A última sessão plenária da Assembleia da República deste mês de julho ficou marcada pelo insulto, por parte do Partido Chega, a todos aqueles que escolhem Portugal para fazer as suas vidas, que cá trabalham, estudam e contribuem para o avanço económico, cultural e social do nosso país.
Seguiu-se uma pertinente afirmação por parte Augusto Santos Silva, Presidente da Assembleia da República, salientando o papel fundamental que os emigrantes tiveram, e têm, na construção e no desenvolvimento do nosso país. Portugal é, desde sempre, um país de emigrantes e de imigrantes.
Na Casa da Democracia o discurso xenófobo e racista não pode ter lugar e ao Presidente da Assembleia da República não cabe apenas ser um inerte árbitro: cabe-lhe também defender a Constituição da República Portuguesa e impedir a normalização de narrativas que atentam contra os mais básicos direitos humanos.
Seguindo o guião da vitimização costumeira, o Grupo Parlamentar do Partido Chega deu seguimento à sua rábula e abandonou o hemiciclo. Pelo meio, um Deputado do Partido Chega, não alinhado com a encenação, entrou no hemiciclo para ocupar o seu lugar, não percebendo que a bancada se havia retirado, tornando este episódio ainda mais anedótico.
Este abandono, curiosamente, permitiu que, pela primeira vez em alguns meses, discussões importantes para o futuro do país pudessem sem feitas como deveriam ser sempre: de forma civilizada, sem explicações simplistas para problemas complexos e sem aproveitamento dos mais básicos medos e receios que florescem em qualquer sociedade.
Entre a IL, o PSD, o PAN, o PS, o Livre, o BE e o PCP existe um mundo de ideias diferentes, de visões de sociedade alternativas – mas é possível encontrar um chão comum que passa pelo respeito pelas instituições, pela democracia, pela liberdade e pelo igual tratamento de todos os cidadãos perante a lei. Para o Partido Chega, nem todos merecem ter os mesmos direitos, independentemente de terem os mesmos deveres.
Deste episódio ficam ainda os relatos, veiculados por diversos órgãos de comunicação social, de insultos e até ameaças de agressões proferidas nos corredores do Parlamento por elementos do Partido Chega. A criação de instituições onde a Política pode ser debatida foi também uma forma que a humanidade encontrou de resolver disputas sem recorrer à violência, pelo que esta é apenas mais uma deplorável cena desta triste novela.
Condescender com o Partido Chega não é apenas pôr em causa um caminho de civilidade construído com o sacrifício de muitos e que hoje nos permite viver em liberdade e em paz. É também condescender com quem importa uma cultura inaceitável de “hooliganismo” para o debate político.
A moral da história – desta e de outras, do passado e do presente – é que quem adormece em democracia, acorda em ditadura. Cumpre aos democratas trabalhar para que movimentos deste tipo, que promovem o ódio e envergonham a nação portuguesa e o seu passado, não tenham adesão popular e, como consequência, não tenham lugar na Assembleia da República.