Desde pequena que sabe o que quer e não tem medo de experimentar até conseguir criar um mundo onde criatividade e exactidão se unem num futuro verde
A primeira vez que Carolina Almeida viu National Geographic não conseguiu desviar os olhos do ecrã da televisão. Tinha seis anos quando o mundo se expandiu além da fl oresta atrás de casa onde costumava brincar e da horta dos vizinhos onde ajudava a apanhar feijões.
“De repente, existiam tigres, leões e girafas”, lembra. Uma realidade que escapava a tudo o que tinha conhecido até então na pacata vila do Zambujal, em Sesimbra, onde pertence.
Fantasiava com as estórias da mãe madeirense e do pai angolano que sempre viveram rodeados de natureza e idealizou um futuro semelhante: “Soube que, quando ‘fosse grande’ queria trabalhar com e para a natureza”.
Hoje, com 22 anos, não sabe se já é grande como imaginava, mas está cada vez mais perto de concretizar o desejo de pequena. Junto à Fortaleza de Santiago, mostra-se alegre e muito confiante no percurso que tem feito.
“Já trabalhei aqui”, diz a apontar para o Museu Marítimo de Sesimbra onde foi guia. “Tem um aquário digital com todas as espécies de peixe que existem na costa de Sesimbra. Quando não existiam visitas, passava o meu tempo a descobrir novas espécies”, relembra.
Define-se como uma rapariga prática e isso revela-se no que traz vestido. Umas jardineiras que lhe seguem os movimentos com um lenço verde atado à cintura, escolhido pelo seu lado mais criativo.
A curiosidade aguçada está à vista de qualquer um, embora em tempos tenha pensado não bastar para seguir Biologia: “Cheguei a pensar que não era inteligente o suficiente. A área da Ciência parecia-me muito assustadora”.
Duas paixões, uma só Carolina
Amparou-se na sua segunda paixão, a Arte, que descomplicou o que a primeira escondia. “Para mim, a Arte sempre foi um meio de tornar a Ciência acessível a um maior número de pessoas. Quando começas a ver Ciência em museus percebes que é tão preponderante ao ponto de moldar o mundo, o que também traz inspiração à Arte”.
Não só a Ciência deixou de ser assustadora como, terminada a Licenciatura em Biologia Ambiental, em2021, percebeu que o caminho não passava por aí. “As coisas em Ciência são muito vagarosas e eu sou uma pessoa com pressa”, garante.
Aos poucos, a veia de artista exigia mais atenção, mas a sesimbrense recusava-se a deixar Biologia para trás. “Sou uma pessoa de muitos interesses. O ideal seria juntar Biologia e Arte numa só”.
Foi o que pensou quando seguiu para o curso de Ilustração Científica, no Museu de História Natural de Lisboa. Passava os dias a desenhar seres vivos marinhos, os quais estava habituada a ver nas praias de Sesimbra, mas ainda não se sentia satisfeita.
“Estava frustrada. Faltava a parte social e de envolvência da sociedade. Quero trazer algo palpável para o mundo”, conta. Habituou-se a ter um contributo activo ao participar em diversas acções de voluntariado e não lhe fazia sentido não fazer o mesmo na área das ciências exactas.
“É muito difícil fazer omeletes quando não tens uma frigideira” O momento ‘Eureca’ deu-se num estágio no Instituto Gulbenkian de Ciência, onde se envolveu no projecto ‘Lab in a suitcase’, que cedia kits com materiais indispensáveis à investigação por um custo mais reduzido, a países parceiros de origem africana.
“Foi das melhores experiências de sempre”, revela. “Isso é tornar a ciência acessível a todos. É muito difícil fazer omeletes quando não tens uma frigideira ou um fogão e foi assim que percebi como a Biologia pode ter uma função mais utilitária, além da investigação científica”.
Depois de tomar o gosto de “descomplicar a Ciência”, não quis parar. Voluntariou-se para o cargo de copywriter na ‘Reboot’, uma Organização Não Governamental (ONG) portuguesa, onde está actualmente a escrever sobre sustentabilidade.
“Podemos ser sustentáveis a todos os níveis, basta termos o conhecimento certo. Já escrevi um artigo sobre como ter sexo sustentável. É possível”, exclama a rir.
O passo seguinte é largar a terra que a viu nascer e rumar a terrenos espanhóis. Está a preparar-se para iniciar um Mestrado em Design de Futuros Emergentes, no Instituto de Arquitectura Avançada da Catalunha e as expectativas não poderiam ser mais elevadas.
“Estou super entusiasmada”, refere. Vai estudar para desenvolver protótipos de edifícios simbióticos que combinam a arquitectura moderna com matérias naturais. “A ideia é criar cidades onde a relação com a natureza não seja feita de partes. É como um todo, onde não se consegue identificar onde termina uma e acaba outra”.
No fundo, é o contributo que queria dar: preparar-se para criar “algo palpável”, como tem ambicionado nestes longos 22 anos.
Carolina Almeida à queima-roupa
Idade: 22 anos
Residência: Sesimbra
Naturalidade: Sesimbra
Área: Ambiente
Não sabia se era “inteligente” para seguir Biologia, mas arriscou. Hoje, quer tornar a Ciência uma área de todos e para todos.