Pela primeira vez na história mundial a mais alta figura do clero, o papa, visitou o Iraque, um país dividido, sob fogo e estrangulamento reiterado das forças do Estado islâmico. Não obstante, a fé e a esperança em alcançar a paz social e humana, sobrepôs-se a interesses individuais, daqueles que pretendem furtar, matar e gerar guerra atrás de guerra. Não pode existir legitimidade para proclamar o nome de Deus enquanto se caminha pulverizando a destruição e ruína, latu sensu.
Papa Francisco, nas suas palavras, apelou à defesa da comunidade cristã, bem como, incitou o diálogo inter-religiões, sendo um modus operandi que devolverá paz não só ao país, como em todo o médio oriente. Sem humanidade e solidariedade o caminho será mais ténuo, vazio e potenciará mais conflitos armados, revoltas e atentados aos bens jurídicos coletivos e individuais.
Esta comunidade “martirizada” tem sido marcada nas últimas décadas pelo terrorismo, guerra, sendo medular que todos os Estados pelo mundo contribuam com a sua quota parte de solidariedade, através não só da ONU, tal como, por via de uma cooperação universal de combate às desigualdades, defesa dos direitos humanos, de promoção de um Estado De Direito e Democrático. Desta forma, será possível que exista uma imunidade efetiva jurídica que reconduza os seus cidadãos a condições para a convivência comunitária e ao seu livre desenvolvimento, sem correntes, sem limitações da sua liberdade, tornando assim a utopia mais perto da realidade material a atingir, uma vez que segundo a teoria de Talião não chegaremos à conciliação armistício, isto é, “olho por olho, dente por dente”. Este princípio anacrónico de justiça não pode ser o traçado nos dias de hoje, mas sim a doutrina da reintegração na sociedade, socialização, sem embargo de quando necessário neutralizar a perigosidade de um determinado agente, por forma a proteger bens jurídicos essenciais, como a vida, artigo 24 CRP(Constituição da República Portuguesa), preservando-se assim a dignidade penal e da pessoa humana.
A fluidez social não está ausente, grita por auxílio e com esperança na mudança e transformação de um paradigma negro e sugador das convicções e juízos, provenientes da liberdade de expressão e autonomia do ser humano, garantias estas, hipotecas e penhoradas por aqueles que incitam ao ódio e à violência, promovendo uma anarquia e o branqueamento da crença, sendo o apanágio de puder respirar e ter coração, o de ainda ser tempo de agir e de despertar uma realidade que considero mutável.
O poder simbólico da visita do papa ao Iraque é a prova clara que é possível ser readquirida a paz social e humana que aquelas pessoas inocentes merecem, tal como, respeitar e integrar as minorias e não as segregar ao sabor da sua própria maré.
Papa Francisco ao ter-se reunido e dialogado com Al-Sistani é a evidência de que foi tentada a criação de uma proximidade entre os católicos e muçulmanos, pois a tolerância e respeito é a fórmula que trará mais vida, mais segurança, mais paz, uma vez que todas as nações são plurais, sendo esse coeficiente imutável. Neste dia tão marcante, foi assinada uma declaração de fraternidade, garantindo-se deste modo, o cultivo do mútuo respeito pelas diferenças que marcam as distintas religiões.
As “feridas humanas” que até agora fazem parte das cicatrizes de muitos, foram cobertas por um manto de futuro pacífico e construtivo, tornando-se a égide do caminho da cura e do “calar das armas”.
Termino com uma frase de Papa Francisco, “Hoje, apesar de tudo, reafirmamos a nossa convicção de que a fraternidade é mais forte que o fratricídio, que a esperança é mais forte que a morte, que a paz é mais forte que a guerra”.