Caros amigos vitorianos. Nestes tempos conturbados, o Vitória precisa de todos e de cada um de nós.
Eu cá falo do Vitória sempre por dois motivos: por tudo e por tudo.
Desde que me lembro ser gente, a palavra Vitória foi sempre um vocábulo de uso corrente em minha casa e em casa dos meus avós.
O meu avô Carlos, alentejano de Vila Viçosa, veio para Setúbal ainda muito novo. Aqui casou com a avó Júlia, setubalense e aqui nasceram todos os seus filhos.
Era o tempo em que o Vitória disputava os seus desafios no Campo dos Arcos. Vitoriano indefectível, não perdia uma partida. Após o fim dos jogos, quando o avô Carlos cruzava a Av. 22 de Dezembro, com a Av. Luísa Todi, minha mãe que estava à janela, percebia logo pelo movimento que dava ao seu guarda-chuva, que trazia sempre consigo, se o Vitória tinha ganho, ou não.
A primeira manifestação explícita de vitorianismo que presenciei, foi a 4 de Julho de 1965. Tinha 5 anos.
O avô Carlos, de repente, desatou aos gritos de alegria. Nunca tinha visto o meu avô agitar-se dessa forma. Agarrou-me, levantou-me no ar, beijou-me repetidamente e fomos para a rua.
O Vitória Futebol Clube tinha acabado de vencer aquela que seria a sua primeira Taça de Portugal, vencendo o Benfica por 3-1. O treinador era Fernando Vaz e a equipa era a seguinte: Mourinho, Conceição, Torpes, Herculano, Carlos Cardoso, Jaime Graça, Augusto, Armando, Carlos Manuel, José Maria e Quim.
Marcaram pelo Vitória, o inultrapassável José Maria (o avô da minha aluna Beatriz), o “Magriço” Jaime Graça (o pai da querida Aida) e o grande Armando.
Foi aí que se deu o clique. Passei a ser um Vitoriano de corpo inteiro.
Dois anos depois, 9 de Junho de 1967, o Vitória Futebol Clube venceu a sua segunda Taça de Portugal, derrotando a Académica, por 3-2, numa maratona de prolongamentos. O treinador era, de novo, Fernando Vaz e a equipa era a seguinte: Vital, Conceição, Leiria, Herculano, Carriço, Tomé, Vítor Baptista, José Maria, Guerreiro, Pedras e Jacinto João.
Marcaram pelo Vitória, o eterno José Maria, o poderoso Guerreiro e o lendário Jacinto João.
Era o tempo do Vitória europeu. Eu ia ver todos os desafios pela mão do sr. André Ferreira, amigo de família, um dos proprietários dos táxis localizados na Praça de Bocage, quando esta ainda tinha trânsito.
Ficava ao pé dos seus amigos, velhotes, vitorianos exultantes, infelizmente todos já falecidos.
Tinham boas razões para isso. Onze anos consecutivos disputando quase sempre a Taça UEFA.
O sr. André levava sempre um saco cheio de amendoins, onde, manuseando e mastigando furiosamente os ditos cujos, procurava ostracizar o seu nervosismo e os demónios do futebol.
Eu também os comia. Ao princípio, por gulodice; a seguir, também eu partilhava o mesmo nervosismo.
Era o Vitória Europeu, constituído por grandes e lendários futebolistas que representaram o Vitória Futebol Clube: Mourinho, Vital, Joaquim Torres, Conceição, Rebelo, Correia, Herculano, Carlos Cardoso, José Mendes, Carriço, Jaime Graça, Augusto, Armando, Carlos Manuel, Octávio, Matine, José Maria, Vagner, Leiria, Tomé, Vítor Baptista, Guerreiro, Pedras, Figueiredo, Arcanjo, José Torres, Duda, Mirobaldo, Petita, Jacinto João e tantos outros.
Futebolistas de altíssima qualidade, que fazia o Vitória Futebol Clube ser temido e respeitado cá dentro e por essa Europa fora.
Aos pés do Vitória tombaram equipas de nomeada e gabarito, tais como Leeds United, Anderlecht, Liverpool, Inter de Milão, Spartak de Moscovo, Hadjuk Split, Fiorentina.
Continuamos para a semana.