Depois do eléctrico de cortiça, que circula desde 2015, chegou ontem o de Arraiolos. Bordadeiras fizeram cobertura em tempo recorde
Um antigo eléctrico de Lisboa, dos anos 30 do século passado, foi restaurado e “vestido” com tapetes de Arraiolos, que vão agora “passear” pelas colinas da capital, dando a conhecer aos turistas esta tapeçaria tradicional alentejana.
Baptizado como “Eléctrico de Arraiolos”, o veículo, que ostenta tapetes de Arraiolos no interior e no exterior, foi hoje apresentado no Largo da Graça, em Lisboa, e vai circular pela cidade, integrando a “Tram Tour – Lisbon Historical Route”.
O projecto resulta de uma parceria entre a Fábrica de Tapetes Hortense, que se dedica à confecção artesanal dos típicos tapetes de Arraiolos e está localizada na vila alentejana, a Entidade Regional de Turismo do Alentejo e a operadora de circuitos turísticos Carristur.
“Tive conhecimento dos eléctricos de cortiça”, que existem em Lisboa desde Março de 2015, “achei uma ideia espectacular e lancei o desafio à Carristur” para que também “os tapetes de Arraiolos pudessem circular” pela cidade, relatou hoje à agência Lusa Maria Hortense Canelas, a empresária que teve a ideia.
A responsável pela Fábrica de Tapetes Hortense, que investiu “cerca de cinco mil euros” na iniciativa, criou uma parceria com a Turismo do Alentejo e, nos últimos meses, num “tempo recorde”, as bordadeiras da empresa confeccionaram os tapetes.
O “Eléctrico de Arraiolos”, que vai operar “num dos percursos turísticos de Lisboa”, segundo Maria Hortense Canelas, apresenta no teto, no interior, uma réplica do tapete em Ponto de Arraiolos que a empresária ofereceu ao papa Francisco em 2015.
“É um tapete com 5,22 metros e barras. Foi tudo feito à mão, como se fosse um tapete de chão”, precisou.
Já o exterior do veículo, continuou, está forrado com peças que representam “azulejos portugueses do século XVII, em azul e branco”, revestidas com acrílico, para que se possam conservar “por causa do sol e da chuva”.
“As cortinas foram todas feitas em tela de Arraiolos e bordadas por nós e há também quatro bancos do eléctrico, dois à frente e dois atrás, forrados com o mesmo padrão de azulejos que está no exterior”, acrescentou.
Maria Hortense Canelas disse que este eléctrico a circular pelas ruas de Lisboa é uma nova “forma de mostrar a cultura alentejana e portuguesa”, aos turistas e habitantes da capital: “O Alentejo e os Tapetes Hortense vão ser divulgados pelas colinas de Lisboa”.
Contactado pela Lusa, o presidente da Turismo do Alentejo, António Ceia da Silva, elogiou o projecto e considerou “muito importante” esta forma de promoção da tapeçaria de Arraiolos e do Alentejo como destino turístico.
“É uma forma de o Alentejo estar constantemente a ser promovido em Lisboa e é uma oportunidade única para que Arraiolos circule pela cidade, todos os dias, através do eléctrico, que é o meio de locomoção mais típico e com mais impacto numa cidade como Lisboa”, congratulou-se.
Lembrando que está em preparação uma candidatura dos Tapetes de Arraiolos a Património Cultural Imaterial da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), Ceia da Silva destacou que este é “mais um ponto” que “vai favorecer” esse processo.
“Estamos a tratar de uma candidatura e os tapetes de Arraiolos precisam de ajuda, precisam que o Governo olhe mais para esta cultura alentejana e que nos ajude, que nos certifique rapidamente para combatermos o tapete chinês que anda muito aí no mercado”, pediu também Maria Hortense Canelas.
Por falta de regulamentação de uma lei aprovada pelo parlamento, Arraiolos aguarda, há quase 15 anos, pela certificação dos seus tradicionais tapetes, considerados como uma das mais ricas peças do artesanato alentejano com projecção internacional.