Cabeça-de-lista do PS a Palmela diz ter um projecto diferente para o concelho e promete baixar o IMI para os 0,30 em quatro anos
Professor de Geografia na Escola Secundária de Palmela há 35 anos, Raul Cristóvão, é licenciado pela FCSH da Universidade Nova. Casado, vereador há quatro anos, aos 64 anos, volta a candidatar-se a presidente.
Há quatro anos não ganhou, porque acha que deve tentar uma segunda vez?
O PS de Palmela e a Federação Distrital acharam que deveria recandidatar-me. Há quatro anos tivemos um aumento de 25% de votos, crescemos imenso, e, nessa onda de crescimento e do trabalho politico feito no concelho e na Câmara, com a nossa oposição responsável, achámos que me deveria recandidatar. Como não sou de voltar a cara à luta, sigo o princípio do Mário Soares, que só se perde quando se deixa de lutar. Esta vai ser uma candidatura para dar voz às pessoas.
O PS subiu mas ficou quase a três mil votos da CDU. Obteve 28% e a CDU 40%. É uma diferença significativa. Desta vez vai ser diferente?
Penso que sim. Tudo indica que vamos continuar a subir e há um desgaste próprio de 47 anos de poder da CDU. Gosto de fazer politica pela positiva, portanto, acredito mais no projeto do PS do que na derrota dos outros. Acho que temos um projeto diferenciador, que pode qualificar a vida das pessoas e do território. Somos capazes de fazer com que as pessoas acreditem que é preciso mudar e que não é uma mudança de actores, é uma mudança de política.
Neste mandato, o PS permitiu que um vereador aceitasse pelouros e a CDU agora diz que, nessas áreas, a gestão municipal funcionou pior e pede maioria absoluta com base nesse argumento. Esta ligação do PS à CDU não é prejudicial?
Não. Aceitámos pelouro mas não fizemos nenhum acordo escrito. Lamento que o candidato Álvaro Amaro diga essas coisas mas cada um é responsável pelas palavras que diz. Eu nunca seria capaz de liderar uma equipa para dizer mal dos meus. Se o candidato Álvaro Mauro diz essas coisas é uma pessoa que, já se percebeu, não consegue liderar equipas. Centra muito a liderança nele próprio e, mesmo aos seus muitas vezes não os defende como deveria. O PS tomou essas dores em áreas difíceis mas fez um trabalho diferenciador. Nesta Câmara, em 44 anos, nunca tinha havido uma varredora mecânica…
Que balanço faz do trabalho do vereador do PS, nas áreas da Higiene e Limpeza e da Iluminação?
Introduziram-se varredoras mecânicas, equipas dedicadas a um determinado espaço, nas freguesias de Palmela e Pinhal Novo, trabalhou-se com as freguesias da Quinta do Anjo e do Poceirão e Marateca para que o concelho tivesse outra imagem na área da recolha de resíduos e na limpeza urbana. Mas há muito para fazer, por culpa, muitas vezes, de não se conseguir o orçamento suficiente para se ir mais longe. É preciso ir mais longe.
Com os recursos que haviam, o trabalho do vereador do PS foi positivo?
Na Iluminação posso dizer que vamos ter o concelho todo em LED. Foi o vereador do PS que trabalhou esse plano e vai conseguir chegar ao fim do mandato com todo o concelho com LEDS. Era para ser só umas partes e ele, com a sua resiliência e capacidade de gestão, conseguiu com que fosse todo o concelho. É difícil num concelho com 450 quilómetros quadrados mas também a poupança é ainda maior e podemos reverter o dinheiro para projetos sociais e outros que tanta falta fazem. Por isso acreditamos que o trabalho foi positivo
A limpeza urbana é uma das áreas com mais queixas dos munícipes.
É muito difícil. Mas foi sempre recusada uma política que nós propusemos, ao longo destes quatro anos, de sensibilização, nas escolas. A limpeza urbana não passa só por quem limpa passa também por nós, que sujamos. Tinha que haver uma melhor distribuição dos contentores, depois num concelho tão grande e muito disperso, temos de diversificar a gestão da recolha de resíduos. Isto é difícil de entender, sobretudo pelo senhor presidente.
