PEDRO PINELA: “Só quem vai é que realmente queria ir”

PEDRO PINELA: “Só quem vai é que realmente queria ir”

PEDRO PINELA: “Só quem vai é que realmente queria ir”

Durante estes últimos 180 dias, houve vezes em que senti uma urgência. A de explicar a quem me lê ou me acompanha, o quão importante foi a decisão de ter ido sozinho. Porque a decisão de ter ido sozinho, no fundo, foi a decisão de ter ido. Nunca teria saído de casa se temesse a solidão

Por quem é que havia de esperar? Quem é que ia alinhar em deixar o seu quotidiano português para arriscar um desconhecido tão longínquo?

E assim fui e falhei. Como devia ser. Não por cansaço, não por saudade. Pelo pior dos males, pelo dinheiro: euros italianos e gregos, liras turcas, reais iranianos, rupias indianas e bahts tailandeses. Foram eles que me derrotaram a intenção de dar a volta ao Mundo. Ou foram?

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Talvez me tenha precipitado no anúncio de que conseguiria abraçar o Mundo todo de uma vez. Subestimei-o e sobrestimei-me. Mas se desta fiquei a meio caminho, da próxima, prometo que fecho o círculo.

É que desta fui sem telemóvel, perdi três aviões, paguei demais por dormidas, fui preso, andei sem saber em que direcção ia, não tinha nenhuma fonte de rendimento – fui ingénuo. Da próxima, sei de cor onde é que errei e hei-de dar provas de que não resisti a nenhuma aprendizagem. Ficou-me tudo na cabeça.

Vão ver-me passar na rua e o moço continua com a mesma cara, evidentemente. Vão chamar-me viajante e turista. Perguntar como é que foi e se correu bem. Ouvir duas, três estórias ou nem isso. E depois. Não vão desconfiar sequer do que vi, do que é que estive a falar, porque não há palavras precisas para lá vos levar e essa era a única forma de entenderem.

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Isto não me incomoda nem sinto que me eleve. A não ser que me digam que têm este mesmo sonho de viajar e não façam por concretizá-lo. Aí chateio-me porque mentem. Só quem vai é que realmente queria ir. Os outros gostam só de pensar que era bom. Desculpem-me a rispidez, sonhadores de sono, se vos serve ou afecta.

Eu sonhei acordado e deixei de condescender com quem insiste em não despertar.

Pedro Pinela

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