As associações culturais, recreativas e desportivas têm uma tradição e responsabilidade histórica no concelho de Almada como elemento potenciador do envolvimento dos indivíduos na vida das suas comunidades. O seu trabalho não pode ser substituído pela acção da Câmara Municipal (CMA), tendo um papel relevante a desempenhar na formação, capacitação e ocupação de tempos livres de muitos almadenses.
No entanto, estas associações, são hoje uma pálida imagem do que foram no passado. A maioria está debilitada, sem energia, com poucas actividades e vivendo de mão estendida na dependência financeira da CMA, com a sua autonomia e independência diminuídas, resultado de muitas se terem tornado, nas últimas décadas, num braço activo das políticas partidárias de governação do município.
Enquanto umas sobrevivem outras, menos alinhadas politicamente, definham por falta de apoios financeiros e materiais. Tudo isto se acentuou fortemente com a terrível pandemia que vivemos. Por outro lado, constatamos também em muitas delas, a perpetuação no poder das mesmas caras que, faz décadas, lideram as referidas organizações. Dependência financeira e perpetuação no poder; factos que não podem ser dissociados na fraca dinâmica associativa que constatamos.
Não me cabe neste artigo individualizar situações mas sim sinalizar uma tendência negativa; a excessiva partidarização coage e diminui o papel do associativismo, não promovendo a renovação de líderes e dos agentes associativos e, por acréscimo, diminuído o seu caracter inovador e dinamizador que lhe está na essência. Os jovens estão totalmente alheados da participação e da liderança destas organizações, beneficiando por vezes delas mas nunca percebendo como podem também eles se envolverem nessa gestão, muitas vezes distante e fechada à sua colaboração.
Entendo o necessário papel destas organizações associativas no panorama cultural e desportivo concelhio e nacional, no entanto, recuso a partidarização das mesmas alimentada pela forma de financiamento da Câmara, extensível a muitos outros concelhos do Pais, elemento que fragiliza o papel do associativismo na sociedade civil.
Proponho assim um novo modelo de gestão do financiamento baseado em dois princípios complementares:
- Definição de regras claras e transparentes de atribuição de apoios, baseados no mérito dos resultados quantitativos alcançados e alinhados com um plano com objectivos e metas perfeitamente definidos e públicos;
- Envolvimento directo dos munícipes na atribuição dos subsídios, através de um cheque-associação – datado para o ano corrente e parte do orçamento da CMA para as associações – entregue por esta a cada munícipe, para que eles atribuíssem à associação à sua escolha, o montante que a Câmara disponibilizou por cada cheque.
Estes princípios cumprem três objectivos fundamentais:
- Reduzem a dependência associativa das ligações partidárias à câmara, reforçando a autonomia dos clubes e associações promovendo a acção;
- Envolvem directamente os munícipes na realidade associativa, abrindo a porta destas a novas gerações de almadenses;
- Potenciam a ligação dos clubes e associações às empresas privadas do seu contexto geográfico, criando mensagens de valor e actividades que dêem a estas empresas notoriedade e visibilidade, retribuível com patrocínios e
A despartidarização do associativismo é condição central para termos clubes e entidades culturais e desportivas renovadas, promotoras de boas praticas e de relevantes actividades, sendo fundamental que os munícipes se empenhem fortemente em contribuir para a despartidarização, mas ao mesmo tempo para o seu rejuvenescimento, reconhecendo o valor social de associações independentes e dinâmicas ao serviço dos almadenses.