Diversificar como? Ter equipas diferenciadas e delegar nas juntas de freguesia?
Diferenciar equipas, equipamentos, os pontos de recolha e as formas de recolha porque é muito diferente numa área rural, como, por exemplo, o Poceirão. Foi preciso entregar a recolha a uma empresa nem sempre cumpriu e foi preciso reformular o contrato. Temos de repensar este modelo porque gerir Palmela é muito diferente, não é gerir o Montijo, Moita ou Barreiro.
Há quatro anos apontava conflitos partidários nas juntas de freguesia do Poceirão e Quinta do Anjo. Esses presidentes de junta foram substituídos. Que avaliação faz? Agora funciona melhor?
Não tenho que avaliar o trabalho de candidatos e presidentes de outros partidos.
Mas há quatro anos criticou.
Na Quinta do Anjo, conseguimos trabalhar em conjunto para melhorar o ambiente político que, neste momento, é menos deteriorado, mais positivo. Isso é democracia. O PS não é oposição por oposição em lado nenhum e no concelho de Palmela não é de certeza. Pelo menos enquanto eu for presidente da concelhia, o PS é oposição para contruir
O PS tem a Junta de Palmela. A freguesia ganhou por ter uma gestão socialista?
Claramente. O nosso presidente é querido junto da população pelo seu trabalho diário, a resolver os problemas das pessoas, nas suas competências. Para além da experiencia que Jorge Mares já tinha, ele é um palmelão. Se há alguém que conhece Palmela, os anseios das populações e o território da freguesia, é o Jorge Mares. Por isso vai continuar e tenho a certeza que vai reforçar a votação
Quais são as diferenças que destaca entre os projectos do PS e da CDU?
Destaco facilmente uma primeira: Nós queremos orçamentos verdadeiramente participativos e não reivindicativos. Queremos orçamentos participativos em que as pessoas proponham projetos, que sejam votados e que tenham de ser executados. O orçamento participativo em Palmela é reivindicativo. Quem tem tempo e disponibilidade para ir a uma sessão reivindicar e voz mais forte, concretiza, quem não tem, não vê os seus problemas resolvidos.
No último ano a participação foi a maior desde 2016.
Não vejo maior participação, vejo mais do mesmo e reuniões com meia dúzia de pessoas. Se tiver um e chegar a dois, aumento 100%. É como no turismo. Dizer que as dormidas em Palmela aumentaram 70%, quando a gente não tem hotéis, temos alojamentos locais e a Pousada, que, infelizmente, está fechada desde a pandemia – e vamos ver se abre. É muito fácil falar em números.
E outras diferenças?
Plano estratégico para o concelho, não há. O que vai ser este conselho daqui a dez anos, quais são as perspetivas?
Álvaro Amaro tem dito que a estratégia é diversificar a actividade económica, com áreas como logística, tecnologia e serviços.
Sim, mas isso não é estratégia local, vem agarrada à estratégia do Governo. Se fosse um plano estratégico sério, o actual presidente não se punha a contestar um equipamento tão importante como o aeroporto na região, porque Palmela era dos concelhos que mais podiam ganhar com isso. Não está na linha dos aviões, está ao lado do Montijo e, se 1% dos dez milhões de turistas previstos, viessem a Palmela, isso sim, era crescimento turístico. Em vez de contestar ideologicamente o que partido manda, se pensasse mais no território e nas pessoas, tinha uma visão estratégica local.
O PS já tem plano estratégico?
Não. O plano manda-se fazer, faz-se quando for poder. O turismo é um forte pilar para o desenvolvimento económico e social do concelho mas tem de ser feito um plano para que percebamos que o que falta não é criar dormidas, é criarmos uma oferta forte naquilo que são os nossos recursos. Não podemos, por exemplo, permitir que esta casa, de azulejos e artesanato – que vi nascer quando, miúdo, aqui vinha com o meu pai, falar com o Sebastião Fortuna -, que é uma mais-valia, esteja reduzida a este espaço. Temos de criar uma escola de artes e ofícios. Temos de recuperar de anos de atraso em que não se valorizou o artesanato, que era uma riqueza neste território e que se foi perdendo.
O que falta ao turismo em Palmela?
