Como lidar com uma maioria

Como lidar com uma maioria

Como lidar com uma maioria

21 Fevereiro 2022, Segunda-feira
Maria Antónia de Almeida Santos

Há já algum tempo, escrevi um artigo para outro jornal português, com o título “Como lidar com um populista”. Infelizmente – mas sem surpresa – logo a seguir às recentes eleições, constatei que este tema ainda era (talvez agora até mais) atual, pelo aumento em Portugal da expressão populista.

No entanto – aí sim, com alguma surpresa – constatei também que a oposição que ficou ainda mais oposição (uns pela contração e outros pela expansão) parece precisar agora de instruções para lidar com uma maioria. Ou o que precisam, afinal, é de lidar com o que foi a sua ação enquanto oposição?

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É certo que o PSD, por exemplo, já nos tem habituado às posições “a favor” que, sendo também o seu contrário, podem até ser um “talvez”. Ou seja, espremida como laranja, a sua posição enquanto oposição é um “nunca se sabe”.

Isto até podia ser algo bem-humorado, como na campanha do Dr. Rui Rio em que, como todos (ou)vimos, até se miou. Mas isto teve implicações nefastas para os portugueses.

Refira-se (como exemplo) um caso com influência direta na nossa zona: o aeroporto. Depois de há mais de dez anos ter diabolizado o investimento público e de ter adotado o Montijo, o PSD mostrou-se indisponível para enquadrar administrativamente a solução por si proposta, afirmando ao mesmo tempo que estava a favor da mesma.

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O “vota-abaixo” ziguezagueante, o desgaste da ação governativa e a preocupação apenas com o imediato eleitoralista trazem bloqueio, atraso e incerteza aos portugueses. O mesmo se aplica à anulação dos votos da emigração, tal como se aplicou ao chumbo do Orçamento do Estado para 2022 e às eleições antecipadas, sendo certo que o PS em nada contribuiu para qualquer uma destas situações.

E como podem os portugueses lidar com estes resultados eleitorais? Com esperança. Com a confiança, sempre reforçada, com que têm lidado com um executivo e um grupo parlamentar que nas últimas duas legislaturas lidou com o estado de depauperação estrutural em que a austeridade deixou Portugal, com as alterações climáticas e os incêndios florestais, com uma pandemia, um confinamento total e um estado de emergência, um estado de vacinação em massa e a modernização acelerada e imperativa que adveio de tudo isso. Estou grata aos portugueses por saberem materializar nas urnas a confiança e a gratidão.

E, por fim, como lidar com o avanço populista e os já tão falados “400.000” votantes? Pela pedagogia. Explicando o porquê histórico das linhas que em democracia não podem ser ultrapassadas, tentando perceber ao mesmo tempo a origem da sua (des)motivação.

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Em conjunto, temos de ser capazes de rejuvenescer a democracia e projetá-la para o futuro.

Todos temos consciência de que uma maioria é uma responsabilidade que não pode descurar o diálogo com todos. Essa é a melhor forma de lidarmos com a mesma. Desse consenso dependerá o modo como enfrentaremos os desafios que se nos apresentam e como seremos capazes de lidar com os ataques à própria democracia.

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