Primeiro concerto marcado pela Emerge é esta noite. Et Toi Michel abre concerto de António Zambujo, no EA Live – Évora
Com 14 anos de experiência enquanto músico independente, actor e actualmente a trabalhar como programador cultural, o setubalense André Moniz fundou recentemente a Emerge, uma plataforma de booking que visa “ligar os músicos e as pessoas, garantir que os bons artistas chegam onde merecem estar, assegurar a diversidade no mercado e proporcionar uma correspondência entre programadores e artistas que satisfaça as expectativas de ambos”.
Valorizar os artistas e conectar as pessoas é, assim, o mote para este trabalho de agenciamento de artistas, que André Moniz acredita que será “a útil catapulta que tantas vezes tem faltado aos artistas em Setúbal” e que pode contribuir para que “os nossos valiosos músicos estejam onde merecem”.
A O SETUBALENSE, explica que a ideia para este projecto nasce “de múltiplos factores. Primordialmente virá do facto de eu me sentir, mesmo como ouvinte, geralmente insatisfeito com o mercado da música, apesar de sentir que há alguns sectores que até melhoraram bastante nos últimos anos, nomeadamente o hip-hop, onde me integro”.
Numa segunda linha, por considerar “que as oportunidades não eram equilibradas e o mercado não era saudável, até mesmo no sentido de nem sempre promover os artistas mais talentosos”, sem esquecer que o facto de ter começado também a desempenhar o papel de programador cultural fê-lo conhecer “os dois lados da vida artística”.
O jovem de 28 anos regista ainda “uma dependência muito grande” da rede de contactos. “É uma lei universal, em tudo na vida quando tens contactos as coisas são mais alcançáveis, mas a arte é um mundo à parte. Vive numa esfera diferente do que a engenharia ou a matemática”, diz.
Acção divide-se entre agenciamento e programação
À sua volta, André Moniz encontra “muita gente extremamente talentosa, que deviam chegar mais longe do que chegam. Quem é de Setúbal conhece perfeitamente a premissa de que é uma cidade de talentos mas depois parece que não chegam a lado nenhum ou são poucos os que chegam”.
No seu entender, “há mesmo muita gente a fazer coisas boas mas também é muito difícil sair daqui”. Os mercados continuam “muito centralizados em Lisboa e no Porto e assim como é que as pessoas de São Brás de Alportel, por exemplo, vão saber que em Setúbal existe o artista x ou y?”, questiona.
É precisamente para dar resposta a esta pergunta e para criar esta ponte que surge a Emerge, cuja acção se divide entre duas vertentes: o agenciamento e a programação.
“Queremos agenciar. Temos uma primeira linha de artistas e projectos, que estão desde o dia zero: Caravananana, Et Toi Michel, Ohmonizciente, Wickings e Zé Zambujo, com que trabalhamos, que acompanhamos mais quotidianamente e a quem prestamos apoio, na criação de um cartaz ou na divulgação de um lançamento ou de um concerto”, refere. “Este processo foi galopante. Tive a ideia, comecei a sentir que queria e precisava de fazer isto. Desde o início sabia que eram estes artistas que queria ter nesta primeira linha e o feedback super positivo que recebi de todos deu-me aquela força para perceber que acredito nestas pessoas e elas também acreditam em mim e na ideia, então vale a pena fazer isto acontecer”, adianta.
Para além desta vertente, que pretende “agenciar e apresentar estes projectos, muito diversificados entre si para poder corresponder a qualquer tipo de evento, a casas que precisam de artistas, que querem programar”, a Emerge tem igualmente o objectivo de fazer programação. “Se determinado sítio quer um determinado evento, nós vamos buscar os artistas e ajudamos a organizar”, explica.
Com o website no ar desde Junho, André Moniz partilha que têm chegado “mensagens de vários pontos do país a perguntar como se podem juntar”, o que, nas suas palavras, “é muito bom mas também prova que muitos artistas estão desamparados e é preciso haver mais pessoas a fazer este trabalho”.