Da programação faz parte a peça “Condomínio”, em ligação com a comunidade local
Mais do que um festival, um encontro, o Fiar regressa hoje às ruas de Palmela. Até domingo, trará à vila “artes, entusiasmo, ideias e novos sentidos” a partir de uma programação marcada mais uma vez “pela novidade e pelo risco estético”.
A sessão de abertura está marcada para as 17h00, no Pátio da Adega da Casa de Atalaia, seguida de vários momentos que procuram “dar ao público espectáculos, que normalmente podem ver em sala, implementados em espaços públicos”.
Entre estes, está a peça de teatro “Condomínio”, da Propositário Azul, com dramaturgia, encenação e interpretação de Nuno Nunes, que traz a comunidade palmelense à cena na Urbanização Nova Palmela – Praceta Lúcio Borges da Costa no domingo às 21h00.
A O SETUBALENSE, Nuno Nunes partilha que este espectáculo surgiu da vontade de transpor para teatro a sua experiência “como participante e administrador de condomínio. É um microcosmos da nossa sociedade e faz um raio-x perfeito das complexas relações que nos envolvem quando estamos ligados por questões de interesse comum”.
Com uma estrutura criada por um núcleo criativo, composto por Nuno Nunes, Sofia Dias e Tiago Sarmento, com três partes, “Ser”, “Pertencer” e Projectar”, “cada um, além disso, representa uma forma diferente de estar, pensar e agir a que chamei ‘avatar’”.
Neste “Condomínio”, os participantes são residentes no concelho ou têm algum tipo de envolvimento com Palmela. Também As Avózinhas foram convidadas a participar. “Ao todo, são 11 pessoas que, semanalmente, foram aparecendo, participando, jogando, experimentando, improvisando. Acredito que há muita vontade de muita gente em se envolver em processos de criação, nem que seja por esse espaço novo que se abre para a agitação do ser, a inquietação, a descoberta de si mesmo como outro”, refere. “A energia que isto gera liga as pessoas aos sítios, diferencia a nossa relação com os lugares e as pessoas e sobretudo é divertido, num divertimento como ‘desvio’ à trivialidade da existência”, adianta.
O bairro Nova Palmela está “intrinsecamente ligado à origem deste espectáculo. Foi a olhar para aquelas ruas paralelas, para a uniformidade daqueles blocos de apartamentos que imaginei um condomínio ‘exacerbado’, ou seja, impossível, que acontecesse na rua, entre fachadas, confrontando janelas, interrompendo o trânsito”.
Foi Dolores de Matos, fundadora do Fiar, que apresentou a Nuno este local e “não há um dia” em que ele “não veja o seu rosto e sua inabalável confiança na criatividade dos outros, na liberdade artística, nas possibilidades de concretização de imagens e de sonhos. É também por isto que o espetáculo, sobre identidade e pertença, se tem de fazer aqui. É indiscutível”.