Celebraremos este fim de semana mais um ano de liberdade, 47 no total.
Todos os anos relembramos a coragem e a ousadia de um grupo de jovens capitães que motivaram os seus homens a participar em algo que se viria a tornar no dia da liberdade. O dia em que terminou um período negro da história do nosso país, onde a maioria da população via ser-lhes negados os direitos mais básicos como cidadãos e como seres humanos, que viam a juventude ser arrastada para uma guerra injusta, que não tinha liberdade para se expressar ou mesmo para pensar. Creio que a maioria dos homens que nessa madrugada saíram dos seus quartéis não tinham a noção concreta dos resultados que as suas heroicas acções viriam a ter, e tão pouco saberiam se iriam ter sucesso, no entanto estavam bem conscientes do que lhes esperaria caso falhassem. E é isso que torna as suas acções tão merecedoras do reconhecimento de toda uma nação.
Nunca será demais relembrarmos esta data, mesmo após tantos anos já terem passado e podendo haver a tentação de alguns em tentar considerar as celebrações do 25 de Abril anacrónicas e sem sentido. A liberdade tem de ser um valor celebrado e vivido diariamente, e a sua importância tem de ser transmitida imperativamente às gerações mais novas.
A ditadura, a censura, a repressão, os condicionamentos às liberdades individuais não podem ser conceitos abstratos referidos apenas num parágrafo de um manual escolar. Temos o dever de explicar e mostrar aos mais novos quais as consequências reais de viver num regime que nega os direitos e as liberdades às suas populações. E infelizmente há por esse mundo fora tantos exemplos de países onde milhões de seres humanos não podem viver livremente.
Sou um filho de Abril, tinha apenas seis meses quando se deu a revolução dos cravos, por isso e apesar de não saber o que é viver sob o jugo de uma ditadura, sei o que a liberdade e a democracia nos proporcionaram. Lembro-me bem como era o nosso país na minha infância, do atraso estrutural que tínhamos relativamente aos restantes países europeus, da falta de infraestruturas, escolas, hospitais, etc. Tenho consciência do desenvolvimento que com o regime democrático conseguimos atingir. É preciso muita imaginação para que alguns saudosistas consigam inventar argumentos que consigam denegrir tudo o que foi conseguido com o esforço de todos os portugueses desde que conquistámos a liberdade e a democracia.
Sei porém que muito ainda tem de ser feito. Um país não é um projecto com data de conclusão e com caderno de encargos fixo e definido. O progresso e o desenvolvimento de um país é um processo contínuo, com avanços e com recuos, com sucessos e com erros. Mas deveremos ter bem presente que o sucesso, o progresso e o desenvolvimento só poderão ser alcançados se estiverem alicerçados na democracia e na liberdade.
É por isso que agora, como nos primeiros anos do nosso regime democrático, temos de celebrar Abril e a liberdade. Por todos os que lutaram antes e depois da revolução. Por todos que participaram e irão participar na construção de um país mais justo. Por todos aqueles que por todo o mundo lutam pela liberdade.
Viva o 25 de Abril. Viva a liberdade. Viva a democracia.