29 Junho 2024, Sábado

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Paulo de Carvalho: “A revolução cultural ainda não foi feita!”

Paulo de Carvalho: “A revolução cultural ainda não foi feita!”

Paulo de Carvalho: “A revolução cultural ainda não foi feita!”

Fotografia: Jaime Seródio - Esta é a foto da capa do CD "Paulo"

Paulo de Carvalho, o icónico intérprete da primeira senha do 25 de Abril, vai celebrar a Liberdade em Alcácer do Sal, num concerto online, gravado no passado dia 14, no Auditório Municipal daquela cidade, o qual será emitido via facebook da Câmara, a partir das 22h40 do dia 24.

Uma liberdade confinada, “no mínimo, estranha”, conforme confiou a O SETUBALENSE o cantor, cuja actuação comporta o seu habitual reportório, culminando, naturalmente, com a canção “E Depois do Adeus”.

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“Eu não mudo o meu reportório por ser Abril. O meu reportório é aquele e o ‘E Depois do Adeus’ é uma das cantigas que eu canto sempre”, salientou, convicto.

Ou seja, o 25 de Abril está sempre em todos os teus reportórios?

Eu sou a pessoa que sou, não mudei por causa do 25 de Abril. Os meus princípios são os mesmos.

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O que significa, para ti, celebrar a liberdade confinado?

É, no mínimo, muito estranho. A nossa vida tem sido muito estranha, de há quase dois anos para cá. Sobretudo, porque estamos habituados a que o que fazemos é para as pessoas, cantamos para as pessoas e, de repente, vimo-nos a cantar para o ‘boneco’, como se costuma dizer.

Estas coisas do online são muito interessantes, é uma forma de respondermos aos problemas que estamos a viver, mas não deixa de ser uma maçada estarmos a cantar para uma máquina.

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Eu, por acaso, até tenho esse hábito por causa das actuações para as televisões, porque muitas vezes nos estúdios não está ninguém, a não ser quem está a trabalhar com as câmaras… E uma gravação com aplausos… Não, nem isso. Nós estamos a fazer o nosso trabalho, mas temos que nos habituar a formas diferentes. É isso que tenho feito nos últimos tempos.

Não há reacção do público, de grande importância para qualquer artista.

Pois não há público!

É, de facto, muito estranho celebrar a Liberdade em segurança, como se diz, quando, no fundo, é uma liberdade sem liberdade.

Isso levar-nos-ia a outro tipo de questões que não são, de facto, as de um espectáculo do 25 de Abril. O que é que é a liberdade? Que liberdade é que nós temos? O que é que é a democracia em que aparentemente vivemos? Eu continuo a dizer que a verdadeira revolução, que é a cultural, ainda não foi feita.

É certo que vivemos melhor, até temos bons telemóveis, mas daí a vivermos numa autêntica democracia ainda falta um bocado.

Na realidade, a cultura tem ficado sempre na cauda das prioridades em Portugal.

A cultura faz as pessoas pensar e o poder não gosta que as pessoas pensem.

Apesar de tudo, achas que foi bom o recente aumento para 30% de obrigatoriedade de passagem de música portuguesa nas rádios?

Por uma questão de solidariedade para comigo e para com os meus companheiros, não me custa estar de acordo, mas não vai resolver nada. Lembro-me que na Assembleia da República, em 1978, se não me engano, éramos 13 a reivindicar mais tempo, ele aumentou para 70% e não se passou nada. De resto, se nós quisermos ser correctos, essa é uma medida antidemocrática.

Tu não podes impor uma coisa dessas numa democracia. Nós, os ‘portugas’, não gostamos de nós próprios, não é por aí. Embora muitos de nós gostemos, não se pode generalizar.

Não se pode tomar o todo pelas partes.

Na maior parte do meio artístico, as pessoas pensam na sua vidinha e estão-se nas tintas para o colectivo. Só quando há problemas como este da covid é que se lembram que estão um ano inteiro sem trabalhar e sem ganhar dinheiro.

Os artistas, que necessitam de público, são os que mais têm sofrido neste ano…

Não, necessariamente. Há muita gente a sofrer, não são só os artistas. Os artistas, enfim, dão mais nas vistas. Mas há muita gente que está em risco de perder a casa ou a não poder pagar a renda.

E não estou a ver como é que vai ser resolvido esse problema económico.

Esse só vai ser resolvido quando voltarmos ao princípio, daqui a dois ou três anos. Eu não digo nada da minha situação. Por dois motivos: primeiro, porque sei que deve haver muito mais gente que está muito mais aflita que eu. Segundo, porque é, para mim, impensável partilhar seja o que for da minha vida privada nas redes sociais, até porque a maioria dos portugueses vem logo com aquele comentário ‘olha, este, é rico e vem agora para aqui queixar-se’. Não dou esse flanco às pessoas.

“60 anos de cantigas e 75 de idade”

Passando a assuntos mais positivos, quisemos, saber quais os projectos imediatos de ‘A Voz’, como é conhecido Paulo de Carvalho, entre os melómanos. Vivamente entusiasmado, enumerou:

“Então, para o ano faço ‘60 Anos de Cantigas’, é assim mesmo que se vai chamar. Em Setembro, há uma série de espectáculos por Portugal fora e está tudo a tratar-se já. Neste momento, pelo confinamento, tenho um disco que acabou de sair, só de voz e piano, que se chama apenas ‘Paulo’ e tenho outro a gravar.

Estou a preparar-me para negociar com as editoras, principalmente, com as editoras, principalmente com aquela que tem feito sair os meus discos. Depois, entre outros projectos para 2022, existe o lançamento de um livro.

Há uma série de coisas que eu penso que podem vir a ser importantes – pelo menos, para mim são – e estou a tentar concretizar essas ideias. Mas o principal são ’60 Anos de Cantigas e 75 de Idade’. É uma vida inteira!”

Entretanto, a Sociedade Portuguesa de Autores, em vez da sua habitual gala anual, vai promover, na primeira quinzena de Novembro próximo, um grande concerto na Aula Magna da Reitoria, com transmissão por um canal privado de televisão, de homenagem a Paulo de Carvalho e à sua obra, na altura em que o cantor-autor, que é membro da sua Direcção, celebra 60 anos de carreira.

Este ano ainda, no dia 25 de Maio, Dia do Autor Português, Paulo de Carvalho receberá, na Galeria Carlos Paredes, o Prémio de Consagração de Carreira, um dos galardões mais importantes da SPA, que, entretanto, decidiu também apoiar a candidatura do autor da música de “Lisboa, Menina e Moça”, ao Grammy Latino, que já distinguiu Carlos do Carmo e José Cid. “Sim, este ano é o ano de homenagem a mim, não gosto de falar na terceira pessoa (risos)!”, rematou.

Câmara Municipal transmite espectáculo e outras iniciativas

As iniciativas online serão transmitidas na página de facebook da Câmara Municipal de Alcácer do Sal » https://www.facebook.com/CMAlcacerdosal, onde pode ser consultado, igualmente, todo o programa das festividades.

De destacar, à meia-noite do dia 24, o fogo de artifício em diversos locais do concelho e no dia 25, pelas 21H30, igualmente online, o concerto “A Madrugada e o Dia Seguinte”.

O autor não segue o Novo Acordo Ortográfico

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