28 Junho 2024, Sexta-feira

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Saúde domina debate das autárquicas no Montijo

Saúde domina debate das autárquicas no Montijo

Saúde domina debate das autárquicas no Montijo

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Debate entre candidatos à Câmara do Montijo encheu Cinema teatro Joaquim d’ Almeida. Além da Saúde, o aeroporto foi outro dos assuntos em destaque num confronto em que as finanças municipais, o urbanismo, limpeza da cidade e transportes públicos também mereceram abordagem 

O acesso dos montijenses à Saúde foi o tema que mais marcou o debate entre os quatro candidatos à Câmara Municipal do Montijo, nas eleições autárquicas, que encheu o Cinema Teatro Joaquim d’ Almeida no início desta semana.

Os candidatos Carlos Jorge de Almeida (CDU), João Afonso (PSD/CDS-PP), Cipriano Pisco (BE) e Nuno Canta (PS) – pela ordem de sorteio – mostraram, sobretudo neste tema, mas não só, as diferenças ideológicas próprias das forças políticas que os apoiam.

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O candidato comunista, depois considerar que a Saúde no Montijo é “desastrosa” – um diagnóstico semelhante ao que já tinha feito ao estado geral do concelho -, defendeu que o papel do município deve ser de reivindicação e exigência para com o Governo, que tem as atribuições e competências em matéria de saúde.

“O município pode exigir, por parte dos governos, o cumprimento do direito de acesso à Saúde”, que está previsto na Constituição, e a “recuperação de todas as valências do hospital do Montijo”, disse Carlos Jorge de Almeida. O cabeça-de-lista da CDU lembrou ainda que os grandes centros hospitalares nunca foram apologia do seu partido e argumentou que a oferta de saúde no concelho, incluindo centros de saúde, “está aquém” do direito previsto constitucionalmente.

Já João Afonso, da Coligação Mais Montijo (PSD/CDS-PP), foi o primeiro a falar do tema Saúde, prometendo, logo na sua intervenção inicial, a construção de um novo hospital no Montijo, num investimento de cinco milhões de euros. O candidato afirmou que essa é uma das suas prioridades e que com esse montante a autarquia pode construir um hospital com quatro valências; consultas, análises clínicas, imagiologia e Serviço de Atendimento Permanente (SAP), que seria depois gerido em parcerias com Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS).

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De acordo com o cabeça-de-lista da coligação, o Montijo tem actualmente um hospital apenas de “nome”, com o Barreiro a “tutelar”, pelo que é necessário “outro paradigma” porque “a situação tem que mudar, em benefício das pessoas e não em beneficio das teorias partidárias”.

Cipriano Pisco, do BE, diz que “o problema do hospital [do Montijo] já vem de há muito tempo” e que “começa nos centros de saúde”, sustentando que “não é por acaso que há tantas pessoas sem médico de família”. O candidato bloquista recorda que a maternidade no Montijo fechou “no tempo de Leonor Beleza” como ministra da Saúde.

A proposta de Pisco para a saúde passa por o município “exigir mais condições e mais valências” para o hospital do Montijo. Quanto à proposta de um novo hospital, apresentada por João Afonso, o cabeça-de-lista do BE deixa duas perguntas: “Depois [de construído] como funciona? Quem é que pode ir para o novo hospital?”

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Sobre este tema, Nuno Canta, do PS, constatou que todos estão “de acordo” que se trata de um direito constitucional, mas recordou que o Serviço Nacional de Saúde (SNS) foi criado por um socialista (António Arnaut) e acrescentou que “a Câmara Municipal do Montijo não abdica de ter o SNS, que é o Centro Hospitalar Barreiro-Montijo”.

Para o presidente recandidato, foi a luta do PS que conseguiu “manter as urgências no Hospital do Montijo, através do protocolo” celebrado entre a autarquia e a Administração Regional de Saúde (ARS). “Não perdemos tudo, ganhámos a Cirurgia de Ambulatório, que é considerada uma das referências no país”, atirou Nuno Canta.

O candidato Socialista diz que não se pode afirmar que “o protocolo não é cumprido” acrescentou ainda não estar “completamente satisfeito” pelo que o PS está a trabalhar para conseguir outras valências para o hospital, nomeadamente uma nova ambulância e o aproveitamento de uma ala para instalação de um centro de saúde.