Falta oferta hotelaria. Há privados que me dizem que não investem em Palmela porque demoram tempo, três ou quatro vezes mais, para aprovar o projeto.
O turismo tem sido uma bandeira deste executivo, do vereador Luís Calha e do presidente, mostrando números de grande crescimento, antes da pandemia. Não é assim?
Cresceu, mas não cresceu aquilo que tinha de crescer. Dou-lhe o exemplo do castelo de Leiria; esteve fechado por causa de obras e, no fim-de-semana que abriu, teve quase cinco mil visitantes. O castelo de Leiria, que conheço bem, não é mais bonito do que o castelo de Palmela. Temos que pensar porque acontece ali e não acontece aqui.
É porquê?
Porque o castelo de Leiria foi intervencionado com um projecto voltado para que as pessoas o visitassem. Toda a intervenção, desde elevadores a caminhos para pessoas com mobilidade mais reduzida, ou com carrinho de bebé, foi feita para que pudessem andar. Nós, sempre que discutimos isto é um rol de problemas. Em vez de irmos todos encontrar a solução, não, arranjam 50 problemas, com a desculpa sempre do poder central. Se tenho um castelo que é dos mais bonitos do país, com uma vista de 360 graus, incomparavelmente com umas das melhoras vistas do país, não podemos deixar de resolver os problemas de mobilidade. Fez-se uma obra de mobilidade, que tem alguns aspectos positivos, mas tem problemas, e pessoas ligadas a mobilidade reduzida já me chamaram à atenção. E onde está o museu? Temos um espólio arqueológico espetacular que está guardado. Tem que ser mostrado. A Casa Hermenegildo Capelo é uma casa da administração pública em vez de ser uma casa museu. Não temos museu etnográfico, apesar de termos uma etnografia lindíssima, nem o museu do vinho e da vinha. Não posso ter estes museus todos, mas se calhar posso ter um museu com vários polos e isto é turismo.
O PS fala em despertar as pessoas. Não têm estado acordadas?
Despertar as pessoas é no sentido de levar as pessoas a votar. Palmela, nas últimas eleições, foi o terceiro concelho do país com maior abstenção. É preciso despertar, a democracia faz-se com o voto, é preciso trazer as pessoas a votar e queremos ouvi-las.
Como é que vai fazer isso?
Já falei do orçamento participativo, vamos trabalhar mais e descentralizar mais, para as freguesias, porque estão mais próximas. Se as pessoas sentirem que o poder está mais próximo delas e mais facilmente consegue resolver, porque, às vezes, não são os grandes problemas são os pequenos. As pessoas sentem muito um buraco da rua que nunca mais é tapado, o lixo não é recolhido como deve ser naquela rua, as ervas crescem e não são cortadas, estes problemas podem ser melhor resolvidos na freguesia do que pela Câmara. Defendemos a descentralização, com mais competências, direitos, funcionários e com mais dinheiro.
Já quantificaram o aumento de verbas e quais as competências?
Já pensámos em novas competências e temos de quantificar, porque normalmente fazemos isso. Cada vez que propomos o abaixamento do IMI apresentamos as contas. Tudo o que é possível quantificar, nós quantificamos quando apresentamos propostas. Foi assim no IMI, quando passámos aos 0,35 e posso já dizer que a nossa proposta é chegar aos 0,30 no fim dos quatro anos. Não é no primeiro ano de mandato, ao longo do mandato, chegar aos 0,30. Porque nós propomos com responsabilidade.
O PSD acusa o PS de ser força de bloqueio, e de colocar-se ao lado da CDU, por ter inviabilizado a redução do IRS.
O PSD em Palmela é contranatura, funciona ao contrário do PSD nacional. Como tem pouca expressão… Quando pergunto ao PSD quanto custa, eles, geralmente, não têm as contas feitas. É preciso fazer contas, porque nós somos oposição para ser poder, não para andar aqui durante anos a ser oposição. Nós fizemos contas ao e IRS e concluímos que estávamos sobretudo a reduzir para quem pode mais e não para quem pode menos.
Como vê a grande quantidade de candidatos? É positivo ou negativo para o PS? Haver duas candidaturas independentes, umas delas de um antigo presidente, Carlos Sousa, vai beneficiar ou prejudicar o PS?
