Fevereiro, dia onze, pleno Inverno no nosso país e sobre a sanca, da secção aberta em que entro no meu local de trabalho, ali, a onde a parede se junta com o tecto e elas gostam de os fazer ou restaurar, ano após ano, com preocupada surpresa deparo-me, como sempre maravilhado, com o “bailar” do regresso das andorinhas aos seus ninhos.
Mais cedo do que as esperávamos; mais cedo do que deviam chegar, enganadas pela falta de uma chuva que não veio e que cada vez, vem menos no tempo certo e lhes diz, ser já uma estação que ainda demora.
Não voltam as Joaninhas, não são aves, não migram, não podem fugir de um clima que já não lhes serve e encontrar uma, para o avô colocar na mão do neto, e dizer: «-Voa, voa, joaninha que o teu pai está em Lisboa» de difícil, já passou a muito raro.
Quase tanto como ver o mesmo ou outro neto, pelo jardim correr atrás de uma borboleta, por poucas vermos, por poucas já na sua estação existirem. Sem estação, propriamente dita, diminuem as colónias de abelhas, e com elas parte de uma polarização necessária à reprodução da flora.
Flamingos menos, corvos raros, entre outras espécies que por tão pouco as ver, não as lembro para as citar. Indicadores preocupantes de um desequilíbrio ambiental, que tu, Homem insistes em minimizar na importância.
Ou pior, bem mais grave, a real, presente e anualmente aumentativa seca sazonal, comprovada e difundida nas restrições governamentais. Secando culturas e emagrecendo o gado, e a subsistência de agricultores e criadores.
E isto, enquanto cantas, mal certamente, no banho que exageras, na torneira que deixas aberta, na rega automática que esqueces ligada, nos verdinhos campos de golfe em que exibes teu poder económico, na fuga que indolentemente deixas para reparar depois ou na desnecessária lavagem daquela poeirinha, que a tua vaidade não permite ter no carro, da marca “inveja-me vizinho”.
Ou tão simplesmente na garrafa, que é de plástico e deitas fora, depois de num gole ou dois matares a tua sede, desprezando a do teu semelhante ou tão somente a da árvore, para cujo tronco atiraste a garrafa, fechada e quase cheia.
Ora se a vaidade, é o preferido defeito humano do Diabo e não satisfeito com o espelho, ao vaidoso homem, o mesmo bicho cornudo e de má índole, a selfie inventou para o ego-centrar e mais ainda, do que importa o distrair.
O egoísmo, seja talvez ou de certeza o seu pior defeito social. Aquele que segues demonstrando, para ser actual, nas máscaras covid que espalhas aos milhares pelas ruas, ou nas beatas, (lembremos a recente lei e nela a realidade) que quem ao chão as deitava, ao chão segue deitando.
E se me permito as palavras ou os termos, é porque profissionalmente, e desculpa a franqueza: mal pago e pior reconhecido; para mim, para todos, ajudo a tratar dela os milhares de metros cúbicos que posso e orgulhosamente devolvo ao rio.
Assim, ó homem ser egoísta, se à tua consciência e sensibilidade social não consigo chegar; que chegue pelo menos à inteligência, que a história e evolução te atestam, e acredita: nada…, mas nada, neste nosso Mundo grande, ou no teu pequeno, se fabrica, cria ou produz; ou sequer sobrevive sem água. Nem tu! Vê se te enxergas!