Numa segunda ronda sobre o tema, Carlos Jorge de Almeida disse ainda que a promessa de João Afonso, de construir um novo hospital, “aumentaria a dívida do município em 10 a 12 milhões de euros” e que os montijenses “passariam a pagar por um direito constitucional”; João Afonso acusou a CDU de querer apenas um hospital novo no Seixal e de, “na prática”, no Montijo, ser diferente do que é em Almada, onde “permitiu a construção de um novo hospital do Grupo CUF” – Carlos Almeida respondeu que não foi a Câmara de Almada que pagou –; Cipriano Pisco disse que o BE “não está de acordo com a proposta do PSD/CDS-PP” embora defenda que é necessária uma “inversão” no hospital; e Nuno Canta esclareceu que não está satisfeito com situação actual, mas que “estamos num processo de melhoria”.

Aeroporto

O tema seguinte foi o aeroporto, com Carlos Almeida a defender que a nova infra-estrutura é uma “oportunidade que se oferece ao Montijo”, mas defendeu a construção do novo aeroporto em Canha como melhor opção do que a utilização da base Aérea n.º 6 para aeroporto complementar à Portela.

“Reparem, o grande aeroporto de Lisboa, um dos maiores da Europa, poder vir para o Montijo, é uma coisa extraordinária”, exultou o candidato comunista que sustentou depois essa que considera a “melhor solução” com os pareceres de diversas especialidades.

“É por isso que somos favoráveis à opção Canha”, concluiu Carlos Almeida, sustentando ainda que quem tem que custear o investimento é a empresa concessionária dos aeroportos (ANA).

João Afonso desvalorizou a importância do aeroporto, argumentando que nada está ainda definido e que de pouco ou nada vale a nova infra-estrutura se o concelho não estiver preparado para tirar partido dessa localização.

“Nós, montijenses, não precisamos de aeroporto. Se vier, é bem-vindo, mas o que nós precisamos é de um bom projecto autárquico, de melhor Saúde, Educação e Mobilidade, que são as questões que interessam às pessoas”, defendeu. O candidato laranja argumentou que a proximidade, em si mesma, não é sinónimo de desenvolvimento e deu o exemplo de Camarate. “É a localidade mais próxima da Portela, mas alguém aqui quer ir viver em Camarate?”, perguntou. Apenas uma pessoa levantou o dedo, “apenas para contrariar”, comentou João Afonso em tom afável.

Já Cipriano Pisco reservou uma posição do BE, sobre a localização do aeroporto, para quando for conhecido o “resultado dos estudos de impacte ambiental” da instalação na BA6, mas, relativamente ao argumento do emprego que a nova estrutura pode gerar, deixou uma pergunta: “E as pessoas que estão [a trabalhar] no outro aeroporto [Portela] vão para onde?”

Nuno Canta disse que “a Câmara Municipal do Montijo enquadra o aeroporto numa perspectiva de criação de riqueza e emprego”, concordou, com João Afonso, que não é a autarquia que constrói um aeroporto. “Só se fosse um aeródromo municipal”, afirmou o candidato rosa, argumentando que a aviação civil na BA6 iria criar “dinâmica turística no Arco Ribeirinho Sul” e que os candidatos deveriam estar mais preocupados em “discutir a estratégia para aproveitar o aeroporto para desenvolver o concelho”.

O autarca recandidato, defendeu ainda que a valência aeroportuária tem muito a ver com as raízes históricas da antiga Aldeia Galega, da Mala-Posta, local de passagem para Lisboa.

Contas municipais, transportes e reabilitação urbana

O debate entre os candidatos abordou diversos outros temas, como, por exemplo, as finanças municipais, os transportes públicos – tanto internos como de ligação a Lisboa – e a reabilitação urbana da cidade.

Quanto às contas municipais, vingou a ideia, perpassada por Nuno Canta, de que o município terá uma boa saúde financeira – com os candidatos da CDU e PSD/CDS-PP a contarem até com a capacidade de endividamento da autarquia para concretizarem os seus projectos – mas, ainda assim, Carlos Jorge Almeida assegurou que uma das suas primeiras medidas, se vencer as eleições, é realizar uma “auditoria independente”.

No caso dos transportes públicos, todos os candidatos defenderam a melhoria das condições a ligação fluvial a Lisboa, sendo que, neste caso, serviu de ponto, a promessa de João Afonso de criar uma BRT (Bus Rapid Transit).

A reabilitação urbana foi uma das matérias introduzidas pelas perguntas do público. Os candidatos, de forma geral, mostraram-se sensíveis ao problema e apontaram a zona ribeirinha como a área de intervenção prioritária.

