Portugueses, um peculiar caso de estudo

Portugueses, um peculiar caso de estudo

Portugueses, um peculiar caso de estudo

30 Setembro 2021, Quinta-feira
Rui Carvalheira

Nós os portugueses somos enquanto povo muito sui generis. Apesar de todas as virtudes e potencialidades que temos, temos uma atitude penitente, em alguns casos mesmo autoflageladora, perante os nossos defeitos e as nossas qualidades menos positivas. Porém não admitimos que ninguém (não português, naturalmente) as enuncie, pois aí activamos o modo sobrevivência e apontamos todas as baterias a quem ousa denegrir ou macular o bom nome do povo lusitano. Essa tarefa é única e exclusivamente nossa.

Das muitas qualidades que temos enquanto povo gostamos todos de destacar uma, a nossa capacidade de improviso, o que todos chamamos de “desenrascanço”. Todos nós nos sentimos um verdadeiro MacGyver, e que apenas com um canivete suíço, ou uma navalhinha alentejana para quem preferir, somos capazes de colocar um space shuttle em órbita. Creio que essa nossa capacidade de improviso tenha sido apurada durante séculos por termos um território com alguma limitação de recursos, o que nos obrigou sempre a tentar encontrar soluções simples e inovadoras.

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No entanto não creio que este seja o nosso melhor atributo, e pelo contrário seja exactamente o seu oposto, isto é, a nossa melhor qualidade é mesmo a nossa capacidade de organização. Apenas não estamos muito habituados a coloca-la em prática. Todos sabemos que os portugueses que imigram para países tradicionalmente mais organizados, em que tudo funciona como um relógio suíço, se conseguem destacar e mesmo quebrar as barreiras socioeconómicas que tantos limitam dentro de portas. Para não falar das empresas multinacionais, que quando se instalam no nosso país são sempre uma referência de performance e organização, no entanto os seus trabalhadores são naturalmente os “desorganizados portugueses”.

Para encontrarmos exemplos da mitológica organização portuguesa não é preciso recuar muito no tempo, pois temos um bem presente, aliás terminou esta semana, falo naturalmente na task-force responsável pela vacinação contra a Covid-19. Em apenas seis meses foi possível fazer chegar a vacinação a mais de 8,5 milhões de pessoas, número que os cientistas e especialistas consideram o limite para podermos voltar aos poucos a ter uma vida normal. Apesar de ter começado envolvido em algum caos e polémica, explicado exclusivamente por estarmos no pico de uma mortífera quarta vaga, paulatinamente todos os profissionais envolvidos conseguiram montar uma operação inédita no nosso país, não só pela sua dimensão, pela escassez de vacinas, mas também pelo facto de urgência de alcançar a imunidade de grupo. E não é pois de estranhar que com a real organização portuguesa tenhamos consigo atingir todos os objectivos dentro dos prazos estabelecidos e assim conseguirmos um lugar de destaque quando comparando com os processos de vacinação em países mais ricos e com mais recursos, e mesmo supostamente com melhor organização.

Os números falam por si. O que se alcançou nos últimos meses só nos pode deixar orgulhosos, e naturalmente deixar uma palavra de apreço a todos os que participaram no processo de vacinação. Naturalmente aos líderes: ao Vice-Almirante Gouveia e Melo, ao Governo, nomeadamente ao Primeiro-Ministro António Costa e à Ministra Marta Temido, mas principalmente a todos os profissionais de saúde e todos os outros profissionais que no terreno incansavelmente e com espírito de missão diariamente estiveram na linha da frente e claro a todos os portugueses que compreenderam que a vacinação era a única arma que dispúnhamos para vencer.

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