Escola de samba é única do País a criar penas de tecido e bambu para evitar as naturais
É a escola de samba mais recente da freguesia, fundada em 2011, e pretende com a sua actividade “fazer algo diferente” do habitual. Nos figurinos do enredo que preparou para o Carnaval deste ano, inspirado nas tribos africanas, o Grupo Recreativo Escola de Samba Corvo de Prata apresenta penas feitas de forma artesanal por João Marquês, o presidente da direcção, como forma de afirmar a defesa do bem-estar animal.
“Este projecto não estava nos meus projectos de vida. Já ando no Carnaval de Sesimbra há 35 anos, estive numa escola durante 22 anos, ajudei a formar a Batuque do Conde, até decidir criar uma nova em 2011. Em 2013, saímos pela primeira vez e a partir daí fomos sempre evoluindo, com muito trabalho e sacrifício”, conta João Marquês, presidente da direcção do Grupo Recreativo Escola de Samba Corvo de Prata, a O SETUBALENSE.
“Para esta escola, a participação no Carnaval de Sesimbra significa a sua existência. Temos ainda as danças medievais, que tivemos de parar devido à pandemia, e gostaríamos de acrescentar outras iniciativas que não existem na Quinta do Conde”, adianta.
A adesão às escolas de samba tem vindo, no seu entender, a diminuir. “No presente, somamos 70 sócios e ultimamente saímos com entre 110 e 120 elementos. Em Sesimbra, as escolas de samba estão mais enraizadas, aqui na Quinta do Conde não tanto”, considera.
As fantasias, que afinal sairão às ruas apenas no desfile de 2023, foram apresentadas em Dezembro. Nelas, estão representados valores como a peculiaridade do trabalho manual, a defesa do bem-estar animal, a reciclagem e o aproveitamento de materiais e a inclusão de pessoas com mobilidade reduzida.
“Todas as penas serão feitas por mim, cerca de quatro mil e quinhentas penas no total. Em Portugal, somos os únicos a desenvolver estas penas, em tecido e cana de bambu, pelo menos até à data. Não queremos levar uma única pena natural no enredo de 2023 e este tema, as tribos africanas, que escolhemos para este ano tem muitas”, partilha, acrescentando que “um aspecto positivo da pandemia foi o tempo que me deu para as criar”.
“Teremos também uma peça desenvolvida na sua totalidade em corda de sisal. Fiz uma pesquisa e não encontrei uma única escola que tenha uma fantasia assim”.
Inspirada na “palha que dança” surge ainda uma outra fantasia, concebida a partir de tecido, que visa “dar hipótese a pessoas com mobilidade reduzida, que pensam que gostavam de participar mas não têm condições para tal. Desde que acompanhadas, com uma pessoa que possa ajudar a empurrar a cadeira, podem participar. É uma fantasia completa que vai até ao chão e assim permite que se participem no desfile e se divirtam”.
A pandemia veio atrasar os projectos em curso mas ideias e planos para o futuro não faltam, entre os quais a realização de uma exposição que mostre como o grupo começou e apresente as primeiras peças criadas.
“Só com o desenrolar de toda a situação conseguiremos perceber em que projecto podemos apostar a seguir. No presente, estamos satisfeitos com o que temos conseguido até aqui, com o que temos para apresentar e ainda por fazer”, remata.
Desfiles Autarquia, escolas de samba e grupos do concelho
Devido ao actual contexto de pandemia, a Câmara Municipal de Sesimbra e as escolas de samba e grupos do concelho decidiram, em estreita articulação e colaboração, que pelo segundo ano consecutivo não estão reunidas as condições para a preparação e realização dos habituais desfiles que trazem os foliões às ruas sesimbrenses.
A menos de um mês do Carnaval, e de acordo com a autarquia, “estão a ser avaliadas alternativas para se assinalar esta época, com enorme tradição no município”.
A O SETUBALENSE, João Marquês, presidente da direcção do grupo Corvo de Prata, adianta que tal passará pela “realização de uma actuação, em palco, em que as escolas do concelho se apresentam, no domingo de Carnaval e outro na terça-feira seguinte, no Parque Augusto Pólvora, com entradas controladas e todas as medidas de segurança asseguradas”.