Ex-trabalhadores recordam antiga Renault em almoço-convívio

Ex-trabalhadores recordam antiga Renault em almoço-convívio

Ex-trabalhadores recordam antiga Renault em almoço-convívio

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Bom ambiente de trabalho e produção inovadora são destacados pelos ex-trabalhadores da fábrica setubalense

 

Cerca de 160 ex-trabalhadores da antiga fábrica da Renault em Setúbal reuniram-se para um almoço-convívio, no sábado, procurando recuperar as vivências profissionais e os laços emotivos que ali se viveram ao longo de 18 anos, entre 1980 e 1998, naquela que foi uma unidade modelo da marca de automóveis francesa na Europa.

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O encontro decorreu pela primeira vez no espaço da antiga fábrica, que integra hoje o parque empresarial BlueBiz, gerido pela aicep Global Parques, no Vale da Rosa.

À porta dos actuais escritórios do Bluebiz muitos são os que se deixam levar pelas vivas recordações daqueles tempos, a começar por José Carlos Gomes, que em 1996 assumiu o papel de primeiro e último director-geral português em funções na Renault.

“Como era o funcionário mais antigo e tinha mais experiência, fui escolhido e mantive-me cá até ao encerramento da empresa”, numa altura em que o director interino regressa a França e o Estado português assume o processo da fábrica, começa por recordar ao DIÁRIO DA REGIÃO.

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Na fábrica ficaram cerca de 600 trabalhadores a produzir o célebre Renault Clio. Muito menos do que os 1.400 que chegaram a assegurar três turnos. “Isto tinha uma actividade brutal. Nós estávamos aqui uma média de 12 horas por dia e chegávamos a fazer 350 carros por dia. Mais de 600 mil carros em 18 anos”, garante João Serôdio, antigo director de produção.

Tal como José Carlos Gomes, que antes de ser director-geral foi chefe de várias secções, João Serôdio, 62 anos, cresceu dentro da empresa, para onde entrou em 1980. “Comecei como chefe de secção, passei a ser responsável da produção e saí daqui como chefe de qualidade. Profissionalmente foi uma experiência muito grande, permitiu-me conhecer todas as fábricas da Renault na Europa”.

Hoje, é um dos muitos funcionários já reformados que olham com nostalgia para os edifícios da antiga fábrica, que para o ano fará vinte anos que encerrou em Setúbal. Onde agora existem instalações vazias, com paredes repletas de história, laboraram grandes equipamentos e centenas de funcionários na construção de automóveis.

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A fábrica começou por produzir o modelo R5 e em 1981 teve início a produção de componentes automóveis na unidade da Renault em Cacia, Aveiro, capaz de produzir 80 mil caixas de velocidade e 220 mil motores por ano (e que ainda existe). Aplicando métodos de trabalho e equipamentos inovadores para a época, a fábrica da marca francesa em Setúbal representou a criação de um complexo automóvel dinâmico, essencial à modernização da indústria da região e do país.

Mas a alegada falta de capacidade para produzir o modelo Clio numa escala maior, cerca de mil unidades por dia, “como as outras fábricas faziam ”, pode ter ditado o seu encerramento. “Além disso, a Renault tinha aberto uma fábrica nova na Jugoslávia com mão de obra mais barata e com pessoas mais novas”, constata o antigo director-geral José Carlos Gomes.

As portas da unidade fabril viriam a fechar a 31 de Julho de 1998, mas durante os dois anos que antecederam o fecho cerca de 600 trabalhadores ainda se mantiveram ali a produzir automóveis. “O mais dramático foi quando desactivámos as linhas todas” e os postos de trabalho desapareceram, acrescenta José Bastos, 59 anos, que começou como electricista e continuou como técnico de manutenção.

EQUIPA RENAULT. João Serôdio (à esq.), Natália Cardoso, Natividade Rala (ao centro), José Carlos Gomes e José Bastos

Entretanto, a empresa havia criado um gabinete de apoio aos desempregados e foi aí que Natividade Rala, funcionária administrativa, viveu um “marco muito forte” na sua vida. “Esse gabinete começou a funcionar cerca de um mês antes de a Renault fechar” – conta –, e a administração da empresa prolongou-lhe a vida até ao final do ano. “Nesse período recebemos vários colaboradores com problemas de adaptação à casa, ao vazio, ao desemprego. Foi traumático na região de Setúbal”, revela Natividade.

O processo foi contudo pacífico para a maioria, que saiu com direito a indemnizações e com uma experiência profissional capaz de abrir muitas portas no mercado de trabalho que, na altura, acabou por absorver muitos daqueles ex-trabalhadores. Só duas pessoas se mantiveram naquele local até hoje, integradas na aicep Global Parques.

“Sinto-me Renault quando chego a um almoço destes. Foram muitos anos aqui e muitos anos de trabalho. Sentimos que efectivamente a Renault foi uma família e tenho a certeza de que os colaboradores não encontraram outra fábrica como a Renault”, reforça Natividade Rala.

Foi precisamente para juntar toda a gente, dos operários aos quadros superiores, num momento de preservação de boas memórias, que há sete anos José Colaço, antigo responsável pela área de energia e fluídos, decidiu organizar estes encontros anuais. “Há aqui pessoas que vieram pela primeira vez desde há 20 anos”, diz. Com todos eles foi partilhado o bolo do sétimo almoço de ex-trabalhadores da Renault, no final da tarde de sábado.

Fotografias: João Serôdio
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