A democracia é aberta a todos. Gostava que o número de candidatos fosse representativo das dinâmicas democráticas. Infelizmente os interesses pessoais são um dos problemas da política. A política tem que ser feita com base em projetos e com critérios muito sérios, nenhum dos candidatos é um problema para o PS. Todas as candidaturas democráticas são boas para a democracia, se alguém tem problemas com algumas candidaturas independentes, que diga. Nós não temos problemas com nenhumas candidaturas sejam elas quais forem, e trabalharemos com todos, exceto com um.
Com quem não trabalha?
A extrema-direita.
Apontou os interesses pessoais como um problema da política. Onde identifica esse problema? Nas candidaturas independentes?
Às vezes. A minha candidatura, e a equipa que a compõe, é de gente que hoje está a trabalhar e amanhã continuará a trabalhar, ou na autarquia ou a servir as populações, ou nos seus empregos. Nós temos passado, temos presente e temos futuro e fazemos política por serviço público, para servir e não para nos servirmos. Felizmente todos temos as nossas carreiras profissionais e é muito importante que as pessoas percebam.
Fica a ideia que não está a dizer tudo o que pensa sobre as candidaturas independentes.
Não. Quer um, quer o outro, têm o mesmo direito de se candidatar que eu. As únicas pessoas que têm que fazer a avaliação das candidaturas são os eleitores.
E não receia que Carlos Sousa tenha capacidade de retirar votos ao PS?
Não. Não tenho receios democráticos.
Reconhece que há obra em Palmela, sobretudo neste mandato, ou não lhe parece?
Constatei uma coisa que gostava de não dizer. A obra estruturante que existe é do Governo – não estou a falar de tapar buracos nos aceiros, ou alcatroar mais uns quilómetros, que é o trabalho normal…
Resolver o problema da vala da salgueirinha ou fazer um centro de saúde não é estruturante?
O centro de Saúde foi pago pelo Ministério da Saúde. A Câmara cedeu o terreno e acompanhou a obra. Nem vamos comparar a outras câmaras, que contruíram, nos últimos mandatos, cinco ou seis centros de saúde, sozinhas, sem protocolos. A vala da Salgueirinha, mais de um milhão é do Fundo Ambiental, do Ministério do Ambiente. Foi assinado um protocolo e a Câmara gere e acompanha a obra, que é no seu território, não faz mais. O castelo, obra nacional. Ou seja, são de facto obras estruturantes, mas todas são fruto do Governo que, e ainda bem, é um governo PS, que se preocupa também com aqueles problemas e tenta resolve-los. Há quantos anos se lutava pelo centro de saúde no Pinhal Novo Sul? Foi este governo, porque esta Câmara está cá há 47 anos e este governo está há seis e foi no primeiro mandato que fez a obra.
Álvaro Amaro apresenta essas obras como resultado da sua capacidade reivindicativa e de persuasão do governo, disponibilizando-se para colaborar em áreas onde a Câmara não tem obrigação.
Se Álvaro Amaro, presidente de camara, não tivesse capacidade para ir discutir obras fundamentais para o concelho, as coisas então ainda estavam piores que aquilo que a gente sabe. Há capacidade financeira para fazer mais e se, como temos sugerido em reuniões, a Câmara fosse à banca buscar dinheiro para resolver problemas estruturais no concelho, para as pessoas, nós acompanharíamos e votaríamos a favor. Há problemas a resolver; escolas em Cabanas em que as turmas estão divididas em dois edifícios porque, após a obra na escola antiga, o problema contínua e não se resolve. Não se percebe qual é a política para alcatroar os aceiros, por que se opta por este mas o do lado também não está alcatroado e, às vezes, até tem mais residentes. Nós propusemos, no nosso programa anterior, que se fizesse um plano, com as pessoas e as juntas de freguesia, para se perceberem as prioridades do alcatroamento dos aceiros.
Se não ganhar as eleições vai cumprir o mandato até o fim, como está a cumprir este?
Cumprirei as minhas obrigações até achar que tenho condições para o fazer e espero ter essas condições. Mas os mandatos são do povo mas também são do partido. Se o partido achar que devo ser substituído, serei, se achar que devo continuar, continuarei.
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