Para mais informações, agenda de debates e os vídeos entre no site da Operação Autárquicas 2017.

 

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Francisco Alves Rito – Director do DIÁRIO DA REGIÃO

Calma aparente em ambiente político ao rubro

Quem não conhece bem o Montijo pode não ter percebido a intensa rivalidade partidária que as eleições comportam neste concelho

Um forasteiro que, por acaso, assistisse ao debate entre os candidatos à Câmara Municipal do Montijo ficaria, enganado pela calma aparente, com uma percepção errada, de conflitualidade político-partidária pouco intensa.

A verdade é que, apesar de a competitividade estar ao rubro – decorrente da proximidade do número de votos e mandatos nas últimas autárquicas e da convicção de cada uma das três principais forças politicas de que a vitória está ao alcance –, a postura geral foi de ânimos controlados.

Dos candidatos à assistência – que encheu o Cinema Teatro Joaquim d’ Almeida – todos se pautaram por uma conduta de tolerância e respeito que dignifica o Montijo e a Democracia.

Todos, a começar pelos espectadores – porque aos candidatos é exigível mais – estão de parabéns pelo excelente exemplo democrático e cívico. É certo que este resultado é comum a outros debates – como já aconteceu em Palmela, que foi também um hino à democracia – mas no Montijo o mérito é maior, por ser mais difícil, atendendo à rara condição de contexto em que a disputa mais acesa passa por três candidaturas, e não apenas por duas (sendo que mesmo o verdadeiro combate entre duas candidaturas já não é para todos os concelhos do distrito).

O debate foi intenso, participado pelo público, e, pelo que se percebeu logo durante a noite e, sobretudo, nos dias seguintes, pelas reacções e comentários nas redes sociais, terá contribuído, talvez de forma decisiva, para o esclarecimento das pessoas.

Foi a primeira vez que os montijenses puderem ver os quatro candidatos em acção de confronto directo, expondo propostas, competências, capacidades e até feitios, entre outros aspectos relevantes para a apreciação e escolha.

Temos consciência de que, por este motivo, o debate terá sido um marco nestas eleições autárquicas no Montijo. Por isso, e atendendo ao efeito acrescido que poderá ter a avaliação que aqui fazemos e sendo esta sempre subjectiva, vamos conter-nos a uma apreciação um pouco mais difusa, sem veredictos de comparação directa que poderiam, neste contexto, aproximar-se de sentenças (necessariamente arbitrárias pela subjectividade).

Consciente do peso que tem no Montijo, e de como poderia influenciar as dinâmicas de campanha e distorcer o resultado, o DIÁRIO DA REGIÃO opta – pelo menos por enquanto – por deixar as conclusões maioritariamente aos leitores. É com esta reserva que devem ser lidos os textos sobre cada um dos candidatos.

OS CANDIDATOS UM A UM

Carlos Jorge Almeida (CDU)
Foi combativo, trabalhador e procurou ser envolvente. Revelou um bom conhecimento do concelho e do modo de sentir colectivo – com propostas que fazem apelo ao coração (e ao passado) como o do regresso dos barcos ao Cais dos Vapores – e mostrou consistência ideológica. Conseguiu passar a ideia de que terá algum projecto para o Montijo, porque apresentou os “quatro pilares” de intervenção mas depois também baralhou quando disse que apostará no desenvolvimento de um plano estratégico, em consenso ou parceria com a sociedade civil. Fica sem perceber-se muito bem se já há projecto ou se ainda será para fazer.

Teve como pontos fortes a capacidade argumentativa – patente sobretudo na questão do aeroporto, em que, além da extensa fundamentação pretensamente técnica, apresentou a pérola do não interessa se o aeroporto fica “em Montijo ou em Montijo” para vincar que não é contra a infra-estrutura no Montijo porque a opção do PCP (Canha) também é Montijo –, a abrangência do discurso – foi o único candidato que não se esqueceu, e logo por duas vezes, de piscar o olho aos funcionários municipais, que são mais de mil (votos).

O ponto mais fraco foi o tom de feira. Carlos Almeida falou muito, demasiado rápido e quase a cantar. Resultou pouco objectivo, menos eficaz do que poderia ter sido. Repetiu muitas vezes a expressão ‘há pedaço’, que, como português arcaico, contribui para uma imagem um pouco ultrapassada. Não foi feliz, também, quando começou a responder a um expectador com uma frase que resulta ao contrário: “É uma pergunta inteligente e eu também vou responder de forma inteligente”.

