28 Abril 2024, Domingo
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Doutor Estranho – Num gabinete médico perto de si…

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Doutor Estranho – Num gabinete médico perto de si…
PJ VULTER - Escritor do Montijo. Publicou «Marta»,pela Coolbooks, em 2017. E publica regularmente no seu blog https://pjvulter.wixsite.com/pjvulter/blog.
PJ VULTER – Escritor do Montijo. Publicou «Marta»,pela Coolbooks, em 2017. E publica regularmente no seu blog https://pjvulter.wixsite.com/pjvulter/blog.

Há uma determinada categoria de médicos – e a especialidade, aqui, não interessa – que encaram os seus saberes como sendo arcanos. É como se achassem que aquilo que eles sabem só a eles importa saber:

 

 “Chiu… nada de espalhar a nossa ciência… não vá algum comum mortal achar que pode ser médico e tirar-nos o lugar que tanto nos custou.”

 

Isto faz-me lembrar aquelas atitudes que se veem nos mágicos e ilusionistas; ou, então, nos filmes de ficção Fantástica… Sabem? Aqueles Feiticeiros detentores de saberes inimagináveis, poderosos – e às vezes terríficos –, capazes de salvar – ou destruir – o mundo e que, por isso, nada podem revelar sobre eles ao comum dos mortais?

 

Esses mesmos!

 

Sim… É ficção; eu sei…

 

Mas estes médicos não são ficção. Eles existem e estão escondidos por aí, nos diversos gabinetes e consultórios nacionais – e nas mais diversas especialidades – e é preciso ter cuidado com eles; nunca se sabe quando se pode dar com um.

 

Mas quem são estes médicos?

 

São pessoas – sim, porque um médico é uma pessoa – silenciosas, de poucas palavras e parcos gestos. Parecem preferir que os outros falem primeiro, mesmo os auxiliares, e depois respondem por gestos e monossílabos. Observam-nos – a nós, o doente -, entre trejeitos e esgares misteriosos, de rosto fechado, e lá tiram as suas conclusões. Retiram-se, depois, para trás da sua secretária – os que de lá chegaram a sair –, rabiscam qualquer coisa num papel e, quando nos entregam a receita, dizem:

 

“Vai tomar isto assim-assim, das tantas-às-tantas e depois de X refeição. Toma tudo! E depois volta cá…”

 

Desenganem-se se acham que vamos saber o que temos; ou até para que são os medicamentos que vamos tomar. Se não perguntarmos diretamente ao médico-feiticeiro o que se passa connosco e o que é que os medicamentos vão fazer, saíamos de lá com a mesmíssima informação que entrámos. E mesmo que perguntemos, poderemos não ter sucesso; esta espécie de médico, o Medicus Arcanum, é muito atrita a dar informações. Regra geral, aos mais afoitos de nós – os que ganham coragem e perguntam – respondem-nos com um palavrão do jargão médico ou com uma Lapalissada; reparem, ou nos dizem algo que não entendemos e que, por norma, acabamos por não questionar mais – por medo e vergonha – ou, então, dizem-nos algo tão evidente que nos sentimos estúpidos por ter perguntado. A mim já me aconteceram as duas coisas…

 

Felizmente parece-me que este ramo da espécie médica, o Medicus Arcanum – vulgo, médico-feiticeiro -, está em vias de extinção. A maior parte dos médicos, hoje, parece já ter entendido que qualquer um que estude medicina, e se forme, se tornará um médico e que não existe nenhuma partícula de Deus no exercício da sua função. E é por isso – talvez – que olha para o doente como um parceiro; alguém que devidamente informado sobre a sua doença, e tratamento, é um forte aliado no sucesso da cura.

 

No entanto, fica o alerta: os médicos-feiticeiros continuam por aí; e podem encontrá-los, a qualquer momento, num Gabinete médico perto de si…