antes, logo em tenra idade, sem causar surpresa a quem melhor a conhece. Estava escrito nas estrelas.
“Sempre gostei muito da política. Em pequenina já dizia que queria ser política, já reivindicava sobre tudo e não aceitava, nem do meu pai, um ‘porque sim’ ou um ‘porque não’ como justificação de algo. A minha mãe até costumava dizer que eu era muito pespineta”, conta Bárbara Dias, que liderou a Juventude Socialista (JS) a nível concelhio e, mais recentemente, a nível distrital – exerceu um mandato, que terminou em Março passado, recandidatou-se, mas não foi reeleita.
Mestre em Engenharia do Ambiente pela Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, onde também concluiu a respectiva licenciatura e onde foi vice-presidente da Associação de Estudantes em 2016, actualmente a socialista acumula ainda funções de secretária nacional na JS, para a área ambiental, e integra a Comissão Política Nacional do PS. E para explicar como aqui chegou é preciso recuar mais de uma década.
“Em 2010 a minha catequista, dona Antónia, disse-me: ‘Tu eras boa para ir para a JS’. Sempre senti uma afinidade pelo PS e achei boa ideia. Mas não fui logo. Em 2013, ela falou de mim a Carlos Albino, então líder da JS e hoje presidente da Câmara da Moita, e ele abordou-me para entrar na lista do PS (em lugar não elegível) para a Assembleia Municipal, liderada por Luís Chula. Se hoje estou aqui, foi também pela dona Antónia e por Carlos Albino.” Curioso, destaca, foi o destino cruzado com Luís Chula, que em 2017 foi cabeça-de-lista à Câmara da Moita. “Ele foi eleito vereador, tendo aceitado o pelouro da Protecção Civil, e convidou-me para assessora. Coisas do destino”, recorda, para voltar de novo atrás e salientar que a adesão ao PS não teve influências caseiras.
“Na altura, ninguém da minha família era militante em partidos. Tenho memória do meu avô materno debater política com o meu pai e sei que ele chegou a ser autarca em Covas do Douro, Sabrosa. Chegou a ser filiado no PS e acabou por se desfiliar, mas não sei os motivos. Só soube desta história há pouco tempo. A minha mãe também chegou a ser militante do partido, mas nunca activa. Nada disto, porém, influenciou a minha escolha, entrei no PS apenas por me identificar com o partido”, frisa.
A máxima de Baden-Poweell
A célebre frase “Procurai deixar o mundo um pouco melhor do que o encontraste”, escrita por Baden-Powell, fundador do escutismo, é uma máxima que carrega e tenta seguir todos os dias, admite a jovem socialista, que até há pouco tempo era dirigente no Corpo Nacional de Escutas 371 (ver caixa). Uma máxima que se reflecte na forma como olha para a participação na vida política. “O que mais atrai na política é o poder transformador das nossas acções, para mudar para melhor a vida das pessoas. O mais bonito é podermos ser agentes transformadores da sociedade”, afirma, ao mesmo tempo que assume, sem pruridos e em tom sincero e humilde, o sonho que detém em termos de carreira política.
“Nunca apontei como objectivos os cargos que tenho hoje (presidente da Junta e deputada parlamentar), apenas fui aproveitando, com muito trabalho, as oportunidades que me foram proporcionadas. Não tinha a perspectiva de ser cabeça-de-lista à Junta, até estava na altura a preparar a minha estreia profissional no sector privado. Mas confesso que um dia gostaria de ser ministra do Ambiente, que é a minha área.”
Para já, realça, é a Junta da Baixa da Banheira e Vale da Amoreira que absorve toda a atenção e emoção. “Tem sido bastante desafiante, porque esteve sob gestão do PCP/CDU durante 47 anos. Estamos a tentar transformar a Junta de acordo com o que propusemos ao eleitorado. Tem sido um verdadeiro desafio, mas está a correr muito bem, porque estamos a realizar um bom trabalho”, analisa. A falta de recursos humanos nas oficinas da Junta, lamenta, é exemplo dos vários obstáculos com que diz se ter deparado desde que assumiu funções. “Temos três funcionários nas oficinas. Mesmo assim temos dado conta do recado”, afiança. Até porque, ressalva, tem tido na equipa que lidera um suporte enorme. “Tenho a sorte de ter neste executivo uma equipa muito experiente, dinâmica e multifacetada.”
Foi já depois de conquistar a presidência da Junta que Bárbara Dias viu abrirem-se-lhe as portas da Assembleia da República, eleita que foi deputada pelo círculo de Setúbal – indicada para a lista pela JS. Ainda admitiu desempenhar em simultâneo os dois cargos, mas à última hora optou por suspender o mandato no parlamento, para se dedicar de corpo e alma à União das Freguesias. Todavia, não esconde que o pressuposto “é acumular as duas funções”. “Decidi abdicar para me focar a 100% na Junta. Daqui a cerca de um ano farei uma avaliação, porque a responsabilidade em relação à Junta e a ambos os eleitorados é enorme”, adianta, para deixar de seguida uma confissão. “Nunca imaginei que aos 29 anos seria presidente da Junta e deputada à Assembleia da República”, atira a jovem, que, a concluir, se define como “uma pessoa muito genuína, alegre, solidária, exigente consigo e com os outros, com sentido de justiça aguçado e sempre com muitas ideias”.
Escuteiros Baptizaram-na de ‘Abelha Tagarela’
Se há coisa que não falta a Bárbara Dias é assunto. É boa conversadora e fala pelos cotovelos. Por aí, e não só, se explica o totem que recebeu no Corpo Nacional de Escutas (CNE) 371, da Baixa da Banheira, ao qual aderiu aos 9 anos. “Bá ou Babá é como, num círculo íntimo, alguns me tratam há longa data. Nos escuteiros foi-me atribuído o totem pessoal de ‘Abelha Tagarela’, pela veia comunicadora, depois de sugerirem ‘Abelha Enciclopédica’, pela capacidade que tenho em memorizar datas históricas. Para datas de aniversário sou horrível”, confessa. O escutismo, de resto, ficou de lado com a eleição para a Junta. “Decidi não continuar para ter um posicionamento imparcial em relação à instituição, mas também por falta de disponibilidade, porque ser dirigente do CNE não é só aparecer aos sábados, implica muito trabalho de preparação com os jovens”, remata.
Bárbara Dias à queima-roupa
Idade: 29 anos
Naturalidade: Baixa da Banheira
Residência: Baixa da Banheira
Área: Política
Mestre em Engenharia do Ambiente, confessa-se apaixonada desde criança pela política e não esconde o sonho de vir a ser ministra na sua área de formação.