Consegue passar a ideia de que poderia ser um bom presidente de Câmara.

 

João Afonso (PSD/CDS-PP)
É o candidato que melhor consegue irradiar uma sensação de juventude, por natureza (é o mais novo), mas também pela linguagem, imagem, e, o que é mais relevante, pelo pensamento empreendedor. Mostra querer fazer, e ter ideias, novas e arrojadas (para alguns arriscadas), próprias da juventude. Passou a ideia de ter projecto, pelo menos propostas concretas, para o concelho. Aliás, conseguiu que fossem as suas promessas a marcar a agenda do debate, remetendo os adversários a uma posição de quase reacção ou comentário. Mostrou ter feito o ‘trabalho de casa’, revelando preparação, não apenas dos dossiers mas até da estratégia – marcar o debate – e da táctica – desvalorizar a importância do aeroporto relativamente ao projecto autárquico.

Tem como pontos fortes a linguagem simples, directa e concisa e a capacidade de provocar com graça. Várias vezes se dirigiu a Nuno Canta, com apartes – do jeito para as fotografias ao pedido de maioria absoluta – com piadas, a que o público achou graça e que lhe conferem uma espécie de superioridade no duelo pessoal. Acabou por ser demolidor para o actual presidente da Câmara quando leu exaustivamente o programa eleitoral do PS de há quatro anos, concluindo, em cada item de promessa, com um “onde?” que foi deixando Nuno Canta crescentemente embaraçado.

O ponto mais fraco do candidato do PSD/CDS-PP foi a forma como iniciou o debate, a ler a declaração inicial, de quase seis minutos, demonstrando alguma insegurança. Melhorou muito quando largou os papéis.

Consegue passar ideia de que poderia ser um bom presidente de Câmara.

 

Cipriano Pisco (BE)
Revelou menos ambição do que todos os demais candidatos e ia também menos preparado. Acabou por revelar não ter opinião ainda formada sobre algumas matérias – como no caso da localização do aeroporto, em que assumiu expressamente – e também não ter um projecto ou programa. Praticamente não apresentou propostas ou ideias específicas e, quando sugeriu a construção de um passadiço do Cais do Seixalinho para a cidade, Nuno Canta mostrou que essa reivindicação já está no caderno de encargos apresentado à ANA Aeroportos. Cipriano Pisco posicionou-se próximo de Nuno Canta, fazendo antever disponibilidade para alguma eventual geringonça municipal.

Os pontos mais fortes do candidato bloquista foram a consistência ideológica, a linguagem popular – que soltou gargalhadas – e a demonstração da forma desapegada com que está no combate político.

O ponto mais fraco é a fraca estruturação do discurso e da proposta que apresenta. Protagonizou um momento de alguma agitação na plateia quando se referiu a subsídios municipais recebidos pelo Olímpico.

Não conseguiu passar a ideia de que poderia ser um bom presidente de Câmara, mas também não o pretendeu fazer. Deixou logo claro que está na corrida para ser vereador.

 

Nuno Canta (PS)
Mostrou serenidade e humildade mas não escondeu estar sob forte tensão. O discurso curto, muito reflectido, denotou preocupação em não comprometer. Por isso, nunca se soltou, nem em acção nem em reacção. Não apresentou projecto, remetendo para uma estratégia de “continuidade” com base essencialmente no que diz ser o “bom governo da cidade”.

O ponto forte foi o aspecto financeiro. Do lado das contas, a sua teoria, de que o município tem uma condição sólida, não foi posta em causa. Chegou ao ponto de os dois principais adversários se referirem aos milhões que a autarquia tem de capacidade de endividamento e ser Nuno Canta a avisar que não podem contar com esse dinheiro todo.

O ponto mais fraco foi ter-se remetido à defesa. Basicamente limitou-se a ‘correr atrás’, e, ainda assim, as respostas que (não) deu aos maiores ataques dos principais adversários não foram propriamente boas. Deixou passar a classificação do estado actual do Montijo como “desastrosa” – feita por Carlos Almeida – e, pior, aceitou a conclusão apresentada por João Afonso de que o cumprimento do programa eleitoral foi “zero”. Nuno Canta respondeu com a “austeridade” quando poderia ter respondido com um “fizemos outras opções”.

Conseguiu passar a ideia de que poderia ser um bom presidente de Câmara.

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