28 Junho 2024, Sexta-feira

- PUB -
Barreiro, “o bastião da luta” e primeiro Centro de Trabalho do PCP

Barreiro, “o bastião da luta” e primeiro Centro de Trabalho do PCP

Barreiro, “o bastião da luta” e primeiro Centro de Trabalho do PCP

Vitor Santos

Na mais recente localização do centro relembram-se histórias e pensamentos de alguns militantes do partido sobre a importância que este edifício teve após o 25 de Abril

 

O primeiro Centro de Trabalho do Partido Comunista Português (PCP) surgiu no Barreiro, em pleno ano da Revolução. Com primeira morada na Rua Eusébio Leão, foi inaugurado no dia 30 de Abril de 1974, tendo, um mês depois, sido transferido para a Rua Vasco da Gama, também no centro daquela cidade.

- PUB -

Os responsáveis pela procura do local foram dois dos antigos presidentes da Câmara do Barreiro. Pedro Canário, um dos responsáveis, conta que o centro surgiu por instruções da direcção do partido e “foi juntamente com Hélder Madeira que foi falar com Albino Macedo, que era dono do chalé e que [o] cedeu por um tempo limitado porque eles queriam tentar vender” aquele espaço.

Sem a possibilidade de visitar o local originário, que é actualmente um prédio de habitação, o que podemos conhecer desse primeiro centro remete-nos para a descrição fornecida sobre os primeiros momentos daquela sede partidária. Na altura, colocou-se “algum mobiliário, muito escasso, uma faixa na água-furtada [virada] para a rua a dizer “Viva a classe operária” e dentro do edifício a bandeira do partido”, recorda Pedro Canário.

A razão da bandeira ter sido apenas colocada no interior do centro prende-se com a tentativa de compreender a situação, o que “era natural, pois, o Partido Comunista tinha um histórico de cuidados e desconfiança em relação à polícia e, portanto, as coisas a nível político não estavam muito clarificadas”, complementa o ex-presidente da autarquia.

- PUB -

Recorda também o momento em que foi necessário arranjar materiais para vender, com o objectivo de conseguir dinheiro para as despesas e obras. “Houve um grupo de militantes que veio arranjar aquilo, [arranjou-se] uma sala para reuniões, uma sala ficou para trabalhos manuais porque estávamos perto do 1.º de Maio e era preciso fazer bandeiras para a manifestação, e esta foi das primeiras acções de propaganda que foram feitas na sede”, afirma.

“Estivemos ali cerca de um mês naquele centro (…) e depois viemos para esta rua (Rua Vasco da Gama) um pouco mais à frente do actual Centro de Trabalho, onde arranjámos instalações maiores”, disse. “Era um rés-do-chão grande com uma cave [onde] fizemos as divisórias”, explica.

A decisão do Centro de Trabalho não foi planeada com antecedência e até foi extremamente rápida. “O partido, cinco dias antes, estava na clandestinidade, nem sabia”, conta. O Barreiro foi a escolha para este “grande passo” por parte do Partido Comunista Português, pelo seu contexto histórico e importância política.

- PUB -

“O Barreiro era o bastião da luta. Ganhou as eleições de 69, a esquerda derrotou a União Nacional”, lembra o ex-presidente do município.

Na altura, a cidade era reconhecida pela força do seu movimento associativo, relacionado com o papel que a CUF desempenhava. “Sentíamos que o Barreiro era um conjunto de pessoas com grande consciência política”, refere Vitor Santos, membro dos organismos executivos do PCP. “Uma das maiores células do partido foi aqui no Barreiro, a célula operária da CUF chegou a ter, segundo aquilo que me disseram, à volta de 1 500 trabalhadores”, destaca.

“As pessoas correram ao centro como se fosse uma festa”

Ana Cristina Ameixas, militante base do PCP, ligada ao trabalho jovem e das mulheres, relembra com emoção a abertura da sede. “As pessoas correram ao Centro de Trabalho como se fosse uma festa”, relembra. “A abertura do centro é para mim como se nos tivessem tirado uma mordaça, finalmente, tínhamos voz e podíamos falar. O sentimento de liberdade é uma coisa quase indescritível”, acrescenta.

O centro chegou a ser caracterizado como “o local onde se trabalha, se briga uns com os outros e se mobiliza pessoas para a luta”, salienta. “É uma casa de fraternidade”, classificou Cristina Ameixas.

Eduardo Lopes, membro dos Organismos Executivos do PCP no Barreiro, acrescenta que mesmo com a possibilidade de se discordar uns dos outros, “no fundo temos uma grande cumplicidade entre todos”, sendo esta a razão para a criação do Centro de Trabalho. “Esta ânsia de se abrir um [espaço] para nos organizarmos, estarmos a conviver e a discutir os problemas era uma coisa que via este sentimento [de] o mais depressa possível começarmos a desenvolver a nossa intervenção política”, explica Vitor Santos.

Os militantes reconhecem que a organização do PCP, com a abertura do Centro de Trabalho cresceu exponencialmente. “Houve milhares e milhares de pessoas aqui no Barreiro que se inscreveram e muitas delas foram militantes ativos”, menciona Pedro Canário.

Antes do 25 de Abril e devido à obrigação do Partido em se manter na clandestinidade, assistia-se ao fenómeno de “frente de trabalho unitária”. Nesse período, existiam militantes “diluídos na organização do movimento que estavam lá com outras pessoas, tínhamos várias casas em que continuamos a estar presentes”, adianta Eduardo Lopes. “Não abandonámos o movimento associativo, mas no fundo era o Centro de Trabalho que acabava por chamar as pessoas”, realça.

Pedro Canário refere também que não importa o local, o exemplo que um militante deve dar prende-se com o “fazer” e saber se as pessoas “acham que as nossas posições são boas, são válidas”.

Quando questionados sobre a razão pela qual se tornaram militantes do PCP, todos mostram ter razões fundamentadas nos mesmos ideais. Cristina Ameixas considera: “é difícil estar num meio onde vemos as pessoas serem exploradas, a pobreza, a desigualdade e isto não tocar as pessoas, não nos tocar”. Em seguida, salientou: “não nos fazer crer que as coisas sejam diferentes e que as coisas melhorem”. Por sua vez, para Pedro Canário, é de extrema importância compreender que no Barreiro antes da revolução “respiravam-se duas coisas: repressão e subversão”. Logo, “para ser-se comunista não era preciso estar com grandes leituras”, pois “entrava pela pele”, conclui.

Partilhe esta notícia
- PUB -

Notícias Relacionadas

- PUB -
- PUB -