A verdade cai-nos em cima como se um meteorito fosse: afinal a sustentabilidade que há décadas todos falamos é insustentável. A agonia da Terra é real. É como se um automóvel de alta cilindrada, sem travões, a elevada velocidade fosse em direção a um muro de betão. Ainda pior, a mentira da sustentabilidade é tão grande que esse muro se movimenta em direção ao automóvel. Como se isto não bastasse a mentira não é assumida. Provavelmente este é o maior problema da Humanidade, o acidente está iminente e continuamos a olhar para o lado, talvez um milagre da ciência e tecnologia evite o desastre. É por isso que em novembro, em Glasgow, a próxima conferência sobre o clima, a 26ª, vai dar em nada, como todas as anteriores. Em boa verdade a Terra é finita e não há recursos e alimentos para todos. Em 50 anos a produção de carne aumentou quinhentos por cento e ainda assim a fome é um flagelo. O aumento da população da Terra é o único sentido da História do Humanidade e é a causa de todas as coisas que o pacote da alteração climática envolve. Tudo se pode resumir numa só palavra, Antropoceno. Se por magia o modo de vida mudasse, provavelmente, a catástrofe seria ainda maior, toda a nossa vida assenta no modelo que conhecemos e que levou centenas de anos a formar. A receita conhecida por transição energética, que nos soa bem, e é conveniente, é uma mudança radical e abrupta com consequências imprevisíveis, mas certamente apocalípticas; a vida como não a conhecemos. Há décadas que as consequências são conhecidas e estão previstas. Os 14 mil artigos científicos que sustentam o mais recente relatório do IPCC não deixam dúvidas, o difícil é encontrar um, um só artigo, que aponte um caminho, um conjunto de soluções que minimize as consequências do acidente e que nos situe na tal transição. A China retirou centenas de milhões de pessoas da pobreza, essencialmente, através de centrais de carvão a baixo custo. É esta tecnologia que anda a exportar pelo mundo, nas zonas mais pobres de África e Ásia. Entre 2000 e 2018 a China triplicou a quantidade de carvão consumido. Na verdade, apesar de tudo o que se papagueia, os combustíveis fósseis fornecem cerca de dois terços da eletricidade mundial, contra os 7 por cento das renováveis. Dizem-nos que mudanças de políticas, designadamente através de taxas verdes mais consistentes e fortes, nos conduzirão à transição energética; tenhamos presente que estas taxas são pagas pelo petróleo, não há “tecnologia verde” que satisfaça as necessidades energéticas e falta-nos tempo. Os cientistas sabem que os principais ciclos da Terra entraram num processo de reação irreversível, de feedback. O efeito que podemos esperar é só um, nos últimos meses, um pouco por todo lado, ocorreram algumas pequenas amostras do que acontecerá: contingências nunca antes vistas, de natureza imprevisível (o quê?, quando? e onde?), cada vez mais frequentes e com efeito mais significativo. Isto é, ocorrências a roçar o inimaginável.
Um modo de vida insustentável é o resumo do Antropoceno. Tanto assim é que no passado dia 29 de julho atingimos o Earth Overshoot Day (dia da sobrecarga da Terra). Desde esse dia, até final do ano, durante cinco longos meses, vamos viver com o que não temos. Isto é possível durante mais quantos anos? Se atendermos que o primeiro semestre de 2021 foi, comparativamente, um tempo de pouca atividade económica, basta pensar no turismo, este facto é assustador.
E Portugal? Absurdamente por cá este dia atingiu-se dois meses e meio mais cedo, a 13 de maio esgotámos os nossos recursos. Dizem-nos que Lisboa é Capital Verde da Europa, que somos “o professor da transição energética na Europa” (Ministro Matos Fernandes), mas, na verdade, somos pobres e não suficientes, um país com uma densidade populacional cada vez mais baixa e como resultado desta triste equação gastamos o que temos direito em pouco mais de cinco meses. Vamos estar sete meses a viver do que não temos e que pertence a outros; gastamos e não produzimos. Como é possível tal absurdo? Diga-se, que, no geral e comparativamente, o desempenho da Europa é miserável. Apesar de tudo a China atinge o Earth Overshoot Day (7 de junho) bem mais tarde que a generalidade dos países europeus, quem diria? O próprio Brasil, tão questionado pela Amazónia, um verdadeiro produtor alimentar do planeta, atinge a sobrecarga a 27 de julho.
Perante tudo isto, qual a resposta?
Como resolvemos esta encruzilhada civilizacional?
Qual o caminho a seguir?