O final do estado de emergência não é sinónimo do fim da luta que temos levado a cabo pela vida. Mas é, sem dúvida, o começo da concretização da esperança. A descida do número de mortes e internamentos por Covid-19, a estabilização do número de infetados e o avanço nos testes e na vacinação permitiram-nos uma pequena reabertura para o mundo. A nossa luta, agora, é a de fazer com que essa folga não seja breve. Nunca estivemos tão preparados e nunca tivemos tanto conhecimento e capacidade instalada. É vital mantermos o rumo que seguimos de estabilização tendencionalmente decrescente dos índices epidemiológicos. O fruto dos sacrifícios que os portugueses fizeram não pode ser o facilitismo que deita tudo a perder. A verdade é que a pandemia ainda não nos passou nenhuma carta de alforria.
No entanto, sendo ainda um passo que terá de ser pequeno, mas seguro e baseado na confiança, é um passo dado de forma clara em direção ao regresso à normalidade. Não à normalidade como a conhecíamos, mas a uma normalidade transformada, a ser entendida sempre pela perspetiva do possível. É uma realidade nova, com palavras novas (como o já tão conhecido “R(t)”), comportamentos novos, novos problemas e também novas soluções.
Chegou também o tempo da reflexão sobre a aprendizagem que tivemos de fazer. Uma conclusão imediata é a de que temos de agir de forma global e articulada. De repente, a humanidade vê-se dependente de uma vacina. Qual é a resposta? Por todo o mundo, temos assistido a fenómenos de egoísmo, individualismo e centralização do conhecimento, da tecnologia e até de terapêuticas, como se fossem “vírus sociais”. Para prevenir estes fenómenos, já todos sabemos que é necessário apostar em parcerias, modelos de cooperação, sinergias e alianças estratégicas. O problema que se mantém é o de como operacionalizar todos estes conceitos, de forma a dar-lhes contornos reais. A resposta da OMS e das Nações Unidas na questão das vacinas mostra-nos um caminho: a criação de mecanismos que lutem pela globalização do acesso, de que o COVAX é exemplo. Outro caminho é o da adequação e harmonização legislativas, de que é exemplo, noutra escala, a relação entre a Agência Europeia do Medicamento e as autoridades nacionais que integram a UE. Há mais caminhos e, juntos, temos de percebê-los.
Uma certeza temos: é preciso dar mais humanidade à própria humanidade. A nível do direito internacional, impõe-se dar força a conceitos como “justiça social” e “fraternidade”. Esta era a conclusão que planeava para teste artigo. Mas impõe-se uma atualização: a administração de Joe Biden vai apoiar o levantamento das patentes das vacinas contra a COVID-19. Sei que é uma noticia que a EU ( espero que não só) vai saber interpretar.Por isso fiquei mais esperançada, será que caminhamos finalmente para a universalização das vacinas?